Escreveu Helena Matos no artigo que “A cada dia que passa, a cada pirueta sobre o empobrecimento de que não se deve falar porque parece mal e é populista abordar tal assunto, sobre os jornalistas que eram combativos e perseguidos quando escreviam sobre os conluios do poder doutros tempos e que agora passaram a ignorantes quando não a canalhas caso escrevam sobre as negociatas do poder de agora, sobre a emigração que outrora confirmava sermos um país sem esperança e que agora não interessa nada, sobre os tribunais cuja independência foi uma reivindicação até que eles temeram sentar-se no banco dos réus…”
A geração de sessenta quem é? Para Helena Matos são dessa geração “muitos daqueles que foram jovens um pouco antes ou depois dessa década ícone para a geração que não só nos tem governado como também construiu o mundo imaginário onde vivemos.”
Nos EUA seriam os “babyboomers”, os nascidos imediatamente no pós-guerra e que tinham vinte, trinta anos nos anos sessenta.
A nossa geração de sessenta quem é, essencialmente? Se embarcarmos nesse percurso diacrónico, serão os indivíduos que foram à guerra no Ultramar e que frequentaram um ensino herdado do Estado Novo. Serão as “madrinhas de guerra” que trocavam correspondência por aerograma. Serão os que estudaram nos liceus para frequentarem depois um ensino superior ou os que estudaram nas escolas comerciais e industriais para se inserirem nas indústrias e comércio nacionais, com cursos médios e de qualidade então inquestionável.
Serão os que emigraram para França, nesses anos sessenta em que o desenvolvimento industrial francês sustentava muitas famílias de portugueses, alguns fugidos à incorporação militar para o Ultramar.
Serão ainda os que por cá se formavam no ensino superior das faculdades e se organizavam em “lutas estudantis” contra o regime que os reprimia com polícia de choque. Alguns destes imitavam os estrangeiros, precisamente da França de Maio de 68 e ainda os estudantes dos “direitos cívicos” nos EUA.
Serão os que começavam a ouvir a música pop dos Beatles e dos Stones que se alinhavam na contestação social, em modo suave mais eficiente nos costumes.
Serão os que escreviam nos jornais de então, com redacções de jovens aprendizes que seguiam os ensinamentos da velha guarda, alguma dela de inspiração comunista e esquerdista.
A escola da imprensa nacional da época foi determinante na formação da “geração de sessenta”. Por isso mesmo, no ano de 1974 os frutos da esquerda estavam maduros e foram colhidos, inundando o mercado.
Muitos destes alinharam imediatamente ao lado daqueles que lhe prometiam um “mundo novo” esquecendo o verso do poeta Aleixo: “ “calai-vos que pode o povo querer um mundo novo a sério”.
A promessa de “novo mundo” dura há trinta e cinco anos e os pagadores de promessas são os da geração de sessenta porque a idade lhes permitiu agarrar o poder político na sequência destes fenómenos sociais em Portugal.
Basicamente, dividiram-se entre uma esquerda fundamentalista no marxismo e que execra o capitalismo e os capitalistas, por julgar deter o conceito de um modelo económico alternativo. Apesar do falhanço rotundo em todo o mundo, continua a vicejar em Portugal, muito por efeito dos prosélitos da geração de sessenta; e uma esquerda que se modera nas escolhas políticas mantendo o discurso do engano baseado na retórica em que avulta sempre a palavra mágica “esquerda” , como passepartout de eleições importantes.
Basicamente, a maioria sociológica do povo que vota, vota em propostas de esquerda enquanto proclamadas como tal. Ninguém, em Portugal, ousa assumir-se como sendo de direita, com vontade de ganhar eleições por causa disso.
E este pathos, este ambiente social é fruto da geração de sessenta. E por isso, a raiz do nosso mal económico reside aí. A meu ver.
2 comentários:
'E isso mesmo, Jose.
Exactamente o meu raciocínio mas muito melhor sistematizado.
Muito bem!
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