O fascismo, enquanto termo designativo de um regime não existia em Portugal antes de 25 de Abril de 1974, a não ser nas publicações clandestinas dos comunistas, a que se juntavam alguns socialistas então marxistas.
Porém, na linguagem comum e corrente do povo e mesmo dos media, ( com censura) o termo era ignorado como palavra-chave para designar o regime político do Estado Novo de Salazar e do Estado Social de Marcello Caetano.
Por mim só dei com a palavra "fascismo", designando o regime anterior, nos dias a seguir ao 25 de Abril de 1974. E digo dias a seguir porque no próprio dia, os jornais, rádios e tv ainda não usavam o termo.
Em Janeiro e Fevereiro desse ano de 1974 a linguagem corrente era esta, como mostra o jornal Diário de Lisboa que se tornaria um dos expoentes comunistas mais notórios logo nos dias a seguir ao 25 de Abril. Não se nota "fascismo" em lado nenhum. Escrevia-se Ultramar em vez de Colónias e Nação em vez de "este País". E falava-se em moral, conceito que depois desapareceu para dar lugar, alguns anos depois a "ética". Marcello Caetano adivinhava os "tempos dificeis" que viriam e provavelmente nem imaginava como! Dali a dois anos havia uma bancarrota em perspectiva e dez anos depois, outra. Coisa inédita no Portugal desse tempo.
E dava-se notícia dos militares mortos em combate, na guerra "na Província da Guiné" e "no "Estado de Moçambique".
No dia 25 de Abril de 1974 o Diário de Notícias não noticiou a queda do regime como "o derrube do fascismo". Aliás, nenhum jornal diário o fez, aposto.
Nem sequer o Diário de Lisboa do dia 27 de Abril mostrava tal coisa nos comunicados do Movimento das Forças Armadas que apenas falavam em sistema político. Porém, os comunicados da CDE já não escondiam a palavra "fascismo" e noticiava-se que um grupo de manifestantes do MRPP gritava "o slogan favorito, "guerra do povo à guerra colonial". A palavra fascismo aparece também nas designações que os comunistas fazem do regime, relatadas no jornal.
Esta palavra "fascismo" foi introduzida no léxico corrente pela esquerda comunista, com efectivo apoio socialista, parece-me um facto indiscutível. Ou seja, a esquerda inventou o termo "fascismo" para designar o regime de Salazar/Caetano e conseguiu torná-lo designativo corrente, tal como a palavra "kispo" designava blusões. Uma metonímia notável.
Em 29 de Abril o mesmo jornal já definia na página dois o regime anterior, como ainda não se fizera mediaticamente: "regime fascist", ou seja tal e qual a esquerda comunista sempre o designou.
No mesmo dia 29 de Abril de 1974, o República, dirigido pelo socialista maçónico Raul Rego dava estatuto de herói ao regressado de Paris no dia anterior, Mário Soares. E publicava o primeiro comunicado do PCP em que aparece a expressão mágica, como não podia deixar de ser: "ditadura fascista".
Dali para a frente foi sempre a somar adesões à novíssima designação cuja aparição ocorreu deste modo.
Quanto ao partido Socialista, para não ficar atrás dos operários e camponeses, também partilhava os desideratos comunistas de liderar a "luta contra o capitalismo" e naturalmente a sua declaração de princípios, um ano antes, já garantia "o combate visando a eliminação dos suportes sociais do fascismo e do colonialismo" , ou seja, contra " a burguesia" e banqueiros, um deles por sinal mecenas de Mário Soares no exílio, segundo consta...
Com este ideário expresso e a linguagem usada, quem aderiu ao socialismo democrático passou a usar a mesma língua de trapo dos comunistas.
Em 29 de Setembro de 1974 o Expresso já escrevia em editorial ( possivelmente Marcelo Rebelo de Sousa) "luta antifascista". O Expresso é o melhor expoente explicativo do fenómeno que se introduziu na semântica nacional. O Expresso de Balsemão, deputado da Ala Liberal do Estado Social que a esquerda passou a apelidar de "fascista", sem qualquer protesto ou oposição daquele, foi sempre um jornal "liberal" à moda do Minho, ou seja, de Cascais ou da Quinta da Marinha. Foi sempre contra o comunismo do PC, na fase em que este partido que ainda se diz democrático queria açambarcar todo o poder político e cujas veleidades só terminaram em Novembro de 1975. Mas foi também um jornal "inserido no processo revolucionário", como atestou o comandante do Copcon, Otelo, quando Vasco Gonçalves o apodou de "pasquim", num discurso surrealista em Almada, nos idos de 1975.
Quer dizer, o Expresso foi sempre um jornal que não quis ser carne nem peixe, preferindo os congelados do "tipo serra". Tipo professor Marcelo, o melhor paradigma do jornal.
O termo "fascista" pegou de estaca, deste modo e até hoje, modificando a linguagem antiga e dando nova dimensão ao panorama político. Nas semanas e meses depois do golpe ninguém queria ser "fascista", o que se tornou um termo de insulto e exclusão quando não de prisão como aconteceu com estes pobres fascistas, adeptos irredutíveis de Mussolini, falangistas sinistros de uma ordem nova de violência anti-democrática, arrebanhados pelos democratas da esquerda revolucionária, na sequência dos acontecimentos de 28 de Setembro de 1974, como relata o DL de 30 de Setembro de 74.
