domingo, dezembro 31, 2023

O jornalismo de fretes vai ganhar as eleições?

 No CM de hoje, a revista tem uma "revista do ano" e no capítulo "tv&media" Eduardo Cintra Torres tem este artigo:






Como se dá conta, há problemas sérios com diversos "orgãos de comunicação social", tal como os que dependem da Global Media que já foi de um Marco Galinha e agora anda todo engalinhado em esquemas manhosos para tentar sobreviver. Do grupo fazem parte o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias, além da TSF. Sobre este Jornal de Notícias os jornalistas da foto junta mostram gente nova, certamente saída das madrassas do jornalismo nacional e que tão bem formam as novas gerações. Formam tão bem que estão no desemprego por causa da falta de leitores. 
Razões? Várias, mas suspeito que nenhuma delas será a de admitirem a mediocridade do jornalismo que praticam e o desfasamento em relação à realidade vivida por todos. Nesse jornalismo domina o politicamente correcto, o enviesamento à esquerda e a militância contra a "extrema-direita", um dos leit-motivs da esquerda que o jornalismo nacional adoptou como causa. 
O Diário de Notícias pelos vistos venderá pouco mais de mil exemplares. Quantos venderá o Público que nem aparece neste rol, uma vez que é produto subsidiado integralmente pela SONAE? 
Por falar no Público, na última página alternando com a prosa de uma Maria do Carmo Afonso, inenarrável, reside o cronista João Miguel Tavares que ontem tinha esta crónica sobre o mesmo assunto:



Fala num tal José Paulo Fafe, apelidando-o de "espalha-brasas" . Este indivíduo que andou pelo Brasil,  retomou o Tal&Qual para usar o jornal como arma de arremesso contra alvos concretos: a ERC, Ana Gomes e o juiz Carlos Alexandre. Curiosamente todos considerados inimigos de José Sócrates que no jornal encontra refúgio habitual de escrita contra aqueles ou outros, como o Ministério Público. Aliás, o outro local de refúgio para as investidas ocasionais é o mesmo Diário de Notícias que agora está em vias de fechar portas, por falência. 
O Diário de Notícias tem um acervo arquivístico muito importante e histórico. Sendo um dos jornais mais antigos do país, guarda exemplares de há cem anos a esta parte. 
Por iniciativa editorial de alguns anos a esta parte consagra duas páginas a reproduções de notícias antigas em fac-simile. Porém, decidiram começar pelos primórdios, e ainda nem chegaram ao tempo de Salazar...o que não deixa de ser curioso porque o interesse maior, para os leitores, seria exactamente tal período que levará anos a ser abrangido pela mostra em curso. 
Quanto ao Tal & Qual diz ainda o cronista do Público que não se conhecem os verdadeiros donos do jornal e que agora pertencerá a um "fundo nas Bahamas". Fundo esse que estará disposto a esportular milhões de euros para a cruzada em causa, porque a conta calada já será superior a 500 mil euros de dívida. Para quem tem dinheiro à sombra das ilhas offshore, em nome de outrém, é coisa mixuruca e a causa vale o esforço.
De repente apetece pensar quem será mesmo o principal financiador da aventura...e que são certamente amigos daquele ex-44, muito dado a esquemas deste género. Quanto ao JN já foi dirigido por outro amigão de nome Camões, o que se dizia um general prussiano ao serviço do ex-44...

É disto que temos nos media em Portugal e por isso não admira que estejam todos falidos. Enquanto houver dinheiro...lá continuarão a sua guerra de trincheiras, com generais prussianos travestidos de directores de jornais e de informação, mormente na RTP, SIC, TVI e CNN-Portugal. 
Portanto, quase todos os media, uma vez que o Público não destoa da manada...e o outro lembra-se agora de pedir maior escrutínio que aliás nunca fez. Escreve no Público e comenta num desses canais de tv. Logo...

sábado, dezembro 30, 2023

Atenção: a censura antiga está aí!

