quinta-feira, junho 30, 2016

A Mabor de Salazar e Cerejeira na origem do investimento da Continental

Sapo RR:

O primeiro-ministro, António Costa, afirma que os alemães conhecedores da realidade nacional confiam e investem em Portugal.
Um dia depois de o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, ter declarado que Portugal pode precisar de um novo resgate se não cumprir as regras europeias, António Costa deixou uma mensagem nas redes sociais.


 Quem é  a Continental? Uma empresa capitalista da Alemanha que já vem do séc. XIX...

 Em 1871 a Continental é fundada como „Continental - Caoutchouc- und Gutta-Percha Compagnie“, uma Sociedade Anónima, por nove banqueiros e industriais residentes em Hanôver, Alemanha.
No entanto, não existia nenhuma ida à bolsa no sentido de hoje. As acções foram primeiro distribuídas entre os nove fundadores e só foram transacionadas pouco a pouco. Já em 1873/74 a acção é cotada na bolsa de Hanôver. 

A “marca do cavalo” já se encontra registada desde Outubro 1882 como logomarca da Continental, no Instituto Imperial de Patentes de Hanôver e protegida até hoje como distintivo expressivo.
No fim dos anos 1920, importantes empresas da indústria alemã de cauchu, unem-se formando a „Continental Gummi-Werke AG“. Esta produz quase exclusivamente na Alemanha. Porém, a quota de exportação sobe continuamente.
A orientação internacional do fabricante de pneus alemão para fornecedor internacional da indústria automóvel, começa em 1979, sendo desde então levada em frente com determinação.
Em 1979 a Continental adquire as actividades europeias de pneus da Uniroyal Inc. americana. Com isto a Continental cria uma base mais alargada na Europa.
Em 1985 a Continental toma definitivamente pé na Europa com a aquisição da marca de pneus austríaca Semperit.


A Continental tem ligações a Portugal através da Mabor...que é uma fábrica nacional cuja história é esta:

A marca Mabor (sigla de Maria Borges, mulher do Conde da Covilhã, fundador da empresa) é a pioneira no fabrico de pneumáticos em Portugal.

A sua história remonta a 1938 e ao Lousado, uma zona particularmente pobre do norte de Portugal. O cardeal Cerejeira pede ao seu bom amigo, dr. Júlio Anahori de Quental Calheiros - Conde da Covilhã e Presidente do Concelho de Administração do “Banco Borges & Irmão -, para trazer, para esta freguesia de Famalicão, uma indústria.

Uma vez que não havia qualquer fábrica de pneus em Portugal, na criação da Mabor o Conde da Covilhã contou com as amizades que tinha na General Tire e Rubber Company, para o fornecimento de tecnologia e maquinaria necessárias. Como contrapartida, a empresa americana ficou com 20% do capital.
(...)
Após a crise do petróleo em meados da década de 70, o regresso às competições acontece na década de 80 com o Troféu Mabor.
A abertura do mercado internacional e a falta de investimento na modernização das instalações e no desenvolvimento tecnológico resultou numa perda de competitividade dos seus produtos. Em 1989 surge uma oportunidade de revitalização com a criação de joint-venture com o fabricante alemão Continental. No negócio entra também a ITA – Indústria Têxtil do Ave S.A.R.L
A nova empresa, Continental Mabor, Indústria de Pneus SA, vem dar resposta à necessidade contratual de incorporar produção nacional nos veículos que iriam começar a ser produzidos na AutoEuropa, em Palmela: VW Sharan e Ford Galaxy.

Em 1993, a Continental assume o controlo total da Continental Mabor (até então detinha 60% do capital) e integra o valor da marca no seu espólio de produtos.
Actualmente, os pneus Mabor são produzidos não apenas em Portugal mas em diversas fábricas do grupo alemão, o quarto maior fabricante de pneus e o maior fornecedor mundial de equipamento para a indústria automóvel.


A sorte da Mabor e agora do investimento da Continental tipicamente capitalista, foi a de ter escapado à febre nacionalizadora do PREC dos anos setenta...que gerou muitos gestores que temos, no Estado.
Mas essa história não interessa nada lembrar à geringonça que governa, a não ser que tem lá gente que é visceralmente contra este capitalismo...
E foi por pouco, muito pouco porque em 1974-1975 o panorama apresentava-se negro e de "combate":

Os trabalhadores da Mabor (fábrica de pneus na Lousada) escreveram um longo manifesto (ver Combate nº 5, 26 de Julho de 1974) onde concluíam: “Hoje sabemos que a nossa luta faz parte da luta que todos os operários travam contra todos os patrões onde quer que a exploração destes se exerça sobre quem tudo produz e pouco recebe. [...] Hoje sabemos que só quando todos os explorados se unirem contra os exploradores conseguiremos vencer total e definitivamente!”.