A partir daqui o PREC levantou voos mais altos, até 25 de Novembro de 1975. Fascismo, ditadura fascista, reaccionário, até mesmo nazi, foram termos que se vulgarizaram e abrangeram todos aqueles que não partilhavam a mesma cartilha desta esquerda comunista e socialista. Hoje, 40 anos de depois, o esquema mental dessas pessoas continua o mesmíssimo de sempre: apodar de fascistas quem ousa falar do regime anterior noutros termos que não os que eles mesmos assim definiram.
Como dizia uma mulher num autocarro para defender outra mulher, preta, das invectivas de um energúmeno qualquer: olhe senhora, preto é ele...
No caso, fascistas, são eles...
Quanto aos media tradicionais, seguiram todos, sem excepção, o mesmo guião. Os que o não fizeram tiveram um destino de inquisição. Assim, em 29 de Setembro de 1974, no jornal Sempre Fixe, dirigido então pelo mesmo director do Diário de Lisboa:
Logo em Junho de 1974 a Flama mostrava mais um dos sinais do fenómeno. "A arte fascista faz mal à vista", proclamaram alguns artistas plásticos no interior do palácio Foz, nos Restauradores, para tapar de negro uma estátua de Salazar.
"Fascismo" já era o termo da ordem nova.
Naturalmente, quando em 1983 alguns adeptos do antigo regime se reuniram no Porto para comemorar o 28 de Maio de 1926, data do golpe que conduziu Salazar ao poder, o Expresso de 4 de Junho de 1983 deu assim a notícia, com fotos.
O texto é exemplar do que aconteceu à linguagem nesses anos, pouco mais de meia dúzia sobre o 25 de Abril: mistura verdadeiros adeptos da extrema-direita, eventualmente fascista segundo os cânones correctos da designação com elementos de direita, salazaristas de vários matizes e todos embrulhados numa conveniente designação de "direita nacionalista e antidemocrática". Fascista, quoi!
Em Portugal quem não segue a cartilha da esquerda que inclui naturalmente a social-democracia que temos, é simplesmente "fascista" ou mesmo "nazi" e julgo que a explicação está dada.
63 comentários:
Por enquanto(40 anos já é muito) a malta de esquerda e já agora muito idiota útil tem que se contentar com o "fassismo".Bem gostariam de passar à fase dos contra revolucionários, sabotadores, inimigos do povo, divisionistas, fracçionistas e outras tretas de apuramento da raça comunista como andam a fazer na Venezuela.É a fase em que a malta deveria começar a ser encostada à parede pelos democratas humanistas do tudo e do seu contrário para obterem mais depressa o quanto pior , melhor...
Foi com surpresa que apareceu esse mundo novo depois do 25.Em que a maioria virou a casaca e que muito ainda não despiram.O que se andará a preparar para quando vier o novo reviralho?Sim porque o regime anda já atadinho com cordéis de mais e como é insustentável...
Nunca ninguém fez isto que o José faz.
Não me refiro apenas a apanhar o léxico.
Vai mais longe- consegue precisar quando apareceram nos media
Há quem tenha mestrados e doutoramentos por menos
ehehehe
Mas "fascismo" é palavra de arremesso da esquerda. Ainda no outro dia a apanhei num qualquer filme da Nouvelle Vague
É arremesso de esquerda pois.
Porém, nessa página do Espresso, aquele teatro também não ajuda nada. Porque aquilo parece, de facto, uma cena de fascistas pelo aparato e, eventualmente, pelos comportamentos teatrais.
O que faz sentido pois nos anos vinte, trinta e quarenta tudo aquilo era da época. Mas a época passou e há assuntos sérios para tratar.
E estamos encasquilhados nisto: entre a indireita que ocupou o lugar vago e os ocos folclóricos que saúdam à romana mas ninguém sabe bem o quê ou quem.
"os ocos folclóricos" servem de alibi para meter tudo no mesmo saco.
Esses ocos servem às mil maravilhas os propósitos dos antifassistas.
E por isso não atamos nem desatamos.
o ps com boxexas ou monhés será sempre o autor do 2º prec que se seguiu ao 25.xi e ainda não terminou
o ps era ML e, por conseguinte, receava ser designado por social-fascista e entrou ao ataque na companhia do pc
apercebeu-se que iria pela borda fora quando da ocupação da 'república' e fora buscar a 'Luta' de Brito Camacho
o pc preparava-se para 'defenestrar' o kerenski
perdi inutilmente 40 anos da minha vida.
no prédio onde moro ainda ocupam parte do espaço atribuido à minha 'metáfora'
com velharias onde as ratazanas fazem correrias
Já contei aqui:
Junto a Cluny, no mês passado, um jovem vendia jornais, na Sexta-Feira, ao início da tarde em que ainda não tinham sido presos ( mortos) os autores dos atentados ao Charlie-Hebdo.
