terça-feira, novembro 25, 2014

Com a verdade se engana?



Pinto Monteiro, juiz jubilado e antigo PGR almoçou com José Sócrates e segundo declarou publicamente em entrevista à RTPi, "a conversa foi inocente".
Acredita-se que sim e que o tema foi a inocência porque será isso que aos dois interessa. São amigos e será portanto verdade o que Pinto Monteiro disse.

O Correio da Manhã de hoje dá azo a especulações de outra ordem, apesar de inseridas na mesma temática da inocência. Diz que Pinto Monteiro terá aconselhado Sócrates sobre a melhor maneira de agir para comprovar aquela inocência. Ou seja, desmente o antigo PGR que frisou nada lhe ter sido perguntado "sobre Justiça" e que desconhecia o processo em que o mesmo andava a ser investigado. Disse que ouviu qualquer coisa há uns meses, mas como a PGR ( actual) desmentiu, nada sabia.

Suponhamos que é essa a verdade com que afinal engana quem desconfia.
A primeira ideia é que fez uma figura de parvo, de patarata, porque foi convidado para um almoço "inocente" sob o pretexto de receber um livro cujo exemplar até já possuía...e aceitou, fazendo esperar o anfitrão cerca de uma hora, conforme disse. E o anfitreão esperou...

Depois tudo se desenrolou no melhor dos ambientes. Faltou dizer a ementa que foi servida. Lulas como aperitivo, parece certo. Depois a pièce de résistence, pato, naturalmente. Com penas e tudo para comprovar o tema da "inocência".  A cereja em cima do bolo final? Livros e viagens.

A última viagem de José Sócrates foi logo no dia seguinte, para Paris, em visita relâmpago, certamente para matar saudades do apartement. 

O jornal, porém, alvitra algo em prol da inocência: Pinto Monteiro terá aconselhado Sócrates sobre a estratégia de defesa da inocência e portanto sobre o processo. E depois ainda escreve que se suspeita que a viagem poderá ter sido para levar documentos. Se for, há um meio processual de se saber e espera-se que o MºPºnão ande a dormir.

Se aquilo que o CM diz do antigo PGR for verdade, no que não se acredita porque um antigo PGR não mente e iremos certamente assistir ao rasgo das vestes e à indignação própria,  é grave, claro que é. Se tal se viesse a apurar, em teoria abstracta teria cometido um crime, no caso este se se vier a verificar o crime por parte de José Sócrates:

  Artigo 367.º
Favorecimento pessoal

1 - Quem, total ou parcialmente, impedir, frustrar ou iludir actividade probatória ou preventiva de autoridade competente, com intenção ou com consciência de evitar que outra pessoa, que praticou um crime, seja submetida a pena ou medida de segurança, é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa.

Claro que este crime não pode ser investigado directamente através de escutas telefónicas, porque não consta do catálogo previsto. E então?
Há quem diga que os conhecimentos fortuitos, neste caso, podem relevar...mas a doutrina de Costa Andrade é muito céptica nesse sentido, apesar de os alemães o admitirem com facilidade. É que nós gostamos de ser mais papistas que o papa...
Apesar de tudo, um inquérito na secção criminal do STJ parece impor-se. Aliás já tarda alguns anos.

Questuber! Mais um escândalo!