sexta-feira, junho 10, 2011

O revisionismo histórico de VPV

Vasco Pulido Valente, no Público de hoje escreve ( mais uma vez) sobre os motivos da nossa decadência.
"Mas, fora um ou outro escândalo menor, já consumado e arquivado, ninguém quer ou consegue responder à pergunta crucial: como se chegou até aqui?"

E VPV adianta palpite de resposta:

"Em 1974, o Portugal de Marcello, embora um pouco melhor do que o de Salazar, era um Portugal pobre, atrasado, arcaico e largamente primitivo."

Em vez de palavras, respondo com imagens que nem são de propaganda pura porque mostradas numa revista da época- o Observador de 1972.


Isto para dizer que Portugal, em 1972 estava em caminho certo de desenvolvimento. Em 1974 o que sucedeu não foi exactamente o que VPV escreve e tem escrito ( e por isso não mudará tão cedo de entendimento): que foi a megalomania que estragou tudo. Foi também e estas duas imagens ( do Expresso de 1998) são retrato disso: a rede ferroviária trocada pelas autoestradas em triplicado e a construção de centros comerciais e obras de uma fachada sem conteúdo socialmente recheado. O Amoreiras que aqui se mostra em contraste com o campo de recolha da Carris que havia antes, foi apenas o primeiro.


Porém, a meu ver ( e a sociologia de bolso é mesmo assim- vale o que vale o palpite avulso) o problema não foi apenas a megalomania que de facto se verificou com a aposta em Expos, estádios, autoestradas em triplicado e obras faraónicas e eito. Foi mais e pior que isso: foi simplesmente a destruição durante muitos anos, sem reposição, do chamado "tecido produtivo", da essência do capitalismo que afinal nunca abandonámos como modo preferencial de produção mas abandalhámos numa Constituição jacobina mesclada com as tiradas e conceitos comunistas metidos à cacetada por um Vital Moreira e acólitos. Tal Constituição só foi mudada nos anos noventa e ainda hoje impede várias medidas legislativas que contrariem o "caminho para o socialismo".
Pode haver quem diga que a Constituição não impediu a reconstituição dos grandes grupos económicos e até pode ser verdade, mas apenas em parte: os grupos económicos deixaram de ter o húmus e a cultura que havia antes. O dinheiro, capital que regressou nunca mais foi o mesmo. Os capitalistas nunca mais foram os mesmos e a apareceram outros que foram apenas meros sucedâneos dos capitães de indústria de outros tempos que o PCP e o BE apelidam de "donos de Portugal", mas afinal eram apenas os trabalhadores mais qualificados que jamais tivemos a lidar com o capital. Mesmo que alguns fossem os mesmos, os anos de revolução modificaram-nos. As leis mudaram e o espírito de 72 perdeu-se. E perdeu-se algo insubstituível que a Espanha, por exemplo, nunca perdeu: a capacidade produtiva da iniciativa privada. Perdeu-se porque o comunismo e a esquerda em geral logrou passar a sua narrativa que vinha de trás e logrou politicamente condicionar o país e o desenvolvimento económico de um modo que o salazarismo/caetanismo nunca sonharam. O comunismo e a esquerda foram as forças ideológicas que nos destruiram. São eles, ou melhor essa ideologia, a razão primeira do nosso atraso.

Num espaço de meia dúzia de anos ( 74 a 80) desapareceram os capitães de indústria e esfumou-se o espírito capitalista que havia em Portugal em 1972 e que as imagens supra mostram e quem viveu esse tempo se lembra muito bem.

Um dos símbolos desse tempo era o aparecimento do consumo corrente, pela classe média baixa de automóveis e outros bens.
Esta imagem publicitária de uma Vida Mundial de 1969, mostra um Ford Escort e quanto custava. Quem comprava Ford Escort ( um carro equivalente, hoje em dia a um Ford Focus) eram pessoas como os padres. Hoje, os padres de aldeia não têm dinheiro para tanto...

Quanto a mim, Vasco Pulido Valente anda enganado e engana as pessoas nos seus artigos. O Portugal de 1974 não era o que ele diz que é.

Questuber! Mais um escândalo!