Abeirei-me para ver e era o Action Française 2000, um jornal da direita tradicionalista monárquica. Uma moça passou, viu e comentou: "mais c´est facho!"
Comprei por causa disso. Por causa do anátema...
O jornal nada tem de facho ou coisa que o valha. É apenas conservador e monárquico.
Não perdeu os tais 40 anos. Ganhou a consciência de que foram passados a experimentar algo que não serve. Muitos não têm essa sorte.
O último artigo, do Expresso, tem a encenação do costume. Pensando também que o tipo de saudação poderá confundir ou prestar-se a equívocos, fui espreitar isto:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sauda%C3%A7%C3%A3o_romana
Passando por cima do valor da fonte, não deixa de ser curioso que a saudação do braço levantado venha da Roma imperial. Poderá ter sido adoptada no tempo de Salazar por estar, assim, associada a Roma por via da ideia de ditadura. E aqui é que convinha as pessoas perceberem o que significava o termo na Antiga Roma e a forma como influenciou o Direito Romano, base do Direito de muitas nações ocidentais, e as ideias republicanas: o ditador era o mais alto magistrado, o Magister Populi ou Praetor Maximus da República Romana, chamado a intervir em situação extraordinária (como foi o caso da emergência financeira que levou Salazar a Ministro das Finanças).
A partir do 25A, a palavra "ditador" passou a ser usada para invectivar, tal como o termo "fascista", cuja origem a maior parte das pessoas não conhece.
Mas Salazar, nos seus Discursos, fala da Ditadura que foi necessário instaurar (o tal recurso à figura do Praetor Maximus em situação extraordinária como a que se vivia). Tratava-se, pois, de um termo "técnico", se assim se pode dizer, e sem qualquer carga pejorativa.
E, de facto, o José parece dispor de uma hemeroteca fabulosa...
Obrigada por estas partilhas e ensinamentos!
José:
Em termos de clareza de comunicação e de facilidade de disseminação da informação, este e o artigo anterior são dos melhores artigos que já aqui postou.
Seriam muito facilmente compreensíveis pelo "português médio" que os leia.
É um verdadeiro "sabia que", excelente para dar a conhecer a todos os que estão formatados por estes anos todos de "construção" da linguagem e pensamento, que os leva a quase cuspir para o chão quando se fala no "Estado Novo" tal é o reflexo pavloviano que têm quando se fala nele. Sabem dizer porquê mas nem precisam de provas...
Quanto a mim a melhor prova de todas que o regime anterior não eram trevas nenhumas é a evolução da mortalidade infantil, muito dependente das condições sócio-económicas. Deixo aqui uma captura de ecrâ dum gráfico visto por aí
http://gyazo.com/7e992b63cdf1c14dbef525c33adead88
Amanhã, se Deus quiser, mostro outra prova de que o regime anterior não era o que os syrizas andam por aí a propalar.
Uma coisa muito concreta e com números e factos.
a escola da minha aldeia norte-alentejana tinha uma placa com a inscrição
'edificada no regime de ditadura nacional'
os sociais-fascistas partiram a pedra à martelada
meu padrinho e primo, velho-republicano, apoiou o 28.V.1926. militar de carreira na reserva deu grande incremento à aldeia.
dava-me a ler o jornal da UN. infelizmente morreu quando tinha 9 anos e perdi histórias sobre a razão da sua mudança radical
na empresa já me chamavam fascista depois do 1º de Maio
a miséria era tão grande no ambiente fabril durante o prec que havia pregoeiros que andavam nas fábricas a anunciar
«este mês a X ficou toda 'pindurada' e tem que fazer uns cabritos»
acabou tudo na pinderiquica
Internamente o papão são os fascistas.
Externamente o papão são os nazistas.
Dezenas de cartazes do Bloco de Esquerda começaram, este domingo, a ser espalhados pelas principais cidades do país. Tem uma frase em alemão. Mas... está mal escrita.
http://expresso.sapo.pt/cartaz-do-bloco-tem-erros-de-alemao=f912035#ixzz3SbnjAzmm
O subliminar da esquerdalha tem muito que se diga...
O José está num nível altíssimo. O nível da excelência.
"..o assessor de Imprensa do Bloco de Esquerda garantiu que o cartaz foi aprovado, depois de visto por quatro pessoas de origem alemã, ou que falam a língua."
Coitados... armados em chicos-espertos e a quererem fazer os outros de parvos. Nem para isto têm classe!
"No ângulo certo, pobre rende um dinheirão".