 Observador e Correio da Manhã:






Repare-se no teor da notícia, acompanhada aliás pelos comentários da "repórter" no local, numa ocorrência gravíssima que carece de mais informações que não são dadas pelos jornalistas, apesar destes saberem muito bem do que se trata e de quem se trata. 
Não há nenhum Pacheco Pereira ou Van Dunem que não se interrogue imediatamente sobre se este assunto grave tem a ver com guerras de gangs ou envolvendo certas etnias, como pretos ou ciganos. Nenhuma pessoa que lê isto, nenhuma mesma, deixa de pensar em tal hipótese. Os jornalistas sabem perfeitamente que assim é e sabem também a resposta a tal curiosidade banal e prosaica. 

Mesmo assim, nenhum jornalista, principalmente dos destacados estagiários ou precários que vão ao local "cobrir" o acontecimento se atreve a mencionar as palavras proibidas. 
No mesmo momento em que o fizerem ficarão virtualmente sem emprego e possivelmente com um processo crime por incitamento ao ódio, racista ou não...
Assim,  inventam a expressão "grupo de indivíduos" como o eufemismo adequado e asseptizado para descrever o que se passou relativamente às pessoas envolvidas. 
É isto que fizemos de Portugal e os que votam no Chega percebem isto perfeitamente. Só não percebe quem não quer, como os tais Pachecos Pereiras e van dunems...

A censura é exactamente a mesma que existia antes de 25 de Abril relativamente a mencionar o partido comunista ou certos eventos que fossem considerados "subversivos" para o regime. 

Portanto é evidente que existe censura em Portugal, com o mesmo sentido que dantes existia, apenas com a versão actualizada e adaptada aos tempos que correm, das marias do carmo afonso e outras abéculas que pululam nos media. 

ADITAMENTO:

O CM de hoje, último dia do ano, apresenta um retrato sociológico aprimorado e involuntário do meio em que ocorreram os factos relatados. Só em imagens se nota a principal característica do "grupo de indivíduos" envolvido no tiroteio mortal. No texto apresentam-se factos relevantes que mostram a completa ausência de senso comum, pautada pela ideologia politicamente correcta que anima os políticos e jornalistas aliados e comprometidos. A presidente da Câmara local, a socialista filha do maestro Victorino d´Almeida, chegou a afirmar que aquele sítio é "maravilhoso" até que "eu própria amanhã ia viver para o Bairro Amarelo"...
Por outro lado, o policiamento faz-se com a GNR que na altura da ocorrência tinha três elementos, três elementos, repito, no posto e  de serviço. E um dos GNR até adiantou que "até é um bom número para o que é habitual", ou seja por vezes deve andar por lá um ou dois, ou mesmo nenhum se algum deles tiver necessidade de se afastar. 

O número de ocorrências de violência criminal, com assaltos, mortos e feridos não é despiciendo, e quase todos os meses há ataques a tiro e assaltos. "Cinco homicídios na mesma rua do Monte da Caparica, desde o início deste ano"! , escreve o CM. 
Aliás, na mesmíssima altura em que os elementos da GNR, provavelmente dois, porque um terá certamente ficado no posto, se dirigiram, no "jipe" habitual, para tomar conta da "ocorrência", ocorreu mais um assalto, um roubo a cerca de 500 metros do local, com um "assaltante encapuzado". 

O que diria disto o ministro da Administração Interna ou o Governo que está? O mesmo que a tal filha do maestro...porque a laia é a mesma, a da parvoíce institucionalizada uma vez que isto não tem outra classificação corrente. O indivíduo, tido como um político com currículo para liderar o PS até disse que "Portugal é um país pacífico e seguro. E tem de continuar a ser". É certamente por isso que o posto da GNR do Monte da Caparica tem três elementos, num "bom dia"...prontos para eventualidades deste teor e para tomar "conta das ocorrências". 

