Não sei bem como se explica o que é um som de alta
fidelidade musical mas vou tentar para me convencer a mim mesmo que talvez
saiba o que seja.
No último número da revista Hi-Fi News ( Abril 2018) José Victor Henriques aqui já mencionado, reincide na escrita elegante sobre um produto sonoro de grande luxo e custo a condizer: um sistema de prè/amplificação da marca Dan D´Agostino, nome do próprio engenheiro que o criou e que em tempos criava para a Krell, nos EUA:
Quando era pequeno, nos anos sessenta, estas aparelhagens não existiam como hoje, enquanto objectos de tamanho luxo e não dava importância alguma às que existiam enquanto aparelhos reprodutores de som. Um som musical era um som e mais nada. Fosse de um gira-discos ou de um
altifalante de campanário ou do rádio a válvulas, de marca alemã ( Telefunken, Graetz)
ou holandesa ( Philips) já de transístores, a música não tinha especialidades
técnicas de qualidade esquisita mas apenas letra, melodia e cantor(a).O rádio Graetz, amplificado a válvulas tinha um som cheio, de barítono, ao contrário do som flausino dos transístores, mas a música chegava da mesma fonte: discos em vinil ou gravações analógicas em fita magnética.
Em finais dos anos sessenta os japoneses enviaram para cá
alguns rádios pequenos, a pilhas que davam muito jeito para ouvir o “relato” e
numa certa altura eram os ciganos que os vendiam, à socapa das autoridades.
Tinham nomes tão apelativos como Conion ou Crown e captavam emissões em FM, com uma
pequena antena orientável e telescópica.
Foi num destes artefactos que ouvi pela primeira vez músicas como Fearless do álbum Meddle dos Pink Floyd ou What to do, de Manassas de Stephen Stills ou ainda Pare, escute e olhe, de José Jorge Letria, todos no programa Página Um, da Rádio Renascença, em 5 de Julho de 1972. Sei porque apontei numa folha da revista Mundo da Canção que saiu em 28 de Abril desse ano.
What to do, de Stephen Stills desde então é uma das minhas
canções preferidas, tal como Harvest de Neil Young tendo-os ouvido dezenas,
centenas de vezes ao longo destas dezenas de anos, sem cansar e sempre com o
mesmo gosto.
A diferença na reprodução sonora entre um transístor a
pilhas e um sistema de som sofisticado, tocando muito acima das normas básicas
Hi-Fi DIN 45500 , é assinalável mas não o é tanto a memória que tenho dessa
diferença.
Tudo isso terá a ver com o modo como recolhemos essa
informação e a recuperamos através da memória, com o sistema emocional à
mistura. De acordo com descobertas neurocientíficas dos últimos anos ( segundo
This is your brain on music, de Daniel J. Levitin, Dutton , 2006) esses
fenómenos interligam-se mas racionalizar não é sentir .
É provável que o gosto pela música e a sua reprodução
sofisticada acrescente mais alguma coisa a essa experiência primitiva, mas não
necessariamente nos casos apontados.
Há no entanto experiências musicais que se recordam de modo
diferente logo que o sistema de reprodução sonora se altere qualitativamente e
também tenha em conta a reprodução em modo analógico ou digital.
É o caso do disco dos Pink Floyd, Dark Side of the moon, de
1973. Quando saiu já vinha aureolado de som de qualidade superior, devido aos
efeitos especiais, relógios a matraquear, sininhos a tinir em surpresa, sintetizadores
e sons de repetição sequencial, batidas profundas de bateria e baixo e melodias
memoráveis, num conjunto de canções que se ouvem do principio ao fim do álbum
sem um momento de lassidão.
A música do disco, porém, para se tirar partido completo provavelmente
deve ser escutada numa aparelhagem de alta qualidade e por isso serviu de
disco-teste de equipamentos de hi-fi durante muito tempo, para impressionar o
ouvinte/cliente.
Para ouvir bem os primeiros sons do disco, as batidas profundas
de um coração imaginário, torna-se necessário passa-lo numa aparelhagem com os
mínimos exigíveis para a reprodução Hi-Fi: a norma DIN 45 500. E umas
colunas capazes de ir lá abaixo, às entranhas, buscar o som profundo das frequências mais
baixas. 20Hz, parece ser o limiar do ouvido humano, nesse extremo mas há gravações muito abaixo disso.