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4414026&seccao=Alberto%20Gon%E7alves&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco
“Passando por cima do valor da fonte, não deixa de ser curioso que a saudação do braço levantado venha da Roma imperial. Poderá ter sido adoptada no tempo de Salazar por estar, assim, associada a Roma por via da ideia de ditadura.” [Anjo]
Os mesmos símbolos, ou símbolos idênticos, com ligeiras variantes, são adoptados em diferentes séculos, por diferentes povos, sob diferenciadas ideologias. Não tenho prova documental mas acho que, em Portugal, a “saudação romana” é anterior a Salazar, até porque o seu uso, apesar de popularizado nos juramentos de bandeira, não se limita às cerimónias militares. Por exemplo, nas corridas de touros (não só por cá) costuma dedicar-se a faena levantando o braço em direcção ao alvo da dedicatória (numa imitação da dita “saudação romana”).
http://1.bp.blogspot.com/_toMQ28vld9E/TE66yINsQZI/AAAAAAAAW_I/J5m_DrEbKqE/s320/Fandi+de+muleta+de+rodillas+2+a+su+1%C2%BA+copia.jpg
Mesmo no decurso da lide, a “saudação” (ou pequenas variantes dela) não é invulgar.
http://2.bp.blogspot.com/-Vc88DN_xjwc/USL3U_JQAdI/AAAAAAAAAhs/ftPkXqfig5Y/s1600/1361245210.201.459-www.CortarFotos.com-.jpg
Mas, normalmente, quando nos referimos à “saudação romana”, tanto em Portugal como em vários países latinos, recorremos aos exemplos dos juramentos de bandeira.
Alguns exemplos (portugueses) recentes, com data e quartel:
http://www.exercito.pt/sites/EPC/Noticias/PublishingImages/d.bmp (7/02/2011 EPC)
http://www.jornaldapraia.com/fotos/noticias/big1387569111.jpg (20/12/2013 RG1)
http://www.exercito.pt/sites/RA5/Actividades/PublishingImages/IMG_3300(1).JPG (13/01/2006 RA5)
https://www.youtube.com/watch?v=paOu9P21pbw (29/7/2013 EPA)
Julgo que o termo “saudação” não é o mais correcto para este gesto e muitas vezes aparece na comunicação social associado pejorativamente às ditaduras, para passar a ideia do culto da personalidade. O termo mais correcto (na minha modesta opinião) deveria ser "dedicatória", pois é usado para oferecer uma exibição, um esforço, uma promessa/juramento a uma pessoa, a um conjunto de pessoas ou a uma nação (neste caso, através do seu símbolo maior).
Magnífica acervo de documentação precioso e imperdível para quem não estava no País na altura ou não tinha idade para tomar dela conhecimento cabal.
Muito gostava eu de ler duma ponta à outra os poucos exemplares de jornais direitistas - Bandarra, Tempo Novo e Tribuna Popular - saídos para venda antes dos números subsequentes terem sido "proibidos" pela nova censura acabada de ser instaurada pelo nouvel regime a que os seus mentores apodaram de democrático, mas que, este sim, era/é fascista com todas as letras.
Ainda há muito para ler, mas pelo que já li, apenas cabe-me dizer que o que se passou nesta altura foi escandaloso e criminoso e tudo imposto aos portugueses por quem era/é tudo menos português excepto no nome de baptismo, um bando de apátridas vindos da estranja com o único objectivo de virar o país do avesso e destruir os alicerces sólidos em que fora fundado, construído e preservado durante séculos com coragem, valentia e nobreza, conseguiram-no à custa de traições mil, crimes de todo o género e feito e violência física e verbal para além do racional, só admissíveis de serem levados à prática por seres infra-humanos, na verdade adoradores de Satanás, como sabemos que todos os que estão por detrás da implantação deste regime o são de facto e nem necessitam de o negar pois sempre que pressionados a fazê-lo confirmam-no orgulhosamente.
" Fascismo é uma palavra de arremesso da esquerda " - todos os partidecos a usam: Nuno Melo, de quem eu, na idade da inocência, esperava a " ousadia " de largar o Sistema, aludia há tempos a Salazar como alguém em quem nem se devia falar: um anátema, um " rótulo " a evitar a todo o custo.
Tudo o que pode haver de preconceito e ignorância. Subjacente, o " perigosíssimo " libelo de " fascista ". Todos parentes próximos, essa gente da partidarite.
Isto porque, como diz o autor do blogue: " Com este ideário expresso e a linguagem usada, quem aderiu ao socialismo democrático passou a usar a mesma língua de trapo dos comunistas." ; é mesmo disso que se trata: todos eles, incluindo os que tentam passar-se por " direita " (????????) são socialistas. Ponto final.
Em relação ao braço levantado, não obstante tudo quanto se já disse, parece-me evidente que, no caso, é coisa de inspiração italiana.
O que é normal porque, como li já noutro lado qualquer, penso que até foi Caetano, a saudação de braço levantado e mão aberta é simplesmente a resposta natural ao punho fechado da esquerda.
Embora hoje em dia esteja mais ou menos apagado e esquecido porque os alemães levaram a taça do mal absoluto, o revolucionário fascismo italiano foi marcante nas ideias e correntes da época.