Não é preciso ser sociólogo e muito menos do ISCTE para perceber que tudo isto está errado e esta ideologia de loucos varridos que impede de se contar a realidade tal como vivida pelas pessoas comuns, vai dar sempre no mesmo: no reforço dos radicalismos. De Direita, porque a Esquerda é quem fomenta esta utopia maluca e sem sentido algum com a realidade. 
Tudo em nome de um ideologia perversa, de um humanismo balofo que se sustenta com a negação da realidade em nome da utopia. Que sabem perfeitamente que o é, mas preferem ignorar que o seja, porque é mais apelativa do que ver a realidade como ela é. Uma loucura institucionalizada em ideologia, tal como era o extremismo maoista e outros que demoraram muito tempo a reconhecer como tal.





Portugueses: judeus e árabes na pele de cristãos

 Há um pouco mais de trinta anos, o Público de 1 de Fevereiro de 1991 publicou um apontamento ilustrado com depoimentos de especialistas da época na sociologia e etnologia a fim de demonstrar que os portugueses são geneticamente descendentes dos árabes e judeus, sem grande distinção e numa mistura etnográfica de séculos que se desvaneceu nos últimos. O estudo tinha o contexto da guerra então em curso no Iraque, com participação directa dos EUA, julgados como estranhos a tal mistura...







O literato e ensaísta António José Saraiva também tinha a sua opinião, porventura mais fundamentada que a de muitos outros:


No tempo mais antigo de Oliveira Martins que estudou o assunto da História de Portugal na Idade Média, o assunto dos judeus era assim apresentado, na obra Os Filhos de D. João I que desconheço se ainda é lido nas universidades. Uma coisa parece certa: nenhum dos jornalistas actuais, formados nas madrassas das Ciências de Comunicação, orientados por antigos jornalistas, devem saber do que se trata...
 








sexta-feira, dezembro 29, 2023

Onde estão os processos disciplinares aos advogados palradores?

 A bastonária da Ordem dos Advogados deu uma entrevista ao Sol em que é claríssima relativamente aos advogados que comentam casos concretos em que intervêm na defesa de clientes, muitas vezes em directo e após actos processuais. É tão clara quanto a hipocrisia que exala a esse respeito, na entrevista:


O que diz é claro: os advogados não podem pronunciar-se publicamente sobre tais casos, sem autorização prévia da Ordem. Algum deles, alguma vez pediu tal autorização? 

Então que é feito dos processos disciplinares aos advogados o do tipo Manuel Magalhães e Silva, useiro e vezeiro nestes abusos e campeão dessa impunidade, tal como outros como Ricardo Sá Fernandes ou Tiago Barbosa Ribeiro?


O Governo dos despautérios

 O Governo que ainda está fez isto recentemente, de acordo com o Sol desta semana:



Os angolanos queriam um museu para poderem mostrar e dizer mal dos portugueses que por lá passaram nos últimos 500 anos e lhes deixaram o sítio onde o querem construir.

O desejo de dizer mal dos portugueses e de acompanhar a moda de cancelamento histórico e wokismo vigente, não vinha acompanhado das verbas necessárias para tal. Assim, em pleno acordo com o Governo que está, arranjaram modo de ser o Governo português, ou seja o povo português, a financiar tal museu, construído numa fortaleza portuguesa do séc. XVIII e nacionalizada para acabar em ruínas, como se vê. 

O Governo que está, no ministério de um anão político e intelectualmente estúpido, fez a vontade aos angolanos de quererem mostrar e dizer mal dos portugueses, incluindo o anão e seus antepassados jacobinos que tudo fizeram para manter Angola sob a alçada portuguesa, nomeadamente o celerado Affonso Costa. 

É difícil encontrar maior estupidez do que isto...mas não impossível: Depois de em 2021 este mesmo Governo considerar muito importante celebrar os 500 anos do nascimento de Luís de Camões, o autor dos Lusíadas que narram a gesta nacional dos Descobrimentos, incluindo Angola, e a sua conquista como território nacional, esqueceram-se de guardar verba para tal. Por isso a comissão que se organizou oficialmente para "celebrar o contributo [de Camões] para a história da literatura e da língua portuguesa", não tem cheta para o efeito. 

