quinta-feira, julho 19, 2012

Fizeram o mal e agora, a caramunha

Este artigo de Manuel Loff no Público e hoje também merece destaque porque explica muito bem o que se passou no ensino superior "das privadas". Ainda falta dizer muita coisa mas o que fica escrito dá muito pano para mangas.
Concordo com o que está escrito com a excepção de que o carro de Portas não era um Porsche, mas um Jaguar e estas coisas têm a sua importância.

Porém, quem gizou toda este esquema fraudulento que abandalhou o ensino superior universitário e está na origem de muitos dos males que sofrem os licenciados desempregados, foram exactamente aqueles que agora choram os seus efeitos: os jacobinos e arrivistas de todo o tipo. Ou seja, o poder político que nos tem governado nas últimas décadas.

 PS ( et pour cause): Jorge Miranda no Público de hoje aponta os diplomas que permitiram os licenciamentos honoris causa: a lei nº 49/2005 de 30.8 que alterou a Lei de bases do sistema educativo,  a Lei nº 46/86 de 14.10. Ainda o Decreto-Lei nº 74/2006 de 24 de Março.
Em 1986, em 2005 e 2006 quem estava no poder político executivo com maiorias parlamentares, até absolutas?  Cavaco Silva e José Sócrates. Ministros da Educação? João de Deus Pinheiro, mais quatro secretários de Estado, a saber, Fernando Simões Alberto e Teresa Gouveia; Marília Raimundo e Fernando Real, no governo de Cavaco Silva.   Maria de Lurdes Rodrigues, com Jorge Pedreira e Valter Lemos.

Vão perguntar-lhes agora o que fizeram e porque o fizeram. Assobiarão para o lado, como se nada fosse com eles...
Mais: à dita Maria de Lurdes até lhe deram a sinecura da FLAD. E os outros são uns senhores. Doutores, por suposto. Sem honoris causa mas com lugar seguro a ensinar. Como diz o ditado quem sabe faz; quem não sabe, ensina.

15 comentários:

Zephyrus disse...

Em tempos um candidato à Ordem dos Médicos Dentistas disse-me que este curso foi separado de Medicina apenas por esquema chico-esperto. No final dos anos 80 havia quem quisesse abrir privada de Medicina pois cheirava a dinheiro fresco num cenário de congelamento de vagas. A procura seria elevada. Como não foi possível, então um grupo de dentistas do Porto decidiu criar a Ordem dos Médicos Dentistas, e fazer a cisão com Medicina. Depois, surgiram as privadas de Medicina Dentária. As propinas mensais superam os 600 euros, as vagas ficam todas preenchidas. O actual bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas é da Fernando Pessoa, e anda por aí a lamuriar-se com o excesso de dentistas e o desemprego maciço que há na profissão.

josé disse...

Exemplar. Mataram a galinha dos ovos de ouro e ainda se lamentam por cima das penas.

Zephyrus disse...

Mas o povo não se importa. Gastam dezenas de milhar de euros nestas privadas para depois irem para o desemprego ou emigrar. Os meus vizinhos holandeses riem-se e acham os portugueses muito estranhos. Por lá não há o fanatismo pelos diplomas e os jovens andam mais preocupados com a independência da família. Filhos de «ricos» começam a trabalhar aos 16 anos e muitos fazem cursos técnicos e trabalham antes de ir para o Superior, onde ingressam mais tarde. É fundamental separar o ensino para prosseguimento de estudos do profissonal, e apostar muito na formação profissional até ao 12.º ano, em escolas separadas e com qualidade. Ao mesmo tempo, fechar «metade» dos cursos superiores. Sei que isto choca muita gente, mas em boa verdade um bom diploma de 12.º ano pode valer muito mais que muitas licenciaturas. Quanto às privadas, que se passe a exigir exames de ingresso na função pública. Um 16 de uma Lusófona não pode continuar a valer o mesmo que vale um 16 de Coimbra. Mas para concursos da função pública valem o mesmo, e isso tem sido um regalo para muita gente. Tem também de começar a haver estatísticas transparentes sobre o desemprego, por par curso/faculdade.

Zephyrus disse...

josé,

os que leccionam nas privadas estão bem na vida. Têm consultórios de medicina dentária com nome sonante no Porto ou em Braga. Montaram-nos em tempos de abundância e tem clientela fixa. Dá-lhes jeito um mercado saturado, pois assim contratam dentistas quase pelo salário mínimo. Montar um consultário é caríssimo e com o mercado saturado poucos arriscarão, portanto os que já estão instalados não temem concorrência dos mais jovens. Assim, os recém licenciados acabam por ir para Inglaterra fazer os que os ingleses não querem fazer.

Zephyrus disse...

Mas o mesmo sucederá na Medicina. Os Mellos e afins esfregam as mãos com uma saturação do mercado. Entretanto, andam a comprar clínicas e pequenos consultórios. Preparam-se para no futuro meter médicos desesperados por um emprego a trabalhar por três tostões.

Não se admirem é quando o povo começar a pedir fascismo.

Zephyrus disse...

O meu dentista lecciona na Católica de Viseu. Por lá são 700 euros por mês de propina, segundo me disse, e há 60 vagas. O edifício foi preparado para um curso de Medicina, mas este nunca foi aprovado. Parece que as 60 vagas ficam todas preenchidas, e mais vagas houvesse, mais alunos teriam. Os recém licenciados acabam quase todos a trabalhar em Inglaterra.