Net
"fascista" tem sido usado como pejorativo,154 muitas vezes referindo-se a grande variação de movimentos em todo o espectro político.155 George Orwell escreveu em 1944 que "a palavra 'fascismo' é quase inteiramente sem sentido... quase qualquer inglês aceitaria 'valentão' como sinônimo de 'fascista'".155 Richard Griffiths argumentou em 2005 que o "fascismo" é a "a palavra mais usada e mais mal usada dos nossos tempos".32 "Fascista" é, às vezes, aplicado a organizações do pós-guerra e formas de pensar que os acadêmicos mais comumente definem como "neofascista".156
Ao contrário do uso comum do termo pelo mainstream acadêmico e pelo povo, os estados comunistas têm sido, por vezes, referidos de forma insultuosa como "fascistas". A aplicação do termo ocorreu, por exemplo, em relação à Cuba sob Fidel Castro e ao Vietnã sob Ho Chi Minh.157 Herbert Matthews, do New York Times perguntou: "Será que devemos agora colocar a Rússia stalinista na mesma categoria da Alemanha hitlerista? Devemos dizer que ela é fascista?"158 J. Edgar Hoover escreveu extensivamente "fascismo vermelho". 159 Os marxistas chineses usaram o termo para denunciar a União Soviética durante a cisão sino-soviética, e também os soviéticos usaram o termo para identificar os marxistas chineses.160
Já aos que falam a língua de trapos, não sei se são todos socialistas. Mas são alguma coisa: são mendicantes. Falam a língua porque isso lhes paga a franquia de aparecerem nos media, ideológica e editorialmente dominada pelos trapeiros...
Já aqui deixei, penso eu, o ensaio de Orwell a que alude o comentário do Floribundus, mas vale a pena deixar outra vez porque aprofunda esta questão semântica:
https://www.mtholyoke.edu/acad/intrel/orwell46.htm
E, de passagem, também serve para reflectir sobre o acordo ortográfico.
Retomando a questão da língua de trapos, isto faz-me lembrar o saxofonista israelita Gilad Atzmon que diz assim: o verdadeiro poder do lobi judeu é suprimir a discussão sobre o seu próprio poder.
Com a esquerda é muito parecido (e não é por acaso).
Discutir o domínio da esquerda sobre o discurso mediático é uma coisa que não é levada a sério e quem o faz é rapidamente posto de lado.
Atzmon continua: quem está encarregue de exercer esse poder é a esquerda, os porteiros do discurso.
O politicamente correcto (que é a mesma língua de trapos up-to-date) é política que não admite oposição, uma vez que não admite sequer discussão: é auto-censura. É o derradeiro - o verdadeiro, diria eu - totalitarismo.
Se se ler o ensaio do Orwell e tendo estas coisas em mente se percebe o poder incrível que tem quem consegue manipular a linguagem.
Fazendo uma analogia mais ou menos grosseira, se quem tem mão sobre o dinheiro domina as economias, quem tem mão sobre a linguagem domina o "mercado" das ideias...
"Se se ler o ensaio do Orwell e tendo estas coisas em mente se percebe o poder incrível que tem quem consegue manipular a linguagem.
Fazendo uma analogia mais ou menos grosseira, se quem tem mão sobre o dinheiro domina as economias, quem tem mão sobre a linguagem domina o "mercado" das ideias..."
É essa ideia simples que tento passar aqui, com os exemplos que vou dando.
E hoje vai mais um.
Juramento dos Horácios do Gericault- em plena Revolução francesa.
É o mito da ética republicana, o que não deixa de ter piada.
Todas as revoluções são republicanas.
http://www.jamesfarleyphotography.com/wp-content/uploads/2013/07/Jacques-Louis_David_-_Oath_of_the_Horatii_-_Google_Art_Project.jpg
"Julgo que o termo “saudação” não é o mais correcto para este gesto e muitas vezes aparece na comunicação social associado pejorativamente às ditaduras, para passar a ideia do culto da personalidade. O termo mais correcto (na minha modesta opinião) deveria ser "dedicatória", pois é usado para oferecer uma exibição, um esforço, uma promessa/juramento a uma pessoa, a um conjunto de pessoas ou a uma nação (neste caso, através do seu símbolo maior)." [Apache]
A ideia da dedicatória/oferta do esforço é interessante.
A mão aberta em contraposição ao punho cerrado da esquerda faz sentido. O uso do gesto com essa motivação seria então muito mais recente. Também faz sentido, já que os simbolismos se actualizam.
Seja como for, todos os regimes se fazem acompanhar do seu próprio cortejo de símbolos, rituais, etc.
A manipulação da linguagem é o verdadeiro poder, sem dúvida. A ver se espreito o ensaio do Orwell...
A saudação é a dissolução do eu no colectivo- é o pacto de sacrifício.
Vem da lenda dos Horácios e Curiácios romanos contada pelo Tito Lívio
(Lapso- o quadro é do Jacques-lOuis David, é claro. Nao é do Géricault)
http://estoriasdahistoria12.blogspot.pt/2013/09/analise-da-obrao-juramento-dos-horacios.html
É o sentido do patriotismo- por isso é que é comum à Revolução Francesa ao fascismo italiano ou a todos os juramentos de um corpo comum- no sentido de mannerbund.
Pode-se recuar a tempos mais primitivos mas vem da República romana e de todos os ideiais modernos que foram beber a ela.
A partir da Revolução Francesa.
Esse quadro do Jacques-Louis David é um bom indicador.
Quanto à linguagem eu penso que melhor que o José ninguém fez.
Nem sequer o Orwell.
