A revista francesa L´Histoire, em número especial deste mês publica um estudo divulgador sobre a África.
À míngua de encontrarmos por aqui artigos semelhantes e com a distância requerida pelo tempo, aqui vão algumas páginas que nos dizem respeito, sobre a colonização e descolonização e o que se seguiu.
De repente torna-se interessante saber por que razão Mário Soares e o PS de época apoiava o líder Jonas Savimbi, da UNITA, contra o outro líder do MPLA. A razão profunda, quero dizer.
A colonização portuguesa teve um contexto e a descolonização idem. Esse contexto tem sido apresentado de modo diverso por quem defende uma ou outra. Parece certa, porém, uma conclusão: Portugal não tinha hipótese plausível de se manter país ocupante e colonizador de outros países em África, fosse de que modo fosse e durante muito mais tempo, no século XX. A não ser que fizesse como na América: expulsar os pretos desses países, reduzindo-os a reservas étnicas e dominando através de um melting pot improvável toda a estrutura social e produtiva. Nem a África do Sul conseguiu tal ambiente apesar de ter quase 10% de população branca em 1950. Frederik De Klerk, um afrikaner, compreendeu tal fenómeno e capitulou por não conseguir aguentar mais tempo a sobrevivência anacrónica de um regime sem futuro pacífico.
Portugal, com Salazar, teve a mesma dificuldade de compreensão e atolou-se numa guerra que não teria fim nesse contexto histórico. Resultado: estávamos condenados a deixar África enquanto colonizadores, mas poderíamos ter de lá saído de outro modo mais consentâneo com os interesses dos que lá estavam.
Mário Soares, porque razão apoiava a UNITA, se contribuiu mais que ninguém para entregar as antigas províncias ultramarinas aos comunistas do MPLA, FRELIMO e PAIGC? É um mistério que apenas se deslinda se interpretarmos essa opção como um erro de timing ou uma incompreensão do que se estava a passar, em 1974-75.
Qualquer uma dessas interpretações retira-lhe o estatuto de homem de Estado como outros o foram, no caso, Salazar e Marcello Caetano, indivíduos que merecem outra atenção nacional e outro estudo que não há nos media. Porque ainda são fassistas, segundo a determinação mediática, sem grande contestação, dos comunistas e esquerda em geral e assim se arrumam no canto da História.