Foi por um triz que estes combatentes do capitalismo que agora tecem loas ao investimento estrangeiro precisamente na fábrica que então contestavam, não ganharam a parada e liquidaram a empresa porque foi o que sucedeu com muitas outras, as maiores, aliás.

Na vanguarda destas lutas estavam os Rosas e os Louçãs que continuam aí como se nada fosse e a defender o mesmo de sempre, com outro paleio mais suave e elaborado. E ninguém lhes retira o megafone mediático porque são até os mais requisitados pelas Lourenças e todos os pés-de-microfone das televisões.
Até patrocinam estudos académicos sobre a loucura do PREC como se fossem algo com dignidade intelectual acima do jornalismo caseiro.


A Mabor foi uma empresa tipicamente nacional do tempo de Salazar e se foi implantada em Portugal tal se deve ao cardeal Cerejeira, que era de Lousado, Famalicão e sabia a pobreza que então existia, tendo feito algo para diminuir tal situação.

Em vez de lutar contra o capitalismo e defender o socialismo colectivista, apoiou a implantação de uma empresa capitalista que se tornou modelar, mesmo actualmente, com o aplauso da esquerda da geringonça.
Ironias do destino...e que deviam ser lembradas pelo primeiro-ministro em exercício, em vez de louvaminhar apenas o investimento (capitalista) estrangeiro.

19 comentários:

Floribundus disse...

o monhé ignora o que se passa no rectângulo

limita-se a vender a banha da cobra

o comentador deve estar a surfar no Guincho

lusitânea disse...

eh eh eh

Ricciardi disse...

A Mabor não é propriamente o exemplo do capitalismo liberal. Talvez o exemplo do cooperativismo economico não comunista. A razão é que a Mabor foi construída e teve sucesso pela simples razão de ter sido dada uma licença (sim, havia condicionamento industrial) exclusiva e que lhe garantia monopólio durante muitos anos.
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Com essa garantia estatal de que não haveria concorrência o Banco Borges não teve dúvidas em investir no negócio (protegido).
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Na união soviética também era assim. Só abriam indústrias que o estado autorizasse.
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Não obstante, mesmo não sendo um sistema tipicamente capitalista liberal, penso que para o caso português e da dimensão do mercado, se justifica plenamente a opção pela lógica corporativista.
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Rb

muja disse...

Em qualquer lado só abrem indústrias que o Estado autorize através da regulamentação da actividade económica.

Não venhas para aqui ladrar de cátedra porque tu és um ignorante. Ignoras o que foi o condicionamento industrial e quanto a corporativismo nem escrever a palavra sabes e muito menos lhe conheces o significado.


josé disse...

Não escrevi capitalismo liberal porque é uma redundância, a não ser que se compare a China com os EUA.

Escrevi que a empresa era o exemplo do capitalismo da época e que concedia à iniciativa privada a primazia de implantar unidades de produção industrial.

Ricciardi disse...

Sim mujinha, tens alguma (nao toda, não te habitues) razão. O estado português ainda conserva alguns tiques de corporativismo economico nalgumas áreas. São tiques anti-capitalistas das esquerdas que vão certamente passar. Pois, ele há negócios protegidos e monopolistas em Portugal. Por isso é que são mal geridos e engolidos por empresas estrangeiras. Olha a ANA por exemplo é o bom exemplo.
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Rb

Ricciardi disse...

Mas note-se, eu acho que foi, e continua a ser, necessário dar alguns incentivos proteccionistas a certas e determinadas actividades. Ou até para fomentar algumas como foi o caso da Mabor. Sem proteccionismo nunca teria arrancado o investimento.
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Salazar não fez nada mal em optar por uma economia corporativa. Mas o corporativismo não funciona para sempre. Ao mesmo tempo deve-se ir fomentando a concorrência para as empresas não envelhecerem com os donos.
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E foi isso que aconteceu no velho Estado Novo. Parou no tempo e os negócios também. O país envelheceu com o líder.
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Por isso é que o poder de remover é importante. Uns 15 anos antes e a substituição de Salazar por Caetano tinha sido uma benção para os portugueses.
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Mas foi bom enquanto durou regime. Nunca alguns ganharam tanta massa como naqueles tempos. Os sacanas dos comunas estragaram tudo ao nacionalizar negócios.
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Rb

muja disse...