Porque todos os outros interpretam o apagamento das palavras ou a fabricação de outras como algo vindo do Big Brother- do chefe supremo.
E o José percebe muito melhor que a coisa é meme que se apanha pelo ouvido e sem cara- é como um jingle pop.
O exemplo do Kispo é fantástico porque é isso mesmo- e não foi um ditador ada moda que o impôs- apareceu assim, no ar.
O espantoso é que o José é mais racional e consegue seguir o fio de Ariane e localizar como e quando apareceu nos media.
Este trabalho do José é único.
Só por muita estupidez de culto de personalidade e subserviência a satatus não é entendido e divulgado como deveria ser.
Se fosse asssessor como o outro do I like to watch andava nas palminhas.
Ou não andava- porque o problema é que desmonta-lhes os mitos "facistas" e isso só pode ser coisa de ex-pide.
E é incrível porque acho que até fui para Filosofia por me interessar por estas coisas- em miúda- mas nunca encontrei um professor que delas falasse ou as entedesse.
Ninguém. E por mim não ia lá por falta de ouvido e memória histórica.
Mas é engraçado porque isto cruza-se com o que se pode fazer em História da Arte- a iconologia.
ora já o Warburg e depois o Panofksy diziam que não basta cultura, para a fazer é preciso um dom- no caso- memória visual.
Para a "iconologia das palavras" é preciso outro dom- ouvido.
É preciso saber apanhar os esquemas- visuais ou linguísticos.
O José apanha-os na semântica como eu penso que nunca ninguém o fez.
Catch me if you can...ahahaha.
Não me levo muito a sério. Nem nisto.
eehhehe
Ainda bem. Mas não deixa de ser único por isso.
Vá por mim que tenho olhinhos
":OP
Lá estou eu entre os muitos "fascistas" presos.
Ainda hoje não sei porque me prenderam durante 40 incomunicaveis dias, em Caxias.
Guardei a ordem escrita à mão e assinada pelo assassino Otelo.
Nunca mais fui preso.
Antes desta liberdade já tinha ido "dentro" pela PJ, pela Pide (duas vezes), pela Guarda Florestal e pela psp...
Já estava habituado!
Obrigado, José, por colocar aqui verdades indesmentíveis sobre o Portugal do passado, antes do 25/4/74.
Nem tudo estava bem e nem tudo estava mal. Estava na medida do possível no contexto histórico em que estávamos inseridos.
E hoje, como é que estamos?
"Antes desta liberdade já tinha ido "dentro" pela PJ, pela Pide (duas vezes), pela Guarda Florestal e pela psp..."
aragonez: V. se não foi do MRPP poderia ter sido...ahahaha.
Zazie, se ler o texto há-de reparar que não diz lá que é o big brother...
Embora V. o diga implicitamente quando diz que é possível identificar precisamente o momento em que a língua de trapos começa a ser difundida. Ora se há um momento preciso, tem de haver uma causa precisa.
Já vimos qual é: a tomada dos meios de comunicação pelos trapeiros - que tomados pelo todo são como um eficiente big brother.
Porque usam eles a língua de trapos? Por tudo quanto se já disse e mais esta frase que está lá no texto: In our time, political speech and writing are largely the defense of the indefensible.
O que é defensível pode ser defendido com linguagem clara. O que não é...
Não, não fui MRPP.
Tentei toda a vida ser um tipo honesto.
Fui preso pela Pide em Angola por nada de mais: estava a preparar, para a Associação do IST uma reportagem sobre as condições de trabalho no portode Luanda.
Também servi na Guiné em tempo de guerra - voluntário...
Como vê,os alhos podem misturar-se com bugalhos, sem que daí venha mal ao mundo.
E já agora, para terminar, todos os dias utilizo a minha secretária(o móvel)que pertenceu a Brito Camacho no escritório do meu Avô.
E uso uma pasta para transporte de documentos marcada AOS.
Cumprimentos.
Eu hoje ando incompreendida...
Foi no Dragão e agora é v.
Eu disse big brother, com minúsculas, de propósito.
A questão é que o Orwell e outros teóricos precepcionam a mamipulação pela linguagem com algo ditado de cima a que os outros obedecem.
o José entende a questão de forma muito mais fluida- são memes que se propagam por quem fala.
Já sei que v. vai logo dizer que tem de haver uma causa e quem pense em divulgar assim e tudo o resto.
Mas esse é o trabalho que o José depois complementa com a pesquisa.
Mais ninguém faz isto- os outros limitam-se a procurar a tal "causa" a atribuir-lhe uma ideologia, ou uma cara e não entendem a fluidez da fala.
Acho que o José é único principalmente porque não é apenas um "homem de ciências" nem um "homem de letras".
Tem outra arte que conjuga a racionalidade de uns com a precepção mais difusa e sem se resumir ao que v. quer.
O José apanha isto nos media.
V. fala com o hajapachorra ou com qualquer académico e eles encolhem os ombros em tom de desprezo.
Para eles tem de estar tudo nos livros e haver um teórico responsável (ou culpado, na sua lógica)
Ora isso é fácil de fazer.
