O Económico publica um apontamento de reportagem sobre um português que ensina Economia lá fora: Ricardo Reis, nascido em 1978 e que é de Leça da Palmeira. Deve conhecer o polvo do António, pela certa.
Ricardo Reis, como aluno, tinha 20 a tudo, segundo se conta. Fascinam-me estas pessoas porque têm algo que nunca tive, mesmo nos primeiros sete anos de escolaridade em que me sentia o melhor: uma capacidade extraordinária de aprendizagem, provavelmente feita de memória excepcional e inteligência qb, a par de tendência para pensar em abstracto de modo muito rápido e preciso. Deve ser uma questão de sorte neurológica e talvez de parentela adequada. Sorte, a de Ricardo Reis, por ser assim.
Em Harvard conheceu aquele que é o seu maior mentor, Gregory Mankiw,
economista reconhecido pela sua investigação na área do
"novo-keynesianismo" e que foi um dos principais conselheiros do
ex-Presidente norte-americano George W. Bush.
(...)
Em 2004, arranjou emprego em Princeton, como professor auxiliar. Três
anos depois, trocou Princeton pela Universidade de Columbia, que lhe
ofereceu o cargo de professor catedrático - a primeira e maior promoção
da carreira, que lhe permitiu "saltar" mais de dez anos no que é o
percurso normal de um professor universitário nos Estados Unidos.
Foram
várias as razões que levaram a Universidade de Columbia a fazer uma
aposta tão arrojada. Uma delas terá certamente a ver com o artigo que
Ricardo escreveu com o colega e também mentor Alan Blinder, no final de
2005, onde analisou o mandato de Alan Greenspan à frente da Reserva
Federal norte-americana. O texto causou grande impacto no mundo
académico e, mais tarde, também na imprensa internacional, que começava a
olhar com maior interesse para temas relacionados com os mercados e a
política monetária.
Algumas partes da reportagem referem coisas interessantes. Por exemplo:
"António, o primeiro filho, nasceu com vários problemas de saúde. "Passou
muito tempo nos cuidados intensivos e, sendo o sistema americano de
saúde como é, fomos à falência", recorda, com humor. Os cerca de dois
milhões de dólares gastos em hospitais e tratamento - em boa parte
suportados pelo seguro - foram bem empregues e hoje reserva elogios ao
sistema americano, que lhe deu "poder para decidir os melhores
tratamentos, ao contrário do que acontece em Portugal, "onde é um comité
que toma as decisões, com base nos custos para o Estado"."
Só isto dava para se discutir o sistema de saúde português, o famigerado SNS inventado pelo maçónico Arnaut no ano em que Ricardo Reis nasceu.
Depois, isto que reflecte igualmente um "parece mas pode não ser":
Em 2008, depois de escrever um texto onde alertava para os riscos de uma
crise em Portugal e considerava que o país estava estagnado desde 2000,
sentiu pela primeira vez o potencial impacto negativo do espaço
público.
"Houve muita gente a ficar chateada com o que escrevi e
vários ‘bloggers' e colunistas, mais ligados à esquerda, foram buscar
uma frase de uma entrevista minha, fora de contexto, dizendo que eu era
um palerma que tinha previsto que a crise do ‘subprime' não ia durar
mais do que duas semanas", conta. "Sou um palerma por muitas outras
coisas, mas essa previsão é mentira, nunca a fiz", explica, sempre
bem-humorado. "Perguntavam-me o que se estava a passar nos mercados e
disse que havia duas possibilidades: uma era ser um mero distúrbio, do
qual daí a duas semanas ninguém falaria, a outra era ser o início de
problemas graves no sistema financeiro, que poderiam levar a uma crise
muito profunda."
Os economistas, mesmo os de topo da escala académica, como Ricardo Reis sabem quase nada sobre os fenómenos sociais e políticos que provocam estas "crises ciclicas do capitalismo" e por isso quando notam o aparecimento de uma qualquer turbulência não sabem o que dizer ou fazer a não ser colocar hipóteses. É por isso que não devemos confiar cegamente nestas pessoas, mas tambémnão podemos passar sem elas. Paradoxos...