Numa aparelhagem média ou num rádio a transístores, em mono, esses
efeitos sofisticados perdiam-se e sobravam as melodias encadeadas da meia dúzia
de temas cantados e dos restantes instrumentais mesmo assim suficientes para
diferenciar o disco de outros.Talvez, ainda assim, melhor do que a reprodução musical digital, em mp3, actual, porque há qualquer coisa na reprodução do som digitalizado que cansa, mas essa discussão fica para depois.
Mesmo assim, não me lembro de ficar particularmente impressionado
com o som desse disco, mesmo que lá se ouvisse uma steel guitar ( em great gig
in the sky) que na altura era um som que me impressionava, no country. Mais
importante que a qualidade superior do som ouvido em hi-fi de luxo eram as
composições e a transição entre as mesmas, numa colagem perfeita que incita a
ouvir até ao fim, ainda hoje, sem cansaço o que é uma medida para definir um
clássico.
Até a capa nem era assim uma coisa avassaladora que se
sobrepusesse a outras. Em tom escuro, azul profundo ou preto mate, variável
conforme as prensagens, uma imagem decomposta em arco-íris e derivada de um
prisma, de um raio de luz, atravessava a capa de um triângulo a outro invertido
na contracapa. E nada mais, nem o título nem o nome do grupo. E por isso trazia
um auto-colante…
Aliás, nessa época, era possível ouvir outros discos com
sonoridade que em sistema hi-fi impressionava de igual modo ou superior.
Por exemplo, o disco de Neil Young, Harvest, de 1972, começa com uma batida rítmica que não evocando
batidas do coração, apela a um sentimento que toca uma corda profunda. Ainda
hoje é assim e quanto melhor a reprodução ( disco original, gira-discos à
altura e audição cuidada) maior o efeito.
Outro disco com essa característica é Paradise and Lunch de Ry Cooder, publicado em 1974, já depois do 25
de Abril desse ano. A composição Fool for a cigarette passava no rádio de
então e lembro-me do efeito estranho da gravação que então me pareceu única.
Ainda hoje tem esse efeito porque é um disco muito bem gravado e prensado de
igual modo ( a versão original da Reprise americana) e cujo som pode ser apresentado como
demonstração de Hi Fi.
Há outros discos de grande qualidade cuja audição só mais tarde me foi
possível apreciar. Nessa época de início dos anos setenta, os discos ouviam-se
em condições aceitáveis nas discotecas que os vendiam.
Foi aí que aprendi a gostar de um Sleep Dirt de Frank Zappa, uma espécie sequela de Hot Rats, já no final dos setenta, a par de uma melodia dos Moody Blues logo no início da década.
Foi aí que aprendi a gostar de um Sleep Dirt de Frank Zappa, uma espécie sequela de Hot Rats, já no final dos setenta, a par de uma melodia dos Moody Blues logo no início da década.
Ainda não o sabia nessa altura, mas um disco não é apenas um
produto da criação dos músicos. Traz consigo a marca indelével de quem o
produziu, ou seja, o gravou, misturou os sons e imprimiu identidade ao som.
Nesse contexto destacam-se certos produtores que inovaram nas gravações de certos artistas e contribuíram para a sonoridade característica dos mesmos.
Nesse contexto destacam-se certos produtores que inovaram nas gravações de certos artistas e contribuíram para a sonoridade característica dos mesmos.
Quem ouve Dark Side of
the moon dos Pink Floyd pode não saber e era o meu caso na altura, mas a
sonoridade e o modo como foram montados os temas, alinhados, misturados e o
equilíbrio sonoro entre a parte instrumental e vocal, dependeu muito de um
engenheiro de som, Alan Parsons, também músico que mais tarde criou ele mesmo
discos de sucesso, como Tales os mystery
and imagination, com base na obra escrita de Edgar Alan Poe.
Para apreciar em detalhe técnico as particularidades
desse disco dos Pink Floyd e do papel relevante do produtor, saiu em 2003 um
documentário em dvd, muito instrutivo e com inéditos, particularmente uma
versão acústica, tocada por Roger Waters do tema Brain Damage que prefiro ao original sofisticado do álbum.
Por outro lado, sobre produtores de música popular e não só,
a revista inglesa Hi-Fi News anda há quase dois anos ( desde Junho de 2016) a
publicar mensalmente apontamentos de algumas páginas sobre os principais.
O primeiro, sobre George Martins, produtor dos Beatles
alcunhado o quinto Beatle. Por exemplo na canção In my life, de Rubber Soul, do final de 1965, Martin é o
instrumentista de um piano acelerado na gravação e que parece um hapsicord.