Difícil é apanhar memes por ouvido e memes que até entram em mutação e recriação e são ditos pelas pessoas sem que as próprias sabem o motivo pelo qual dizem.
É dizer por ouvir dizer. A coisa pega e transmite-se e a palavra fica no lugar de uma recriação de um significante que é simulacro.
Nem é o kispo no lugar do blusão- é o kispo no lugar de um simulacro que se diz que é blusão mas do qual só se conhece o nome de kispo e que nem dá para agarrar e vestir
E o José nem apanha isto nos media- o José lembra-se porque apanhou na altura.
Por ouvido. Até se lembra da entoação diferente da mesma palavra mágica.
eehhehe
Vou-lhe contar.
em miúda eu gostava de espreitar grupos. Das zundapps gamadas a outros.
Grupos da época. Sempre com um pé fora mas com gosto de meter o nariz em tudo.
E aquilo que mais mordia era a linguagem de código de grupo que todos inventavam.
Era uma espécie de farda. Algumas coisas eram modas e eram "compradas" de fora.
Mas, para o caso, o que eu gostava de ver era o modo como essa linguagem se sobrepunha à função do grupo.
A dada altura viviam de palavras e para palavras.
E isto acontecia em toda a parte e ia variando de grupo para grupo.
Mas nem era só palavras- eram os tais esquemas de pensamento e semântica.
E penso que as pessoas podem viver de palavras.
Daí a gigantesca importância qu elas têm.
A grande diferença é que o José conegue apanhar isto sem ir buscar aos livros.
E isto é tão vivo e tão verdadeiro que ele apanha as "aclimatações" locais das ideias e das palavras originais de onde provêm.
Olhe, tentei fazer isso na iconolgia de coisas portuguesas- precisamente apanhar esquemas visuais e aclimatações quando cá chegaram.
Pensei visualmente o que o José faz em matéria da história recente e da sua linguagem de esquerda.
No meu caso percebi que sem apanhar esses esquemas nossos, da época- essas aclimatações, mais não faria que repetir o que os outros sempre disseram- as fontes e as origens e depois aplicar tudo de forma igual em toda a parte.
Ou o inverso- achar-se que é tudo original e depois passar para o confrotar com o global.
Não é nem uma coisa nem outra- é um misto que tem de se agarrar.
Vai já a seguir outro exemplo do que pretendo dizer. Pode ser que se compreenda melhor...ahahah
Eu percebi.
A questão é que o Orwell e outros teóricos precepcionam a mamipulação pela linguagem com algo ditado de cima a que os outros obedecem.
O que queria dizer é que isto não é o que diz no texto do Orwell, simplesmente.
Ele até diz que a dado ponto se torna mais fácil e rápido falar por frases-feitas.
E alude, penso eu, com a frase que eu deixei acima, a uma possível razão: esses memes, ou linguagem de trapos, ou frases feitas, conforme se prefira, são empregues por necessidade de explicar aquilo que não pode (ou se não quer, no caso dos seus grupos) ser explicado em linguagem clara.
E no que o Orwell vai mais além, parece-me, e eu concordo, é relacionar a linguagem com o pensamento: quem usa frases feitas não pensa o que diz. Porque se pensa com a linguagem.
Logo, quem tem uma linguagem ambígua, vem a ter pensamento ambíguo.
E daqui penso que se pode explicar muita coisa...
Acho que não é para se explicar nada.
São códigos tribais para fazerem valer funções abstractas.
Para fazerem valer como real coisas inexistentes.
Venha ele
eehehhe
O presente artigo centra-se, sobretudo, na imprensa. Eu lembro-me de uma entrevista televisiva dada por Francisco Pereira de Moura pouco depois do 25 de Abril de 1974 (Maio de 74? Junho de 74?) em que este tentava, justamente, explicar o que era um fascista. Se bem estou recordado, dizia qualquer coisa como isto: «vocês vão ao médico e o médico não vos atende, é fascista.»
A verdade é que eram tempos revolucionários e, como sempre, em tempos revolucionários, não se pode levar muito a sério o que neles se dizia e fazia.
A sério, julgo que quem esteve mais próximo de definir com relativa aproximação à realidade a natureza do regime anterior ao "25 de Abril" foi o Professor António José de Brito, numa entrevista que deu ao jornal Independente e que reproduzo parcialmente abaixo:
«JORNALISTA: Quando se descobriu “fascista”?
AJB: Foi em Coimbra que fiz a minha descoberta ideológica, por alturas de 1945. A leitura da doutrina fascista foi um ponto de partida. Tinha 17 anos e alguma consciência política, era um conservador. E anticomunista, embora não muito consciencializado, diga-se. Aliás, dois ou três anos antes, li coisas sobre o comunismo para me informar, mas só em Coimbra é que me chegaram às mãos trabalhos com interesse, como sejam os trechos escolhidos de Marx sobre Filosofia e Economia. De resto, li também imenso os autores da Seara Nova, António Sérgio, cujo racionalismo bastante me influenciou, e Raul Proença, sobretudo. Na minha juventude, porém, apreciava Salazar, o que, naquela época, era um sentimento bastante generalizado. Mormente porque ele tinha evitado o nosso envolvimento na guerra.