Zephyrus disse...

Este negócio das privadas faz-me confusão. As famílias gastam milhares de contos para depois as pessoas emigrarem ou trabalharem noutras áreas, se não quiserem o desemprego.

E há outro negócio também estranho. O das explicações. Mesmo em crise há alunos que têm explicações a todas as disciplinas. Então o que fazem naquelas 20 ou 25 horas que estão nas salas de aula? Quando os meus pais fizeram o liceu nos anos 70 os programas eram mais exigentes e explicações só havia para quem era muito pouco inteligente, e a uma discplina, Matemática. Já no início dos anos 90 também foi assim para os meus primos, embora aí já estivessem a propagar-se as explicações a Química e a Biologia, por causa dos ingressos a Medicina. Entretanto estamos num ponto em que há alunos com explicações a quase tudo. E isto é grave.

José disse...

Exactamente. É esse um sintoma dos mais graves. E não há ninguém a falar nisso.

O Ensino abandalhou completamente. Resta saber porquê, exactamente. O que não me parece difícil.

Wegie disse...

José:

Para explicação tenta o 2º Princípio da termodinâmica tal como foi enunciado por Clausius.

José disse...

Sem ver na wiki ( é batota) mas com informação caseira e por consulta directa, esse princípio é manifestamente inadequado. A entropia explica que a educação num sistema isolado, espontaneamente tenderá para a desordem.

Ora não é esse o caso. O ministério desta deseducação está muito bem estruturado e não tende para desordem alguma. Antes pelo contrário: é a ordem jacobina que temos pela frente e em pleno esforço.

Zephyrus disse...

Não é difícil, e eu já disse aqui todos os motivos, o josé até publicou depois no blog, o que agradeço.

Os sindicatos estão mais preocupados com interesses corporativos, os professores na sua maioria não têm espírito de serviço público e dedicação, e o Ministério continua inundado pelo eduquês.

Aliás, na hora de cortar, o Ministério tem preferido cortar nos horários e nos conteúdos. E eu sei como cortar em custos. Por exemplo, um manual pode custar 30 euros. O Estado paga os manuais aos alunos carenciados. Ora se o Estado imprimisse os manuais na Imprensa Nacional, como fazia nos tempos da telescola, estes poderiam ficar 3 vezes mais baratos, ou mais. Manuais a preto e branco, com papel barato, sem esquemas, desenhos infantis e outras tretas. O que interessa, afinal de contas, é o conteúdo. Outra alternativa passaria por instituir um sistema de empréstimos nas escolas. Os alunos teriam de devolver os livros no final do ano lectivo, e pagar o que estragassem.

E há mais onde poupar. Conheço regiões servidas por comboio onde os alunos têm passes de autocarro pagos pelos contribuintes. Sucede que o comboio é muito mais barato que o autocarro. Mas ninguém vê isso, nem nas escolas, nem na CP, nem nas autarquias.

Também há escolas a mais. Um exemplo. A região de Vila Real de Santo António tem 4 escolas C+S que servem cerca de 25 000 habitantes. A escola C+S mais distante de VRSA fica a 10 km. Tavira, por sua vez, para 25 000 habitantes tem apenas uma C+S. Há 20 anos, havia apenas uma C+S na região de VRSA, mas entretanto Castro Marim, Monte Gordo e Cacela exigiram uma escola. Claro que depois há a manutenção do edíficio, custos com pessoal, etc. Mas ninguém faz contas.

Também posso mencionar os custos com os colégios com contrato de associação, a meu ver desnecessários na maior parte dos casos. Cessando com este esquema também se poderiam poupar muitos milhões.

Quanto à qualidade das aulas, façam como na antiga telescola. Metam inspectores do Ministério a assistir e a fiscalizar os livros de ponto. E punam os professores medíocres. Separem também o ensino profissional do ensino para prosseguimento de estudos. Boa parte dos alunos do secundário público não pretende ir para o Superior, está lá apenas por «obrigação». Aposto que se estivessem numa escola técnica qualquer a fazer algo que gostassem não causariam tantos problemas. A igualdade é uma banha de cobra deste eduquês. Nem todos os alunos têm talento para ser «doutores» e podem destacar-se como bons técnicos ou empresários. Mas o sistema corta as asas.

José disse...

Demos cabo dela e teremos a primeira lei da termodinâmica: a conservação da energia. Antiga e sólida.

José disse...

Quiseram inventar a roda e deram com os burros na água. Idiotas? Não. Apenas jacobinos.

Zephyrus disse...

Já tenho falado deste tema da poupança com os livros imprimindo livros baratos ou implementando o sistema de empréstimos. Mas as pessoas chocam-se. Dizem que os alunos que usassem livros a preto e branco ou emprestados sentir-se-iam excluídos e ficariam traumatizados.

Se eu fosse professor até conseguiriam leccionar sem manuais. Por exemplo, a discplina de História ou a disciplina de Geografia de Portugal podem ser leccionadas com uma sebenta com textos de autores de referência, como o Orlando Ribeiro ou o Rui Ramos. Os alunos ficariam melhor preparados a ler textos do que a ler os tópicos e a ver os esquemas e os desenhos de manuais que custam 25 ou 30 euros.

A leitura treina e amplifica a capacidade de concentração e de memorização.

Zephyrus disse...

E peço desculpa pelos erros mas estou a escrever à pressa.

O Público activista e relapso