Pedro Lomba na sua crónica no Público de hoje salienta um aspecto sociológico da nossa política actual: "nestes seis anos com Sócrates no poder houve uma dimensão banal, visto que podemos esperar que os políticos encenem e podemos esperar que usem todas as artimanhas retóricas. Essa é a banalidade que em última análise caracteriza o político nas democracias, transformando-os em criaturas maquinais que repetem guiões pré-preparados."
E mais á frente: "A crise que ele nos deixa não está nos números da nossa economia. É uma crise do nosso reduzido estado de consciência. Sócrates venceu, porque nos pôs a pensar como ele, semiconscientes, semiadormecidos, ouvindo e falando maquinalmente. É o que nos fez seguir esta campanha como analistas de percepções e de gaffes, obcecados com a eficácia, como se fôssemos um júri de um reality show de marketing político."
É esta a questão essencial na actual democracia portuguesa. Essa e o epifenómeno de termos como primeiro-ministro um indivíduo completamente, mas mesmo completamente desprovido de senso da verdade que é preciso comunicar. A verdade para este indivíduo não existe em estado puro ou ontológico ou mesmo político no sentido estrito do termo. Existe sempre em função de algo que neste caso é a manutenção do poder. A Mentira de José Sócrates ( vou deixar de o reduzir a uma letra com ponto) é a Mentira da sua personalidade. José Sócrates é a Mentira entranhada numa pessoa e num político de um modo que Maquiavel não imaginava no seu livro farol para estes aprendizes de feiticeiro. Acho sinceramente que José Sócrates é um indivíduo doente psicologicamente. Nenhum político nos últimos trinta anos se comportou na vida pública portuguesa deste modo que temos vindo a assistir em modo anómico como denuncia Pedro Lomba. Nenhum exemplo temos deste desprendimento da verdade mínima garantida. É simplesmente impressionante o modo como José Sócrates comunica. Uma impressão que lembra Vale e Azevedo, inapelavelmente.
Fechando este parêntesis que se encerrará no próximo Domingo, segundo espero, há a questão de fundo aborada por Pedro Lomba e que em França tem dado muita polémica por causa do caso DS-K.
O fenómeno detectado em França e comun a uma generalidade de países do sul da Europa é este denunciado por estas duas revistas esta semana que passa:


O título da Marianne diz quase tudo o que é preciso dizer:
Porque é que os poderosos se permitem tudo e mais alguma coisa?
E a Figaro Magazine repisa o mesmo terreno: "Por que nada disseram". Isso a propósito do assunto sabido por todos sobre o comportamento de DS-K e literalmente abafado nos media franceses que adoptaram o mesmo princípio em relação a Miterrand, Chirac e outros.
Parece que o "respeitinho" é coisa que não tocou só a nós. E que os franceses afinaram pelo mesmo diapasão de "touche pas" aos poderosos e influentes. E agora estão a debater o assunto e o que se pode ler é um "assez!"
Em Portugal sobre diversos casos que envolveram políticos a atitude geral dos media é ainda de contenção e reserva , sempre justificada até por grandes instâncias judiciárias, de que os assuntos são "políticos" e não devemos deixar que o poder judicial interfira na política. Temos um bastonário da Ordem dos Advogados que advoga o mesmo...
Em Portugal ainda nem sequer chegamos ao ponto em que estão os franceses: o de dizer alto e bom som mediático:
BASTA!