JORNALISTA: Mas identificava-se com o regime?
AJB: Não muito. Aliás, quando Marcelo Caetano surgiu com a liberalização, publiquei um opuscoluzinho chamado “Sobre o momento político actual”, no qual dizia estar ao lado do regime em tudo o que fosse antidemocrático, antiliberal, anticomunista, autoritário e nacionalista, mas contra aspectos demasiado conservadores e de transigência demasiada com o capitalismo. Eu teria sido mais socializante, teria cortado mais as unhas aos grandes capitalistas. Estava mais à direita do regime e de Salazar, embora tivesse com ele pontos em comum, sobretudo quando ele podia falar à vontade, nas entrevistas com o António Ferro...
JORNALISTA: Mas houve alguma altura em que Salazar não falou à vontade?
AJB: A partir de 1945, pode ter a certeza que ele não falava muito à vontade. Embora sob reserva porque é uma informação em terceira mão que me foi contada por um grande amigo e poeta chamado Amândio César, digo-lhe que o Salazar terá enviado uma carta ao Alfredo Pimenta, na qual, a propósito do discurso do “bendigamos a paz, bendigamos a vitória”, teria escrito uma coisa deste género: “Engula esta que eu também a tenho de engolir”.»
Continuação:
JORNALISTA: O senhor é fascista. Salazar era o quê, então?
AJB: Era um nacionalista-conservador ou um contra-revolucionário, se quiser. A diferença estará na concepção do Estado, ele entendia-o como limitado. Além disso, era católico. Ora, o fascismo é imanentista, tem grandes influências de Nietzsche e de uma certa leitura italiana de Hegel, sobretudo com Croce e Giovanni Gentile. Este enveredou pelo fascismo e o Croce assumiu o antifascismo, mas sem nunca aceitar os Direitos do Homem.
JORNALISTA: Também não subscreve a Carta dos Direitos do Homem?
AJB: Não subscrevo, obviamente, pois não tenho uma visão pessimista nem optimista do Homem. O Homem, enquanto tal, não tem direitos porque pode errar, praticar amplamente o mal, e pode até ser contra os próprios Direitos do Homem. E como é que se explica um paradoxo destes, vamos admitir que o Homem tem direito a combater os Direitos do Homem? Se não admitirmos, o Homem tem de estar submetido a uma disciplina, não tem direitos inerentes.Mas voltando a Salazar, lembro-lhe que José Hermano Saraiva disse há pouco tempo que Salazar era antifascista...Eu sei, eu sei, e até julgo que disse mal, mas foi por bem. Mas deixe-me dizer-lhe uma coisa: até 1945, o Salazar tinha o retrato do Mussolini na sua banca de trabalho. Dizer que ele era antifascista só por graça, pelo amor de Deus! A menos que ele só tivesse o retrato para lhe cuspir.»
Em suma, Salazar - católico e sempre com horror às massas e aos revolucionários - nunca foi, em bom rigor, fascista, um sistema revolucionário, de massas e de partido. Não obstante, o seu regime conheceu nos anos 30 do século XX uma deriva vagamente fascista, inequivocamente assumida por António Ferro e com afloramentos meramente simbólicos na saudação de braço estendido, na Legião Portuguesa e na Mocidade Portuguesa. Por motivos óbvios, essa deriva desapareceu completamente a partir de 1945.
Seja como for, a palavra «fascismo» foi depois usada com um significado completamente diferente, não para designar os regimes do tipo do de Mussolini, mas para designar todo e qualquer regime autoritário anti-soviético, por contraposição aos regimes autoritários pró-soviéticos. Foi uma evolução que traduziu a apropriação do discurso pela esquerda do PCP, mas é um tipo de evolução corrente na língua e que acabou por se impor até se tornar natural. Há sempre uma força dominante que se apropria do discurso (por exemplo, as forças liberais que actualmente dominam o regime também se apropriaram do discurso e usam a palavra «poupanças» para designar todo e qualquer corte na despesa pública, seja qual for a sua natureza). Outro exemplo desta evolução da língua de forma ideologicamente marcada foi o desaparecimento das palavras «lavoura» e «mocidade» e a sua substituição pelas palavras «agricultura» e «juventude», respectivamente.
Obrigado pela transcrição e pela ideia expressa sobre a linguagem modificada.
Porém, no caso de "fascism", a ideia vai mais além do que AJB refere: quem assimila o regime anterior ao fascismo fá-lo de um modo mais abrangente ainda do que simplesmente para referir um regime anti-comunista.
O PS também é anti-comunista como se viu em 1975 e no entanto, refere-se ao regime anterior como "fascismo".
A ideia que peregrinou desde 1974 é mais insidiosa porque reduz o antigo regime a uma amálgama do Mal.
O Mal é designado como "fascismo" e de tal modo que ninguém se atreve a defender o regime anterior de modo algum, sem temer ser apelidado fascista.
"o Estado Novo e o Estado Social eram "fascistas"
Estado Social não havia, inexistente - havia era estado fascista é obvio
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