Não é só o Estado português. É qualquer estado.

Os liberais de algibeira gostam de encher a bochecha com o condicionamento industrial e o corporativismo, que foi a razão do atraso e pardais ao ninho. Como se antes houvesse ou depois viesse a haver alguma coisa que se visse...



Ricciardi disse...

As ideologias não me interessam para nada. Sou mais adepto do pragmatismo. O que tem de ser tem muita força.
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Mas é curioso está estória do corporativismo. Pois na América que é o paradigma do capitalismo liberal, o farol do mundo neste capítulo, descobri recentemente que é imensamente pro-corporativa, numa versão mais moderna. Pois então, estava eu a fazer zapping e descobri um canal onde estava a dar um programa que se chama 'shark tank'. É um programa onde verdadeiros símbolos capitalistas gringos investem em ideias de negócios que por lá aparecem. No fim do programa houve uma característica que detetei com sistemática regularidade nesses capitalistas. Eles só investiam em negócios com patentes bem delineadas. O mesmo é dizer que só investem em negócios com monopólio à vista.
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Sem essa garantia eles não entravam no negócios.
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Portanto, chamam-lhes capitalistas mas o risco de negócio fica limitado à concorrência que é o pilar do capitalismo liberal. O capitalismo liberal é o verdadeiro capitalismo. E não é redundância alguma. As outras variações não são capitalismo senão no jogo de palavras.
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Rb

muja disse...

Tu és adepto é da estultícia.

O capitalismo liberal ou outro qualquer visa, como é evidente, o monopólio; ou, não sendo este possível, o cartel.

A razão é simplória: é o que mais rende.

A concorrência só interessa para destruir os concorrentes. E é quando não se pode recorrer a outras coisas como as aquisições ou o dumping. Nisto é como a esquerdalha mai-la a sua versão da concorrência a que chama tolerância.

Por isso é que qualquer estado com dois dedos de testa tem de criar - e criou - regras para impôr limites. Até esse farol do capitalismo liberalismo dos pardais ao ninho teve de inventar as leis anti-trust para quebrar os monopólios, que tem de aplicar recorrentemente.

Ricciardi disse...

Para terminar, mujinha, sinceramente fico feliz quando te vejo comentar. Com as notícias de bombistas suicidas islâmicos a sucederem-se temo sempre que seja um português o sacrificável e que esse português sejas tu.
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Vai dizendo coisas, mesmo que seja para me corrigir erros na escrita. Eu não levo a mal e não me abespinho com isso. Até dá jeitinho ter um corretor automático ortografico à borla.
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Rb

josé disse...

Uma fábrica de pneus tem nada de nada a ver com o condicionamento industrial.

Quem fala de condicionamento industrial fá-lo apenas para denegrir o regime de Salazar e Caetano e nada mais.

Faz a mesma coisa que agora quando fala no BPN e não quer que se toque na investigação à CGD.

Ou seja, quem isso faz nem merece consideração intelectual de espécie alguma.

tharros disse...

Não havia qualquer monopólio nem garantia de não concorrência, veja-se o caso da fábrica de pneus da norte-americana Firestone a laborar em Alcochete desde finais dos anos 1950.

josé disse...

A prova da falência do regime De Abril está no facto de em dez anos que se seguirem a 1974 terem dado cabo da nossa principal indústria, terem escorraçado os industriais sob o pretexto de serem fascistas e ainda hoje repisarem a mesma ideia, porque nunca tiveram outra.


Essa tragédia nacional é inteiramente atribuível à Esquerda do PCP da extrema-exquerda agora representada pelo BE e também pelo PS que só em 1989 aceitou reformular o artigo da Constituição que proibia a reprivatização, abolindo a famigerada "irreversibilidade das nacionalizações".

Isto é tão claro, tão nítido e tão retumbante que só quem esteja de má-fé não quer ver.

Maria disse...

"Não venhas para aqui ladrar de cátedra porque tu és um ignorante." (Muja)

Desculpe lá Ricciardi e não leve a mal, mas farto-me de rir com certas saídas de Muja especialmente direccionadas à sua pessoa. São do melhor e sempre de uma espontaneidade a somar a uma rapidez de raciocínio e igual capacidade argumentativa de fazer inveja ao mais erudito ou poliglota. Eu já o admiro pelo que escreve porque vai d'encontro ao meu pensamento político, mas não posso deixar de salientar as suas tiradas que são de fazer chorar a rir o mais sisudo:)