Para os angolanos dizerem mal de nós houve dinheiro e sem questões de permeio: 34 milhões, oferecidos para tal!

Esta gente é mentecapta ou apenas anti-pátria, por nem terem noção do que isso seja? Aposto nesta última hipótese. 

Será que isto vai passar sem comentários de quem quer que seja que se indigne um pouco com esta miséria moral?

quinta-feira, dezembro 28, 2023

Os grandes educadores da classe dos otários

 A revista Sábado desta semana, pelas teclas de Tiago Carrasco ( com este perfil e um perfeito exemplo do jornalismo falido, em Portugal, porque militante de ideias feitas à esquerda) , publica mais um pequeno apontamento sobre as "últimas badaladas do regime", em 1973, colocando um grande foco nos pequenos movimentos e seitas da extrema-esquerda de então, pululantes nos meios universitários e conspirações de café. O destaque do artigo vai todo para as palavras empenhadas de Pacheco Pereira, um dos próceres de tais movimentos que acreditavam nas virtudes do maoismo, como futuro promissor de grande progresso para Portugal. Umas inteligências!

A seguir ao golpe de 25 de Abril de 1974 abriu-se a cloaca e toda essa gente transbordou o que lhe inundava o bestunto ensopado nas leituras apressadas do marxismo-leninismo-maoismo, na maioria importadas de França.  

Ninguém conseguirá entender o nosso país e fenómenos como o do tal Pacheco Pereira, que complementa a reforma com artigos de opinião ( na Sábado por exemplo) e intervenções televisivas, asseguradas pelo status quo que ajudou a sedimentar no país e continua a alimentar através da velha vaca leiteira ideológica.

Torna-se por isso importante desmistificar este tipo de artigos laudatórios, sem qualquer espírito crítico e sem o contexto, para além do ambiente do fassismo, da "ditadura" e da opinião unificada mediaticamente sobre o que se passou no nosso país há 50 anos a esta parte.


A História não é apenas esta versão apresentada pelos Carrascos que aprenderam a lição nas madrassas das escolas de comunicação social, dirigidas precisamente por esta gente aqui retratada e cuja ideologia básica nunca abandonaram. Assim, os Carrascos limitam-se a dar continuidade acrítica à récita mediaticamente comum e que pretendem impôr como a realidade histórica comprovada...


 





Há outro modo de olhar para este fenómeno apresentado de modo simpático e assim como uma aventura do passado romântico de alguns dos protagonistas. 

Já o mostrei por aqui, algumas vezes, particularmente tomando como ponto de referência esse mesmo Pacheco Pereira, um exemplo deste tipo de gente, neste caso ressentido e a ruminar ódios antigos, ideológicos e indefinidos, caracterialmente marcados. 

Vale por isso a pena repescar um postal de 13 de Setembro de 2017 para mostrar o outro lado desta História mal contada:


  "Nas semanas e meses que se seguiram ao 25 de Abril de 1974 o país transformou-se numa exposição a céu aberto do grafitismo político, tantas as pichagens e inscrições murais de carácter político que então surgiram.
Virtualmente nenhuma aldeia do país ficou isenta de tais apresentações gráficas de cariz propagandístico.
Um dos movimentos políticos que mais se destacaram na pintura de paredes foi o MRPP, cujas duas últimas letras da sigla chegaram a estar associadas a tal actividade: pintores de paredes. O mais célebre slogan pintado: "Nem mais um soldado para as colónias!"  Grande obra a dos notáveis do MRPP !, hoje situados em lugares de relevo no panorama social e que nunca pagaram o devido preço dessas parvoíces que escreveram e que nos trouxeram desgraças sociais várias.

Esse fenómeno político, daqueles anos, tinha aparecido originariamente no início dos anos setenta, em Lisboa e nos meios estudantis, segundo reza a história, no caso escrita por Miguel Cardina.

Entre os seus mentores da época estavam estudantes que mais tarde se notabilizaram em lugares de destaque político e jornalístico e ainda intelectual que ficaram para sempre conhecidos como ex-maoístas: Durão Barroso,  José Lamego, Jorge Coelho, Maria João Rodrigues  Nuno Ribeiro da Silva,  Ana Gomes, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Maria José Morgado e Saldanha Sanches,  bem como os jornalistas José Manuel Fernandes,   Manuel Falcão  e João Mesquita, antigo presidente do sindicato dos jornalistas, a dirigente da comunidade israelita de Lisboa, Esther Mucznik, e o académico António Costa Pinto.
Quem os ouve, hoje em dia, parece que foi tudo a reinar. Coisas de juventude, natural e perfeitamente aceitável. Só que a juventude não é desculpa para a estupidez ou a ignorância relapsa de quem não procurou informar-se podendo e devendo fazê-lo. Daí que as razões dessas opções políticas residam muito mais na personalidade sui generis dos militantes do maoísmo serôdio e sem eira nem beira, neste canto à beira-mar plantado há muitos séculos. 

Uma coisa que sempre me espantou foi a circunstância de essas pessoas, na época, serem estudantes que liam e pelos vistos "liam tudo", como diria mais tarde um deles, anotado pelo  Público, em 15.8.2004:

Terão eles mais em comum do que esta incursão pela extrema-esquerda? Pois é aqui que regressamos às preferências do patrão do "Expresso" e da SIC pelos maoístas. "Devido à nossa enorme capacidade de trabalho", justifica José Manuel Fernandes. Ainda mais fundo: ninguém que tenha sido formado em jovem nas organizações de extrema-esquerda pode sair igual aos outros que não tiveram esta experiência. Estavam lá a tempo inteiro, pertenciam a uma minoria activa, o que acarretava riscos vários, extremavam-se em aperfeiçoar a arte de transmitir convicções. Como tinham lido quase tudo, eram a seu modo, um grupo de iluminados.Jorge Coelho: "Características deste gente? Grande nível de preparação política, grande capacidade de trabalho e disciplina, de determinação". Ana Gomes: "Foi uma escola política que marca no tipo de raciocínio, de análise e até de linguagem". O que justificará em parte, o ainda discurso inflamado da dirigente socialista: "Talvez ainda não esteja formatada de modo adequado". A ruptura, para a maior parte deles, começou pela constatação que o ambiente nas suas organizações se tornara "insuportável", concentracionário. E também pelo que dizem ser a "falta de sentido" que de repente encontraram na sua militância. Foi esta a experiência de Maria José Morgado e de Ana Gomes. Tinha acontecido o 25 de Abril, existia liberdade, mas eles continuavam a actuar como se ainda fosse o fascismo. Este desapego da realidade sentiu-o Ana Gomes com toda a força quando foi obrigada a isolar-se em casa com a sua filha, de seis meses, que apanhara uma pneumonia durante as suas constantes andanças com a mãe

Todas estas pessoas se formaram com estudos de universidade e encarreiraram de diversas formas.  Como foi possível passarem esses anos todos sem que se dessem conta do logro, do embuste politico-ideológico que depois vieram a reconhecer  com toda a candura décadas mais tarde?
 Como é que tais evidências agora reconhecidas não o foram na época em que poderiam ter sido e muitos reconheciam?  Que estranha cegueira os atingiu de modo fulminante nesse tempo?

(...)