E não se trata apenas no que acima referi em que Muja é verdadeiramente único. Ele merece sobretudo o reconhecimento de quem o lê pelos textos extremamente bem elaborados baseados no seu profundo conhecimento dos temas abordados, fruto certamente de uma pesquiza e investigação incansáveis traduzidas numa inesgotável curiosidade intelectual que não esmorece perante as piores adversidades políticas, as mesmas que todos nós, como povo, temos vindo a enfrentar e que ele, quase isolado na sua batalha a favor de um País melhor (levada a efeito quase só na internete e onde, é justo sublinhá-lo, também peroram com indiscutível grandeza e patriotismo o José e mais alguns bravos portugueses) teima em travar através da escrita e contra ventos e marés. Luta que levaria ao desânimo o mais estoico, mas não ele que teima com coragem e determinação em levá-la até onde Deus e o destino o permitir.
Textos carregados de esperança eivados de uma Fé inabalável premonitória de que melhores dias virão, cuja leitura devolve-nos uma paz interior e uma alegria de viver indefiníveis, quantas vezes quase perdidas, para as quais palavras de agradecimento serão sempre insuficientes.

E o seu contínuo pleito para que Portugal volte a ser o que já foi - Grande, Independente e Soberano e governados por portugueses dignos, honestos e patriotas - mais cedo ou mais tarde irá ter sucesso. E obtê-lo-á com a ajuda dos dez milhões de portugueses a viver no País mais os cinco milhões a residir temporàriamente no exterior. Essa será a nossa Vitória final. Tratar-se-á de travar uma guerra sem quartel da qual saíremos vitoriosos, pois nem o mais poderoso dos nossos inimigos terá força anímica (e porventura militar) suficiente para nos conseguir vencer.



Parabéns ainda ao José pelo seu inteligente texto e pelas oportunas e importantes observações que o completam, sem esquecer as excelentes reproduções dos artigos que deixou.

Orlando Sousa disse...

Todos os anos a Mabor distribuia um envelope com dinheiro (a quantidade variava de ano para ano, mas andava sempre perto de um ordenado) no fim do ano, como distribuição dos lucros, a todos os funcionários.
No mês de Agosto a fábrica parava a produção e esse mês era destinado a tarefas de limpezas e manutenção (caldeiras, calandras, etc.). Para essa tarefas, além de alguns trabalhadores permanentes, a Mabor contratava, com contrato de trabalho, descontos, etc, filhos de funcionários. Era uma maneira de "dar escola" a eventuais futuros funcionários. Tinham prioridade na contratação quando a fábrica admitia pessoal.

josé disse...

Em 1974 a "Inter" estava muito preocupada com os 13 sindicatos que lá havia...porque queria a "unicidade".

Depois foi o que se viu: bancarrota em 1976. O PS tem grandes culpas nesse cartório apesar de ser contra a tal unicidade ( por motivos próprios uma vez que queria controlar a UGT e apenas por isso).

Maria disse...

O comentário de Orlando Sousa fez-me lembrar outra Empresa, a TAP, que também distribuía os lucros pelos funcionários. E tinha duas particularidades bastante agradáveis que denotavam o carinho e a atenção com que tratava os passageiros. Lembro-me de por exemplo antes das refeições completas (não sei se mesmo nas mais ligeiras) distribuírem pelos passageiros toalhetes de turco verdadeiro (nada de tecidos artificiais) para a higiéne das mãos. Tinha ainda outro miminho com que presenteava os passageiros. Já não me recordo exactamente em que altura dos vôos, mas nas várias viagens que fiz serem oferecidas aos passageiros pequeninas tabletes de chocolate - um verdadeiro luxo só possível no tão difamado regime anterior - que não só os surpreendia como os deliciava.

Ainda outra nota. As refeições servidas a bordo eram de muita qualidade e extremamente bem apresentadas. Tudo na TAP dignificava a Companhia e engrandecia os funcionários. E ao contrário do que passou a acontecer depois dos democratas tomarem d'assalto o poder, esta que foi uma Companhia grande dentre as grandes, passou a ser altamente deficitária (em muitas centenas de milhões, anualmente) e perdeu qualidade nos serviços prestados em todas as suas áreas. Se foi para mais esta destruição (das milhares de outras que houve até hoje) daquela que foi uma das mais seguras e prestigiadas Companhias Aéreas em todo o mundo, que se instituiu a 'democracia' no País, então quem esteve por detrás de tão bela obra, além de criminoso em alto grau, bem pode limpar as mãos à parede.

Maria disse...

Leia-se no meu penúltimo comentário "... até onde Deus e o destino o permitirem" (e não 'permitir').

O Público activista e relapso