 Mas foi preciso esperar pelos anos 90 para que a José Manuel Fernandes lhe caísse em cima "o lado negro e trágico da Revolução Cultural chinesa". Aconteceu com a leitura de "Cisnes Selvagens", o livro de Jung Chang que está para a China como o "Arquipélago de Gulag" esteve para a URSS. Devastador. Um arrepio: "Quando li este livro uma das coisas que me impressionou naquele tipo de vida, na dedicação que era exigida, é que aquilo era muito parecido com o que tinha vivido nas organizações a que pertenci".Alguns curaram as feridas no chamado Clube da Esquerda Liberal, já nos anos 80. Ficaram vacinados. É o que assumem, pelo menos. "Quando se acredita numa verdade absoluta e depois acontece o descalabro fica-se a perceber melhor o relativismo das coisas. Tornei-me assim uma pessoa muito anti-dogma", descreve Maria José Morgado. "Ter sido maoísta faz-me sentir muito mais vigilante, ter muito mais cuidado com as tomadas de posição, ter um muito maior apego às instituições e à democracia liberal. É preciso não forçar demasiado o sistema porque a democracia é um bem frágil", diz Costa Pinto, que precisamente elegeu como sua área privilegiada de estudo a democracia e o autoritarismo. O que são então eles hoje? José Lamego propõe uma grelha: "Há duas camadas geracionais: a dos militantes esquerdistas contra a ditadura e que está à esquerda. E a experiência esquerdista em afrontamento com o PC e que está à direita. Foram formados na luta contra o PC". É o caso, entre outros, de Durão Barroso.

 É essa tentativa de compreensão  que procuro fazer aqui com algumas indicações do tempo e que parece terem sido completamente ignoradas por esses indivíduos, em prol de fézadas que se revelaram enganos ledos e cegos que a fortuna, apesar de tudo ainda deixou durar muitos anos.

Antes de 25 de Abril de 1974 o maoísmo era a China de Mao e a política externa que alguns países então desenvolveram de aproximação à China, porque era assim que se apresentava nos media existentes. A visita de Nixon à China foi um acontecimento de relevo mundial.

A revista Observador de 3.12.1971 mostrava em duas páginas "o pensamento de Mao"...




Em 25 de Fevereiro a mesma revista apresentava a visita de Nixon apenas como um "grande negócio"...





Em12.11.1971 a revista Vida Mundial mostrava quase a mesma coisa: uma China irreal e desconhecida que aparecia filtrada pelos media, em que não se falava de comunismo, maoismo, Revolução Cultural ou outros temas claros e elucidativos do que realmente se passava nesse país.


Essas revistas pareciam versões em reader´s digest da Foreign Affairs americana. A realidade chinesa pura e simplesmente não existia como facto noticioso.

E quem elucidava verdadeiramente o que se passava no país de mais de um bilião de pessoas, em pleno refluxo de uma Revolução Cultural muito aplaudida pelos maoistas serôdios de cá?

Pois, quem lá viveu o tempo suficiente para perceber o que se passava. E escreveu um livro publicado em França, em finais de 1971 que por cá passou completa e incompreensivelmente ignorado, eventualmente até hoje.

Simon Leys era o autor, mas um pseudónimo de um indivíduo belga, Pierre Ryckmans, então refugiado na Austrália e que ninguém conhecia.
Nas revistas francesas de esquerda , na época, em finais de 1971 ( Tel Quel, bíblia do esquerdismo nacional e Le Nouvel Observateur, do socialismo democrático francês de Jean Daniel) a demolição do livro e do seu autor foi de preceito.

Por cá, nem se falou no livro, quanto mais nas ideias que lá vinham e que eventualmente teriam demovido de muita parvoíce os então maoistas em gestação acelerada.
Nenhuma revista falou ou recenseou a obra que eventualmente nunca foi traduzida em Portugal até hoje.

O livro retomava a célebre historieta infantil dos trajes novos do imperador...que afinal ia nu, para denunciar as manobras criminosas de Mao e da sua clique para se amparar do poder, através de uma fantasiosa Revolução Cultural, como de facto aconteceu.


Há dias, em 26 de Agosto, a revista Le Figaro Magazine recordou o que se passou com a publicação desse livro em França e a perseguição pessoal movida ao autor pela intelligentsia de esquerda francesa que dava cartas aos intelectuais de cá. Aos pachecos pereiras e afins prados coelhos, para além dos maoistas nascentes.




 É algo estranho que no Portugal da época tenha passado completamente ignorada esta obra, de denúncia de um maoismo criminoso, tal como tinha sido o estalinismo denunciado pelos sucessores ( Krutschev). Porém ainda é mais estranho que os maoistas nascentes não tenham dado importância a um livro que certamente conheciam pelas leituras francesas que então faziam ( "liam tudo"...)

Alguém explicará esta ignorância estratégica?

Por isso mesmo e por outras razões em 1974 os maoistas portugueses estavam virgens de tais ideias e factos. Ou faziam de conta. E por isso deram em reproduzir as parvoíces que imaginavam aplicáveis a uma sociedade como a portuguesa.

Nos muros de 1974 e 75 apareciam cartazes como estes, publicados no livro A guerra dos cartazes.



E se não conheciam o livro de Simon Leys conheciam muito bem as parvoíces perigosas que aqui se escreviam e foram logo publicadas em Junho de 1974.



Coisas como estas que Saldanha Sanches, Maria José Morgado e outros comiam ao pequeno almoço...coisas sobre a guerra, a luta de classes, as armas para liquidar a burguesia e outras parvoíces que não tenho bem a certeza que alguns tenham abandonado, como tal. Pessoas muito inteligentes, estas...


E afinal o que era o MRPP? Um antro de doidos políticos como continua a ser e que vivem ainda à custa do Estado português que os subsidia emquanto a Constituição proíbe as "organizações fascistas" e permite estas "maoistas", muito mais civilizadas e democráticas...

Em Novembro/Dezembro de 1974 não faziam segredo algum dessa loucura colectiva que até denunciavam os outros malucos do asilo ( os do PCP) como inimigos irredutíveis:



 Em Abril de 1975 até concorreram a eleições, apesar do boicote dos demais partidos esquerdistas cujas revistas de propaganda nem os conheciam...

Porém, a Vida Mundial de10.12.1974 apresentava assim o MRPP e as suas "bases programáticas", com que se apresentava ao eleitorado, já como partido:


A Flama de então ( fora do Patriarcado e estava nas mãos dos comunistas, um tal Alexandre Manuel e outros)  nem sabia quem era o MRPP, mas dava o destaque principal a Soares e Cunhal.


Na época a proliferação de grupelhos "m-l" ( que os pachecos pereiras afeiçoavam ideologicamente) era pior que a dos cogumelos na humidade, como mostra este gráfico do blog mencionado, de Miguel Cardina:


E como é que os demais "m-l" lidavam com o "líder da classe operária" e sus muchachos n o MRPP? Na revista Manifesto, de Fevereiro de 1975, então dirigida por Guerra Madaleno ( um advogado agora na berra...) foi publicada a posição desses malucos, em "mesa-redonda" sobre vários assuntos:


O que isto comprova a meu ver é o desmentido claro e inequívoco do escrito de Tiago Carrasco acerca da ignorância putativa desta gente, em 1973, acerca da essência do comunismo e do maoismo em particular. 
Chega a escrever que "Em finais dos anos 70 o mundo ficou a saber que Mao Tse-Tung fizera cerca de 20 milhões de mortos"...como se isso fosse verdade histórica indiscutível e portanto desculpante de quem foi maoista...por ingenuidade.  

Pacheco Pereira que aqui mostrei como grande educador da classe otária, indicou mesmo que em Agosto desse ano esteve recolhido numa aldeia do Alto-Douro, com outros indivíduos,  a "aprimorar as suas ideias socialistas". E que faziam "trabalho de reflexão ideológica"...

O que fascinava esta gente que apreciava o maoismo? Parece-me bem que era a sua essência de controlo totalitário do pensamento dos outros e a repressão impiedosa que se lhes aplicaria. Tudo em nome de um idealismo que continuam a proclamar, tendo sempre por trás de tal biombo o velhíssimo pensamento de sempre...

O Público activista e relapso