Outro produtor famoso que interveio na obra dos Beatles é
Phil Spector, actualmente preso por homicídio.
Spector pegou nas fitas magnéticas do álbum Let it be, já gravado no início de 1969
em versão Naked ( tal como foi publicado em 2003 num duplo cd) e deu-lhe o tratamento habitual que costumava
dar às suas produções dos anos sessenta, em músicas como You´ve lost that loving feeling ( The Righteous Brothers), encharcando-o de som denso e em três
composições mesmo orquestral. Para aquela do êxito dos Righteous Brothers precisou de quatro
guitarras acústicas, três pianos, três baixos, duas trompetes, dois trombones,
três saxofones e bateria.
Curiosamente, em produções dos anos sessenta só lhe interessava o som em bruto que poderia ouvir-se em mono, nos rádios de transístores.Era para esse meio que produzia.
Curiosamente, em produções dos anos sessenta só lhe interessava o som em bruto que poderia ouvir-se em mono, nos rádios de transístores.Era para esse meio que produzia.
Muitos outros produtores se notabilizaram na música popular
distinguindo-se uns dos outros por características que conferem à sonoridade dos
discos em que participam. Se o disco Dark side, dos Pink Floyd é também obra de
Alan Parsons e se notabiliza pelo encadeamento das faixas, tal ideia tinha já
sido explorada por Lou Adler, produtor de Carole King, no disco Tapestry
de 1971, cujos temas se sucedem uns aos outros através de um artifício: encadear as faixas fazendo
coincidir a última nota de um com a primeira do outro e escolher cuidadosamente
o alinhamento.
O produtor do disco Paradise
and Lunch, de Ry Cooder, Lenny Waronker, foi-o igualmente em muitos discos da
década de setenta, lembrando um que ficou na memória e passou na Página Um dos
primeiros meses de 1974, quando o ouvi: Midnight
at the oasis de Maria Muldaur, no qual participam como músicos alguns dos
que aparecem também em discos de outros artistas, designadamente a secção rítmica
( Jim Gordon e Jim Keltner).
Há produtores que marcam épocas e discos. Por exemplo o
americano Joe Boyd que é responsável pelo som do disco single dos Pink Floyd, Arnold Lane, inconfundível. Tal como dos
primeiros discos dos Fairport Convention.
Ou então Trevor Horn que em 1979 produziu Video killed the radio star dos Buggles
de que fazia parte ou em 1982 o disco dos ABC, the Lexicon of Love que me levou a comprar um dos poucos discos que
tenho dessa década de novos grupos. A sonoridade de um tema dos Yes, de 1983, Owner of a lonely Heart também é
apelativa, pela utilização de novos instrumentos sintéticos e electrónicos como
o Fairlight ou o Synclavier que já anunciavam o futuro digital.
Aquele disco dos ABC representa para mim o fim de uma era e
o começo de outra, nos anos oitenta. Na mesma onda se encontra o disco de David
Bowie, Let´s Dance, este produzido
por Nile Rodgers, outro artista dessa sonoridade, músico dos Chic, que também
produziu os Duran Duran e o de Madonna, Like a Virgin.
O precursor destes fora Roy Thomas Baker, com os Queen e o
single mais caro produzido na música pop: Bohemian
Rhapsody de 1975.
A ideia que ficava do som ideal partia dessas experiências
em que a fonte era exclusivamente o disco de vinil, ouvido ( e gravado) do
rádio ou o lp numa discoteca que estivesse a passar no momento.
Ainda assim tornou-se memorável um som gravado e transmitido
por uma PA de concerto em finais dessa década de uma composição dos Dire
Straits, Sultans of Swing que nunca
mais ouvi da mesma maneira, porque a dinâmica sonora era avassaladora para
ouvidos inexperientes de grandes amplitudes sonoras.
Hi-Fi? Alta Fidelidade? Que interessa se a música que então passava era a que melhor se podia ouvir para o efeito pretendido: envolvimento sensorial.
Hi-Fi? Alta Fidelidade? Que interessa se a música que então passava era a que melhor se podia ouvir para o efeito pretendido: envolvimento sensorial.
No fundo é isso que uma aparelhagem proporciona: um
envolvimento sensorial relativamente à música que tem uma vantagem
relativamente a outras manifestações artísticas, como o cinema: ouve-se vezes
sem conta uma música que nos agrada e tal nunca cansa e é sempre um prazer renovado
cada vez que se ouve.
A primeira experiência sonora relativamente a uma
aparelhagem de hi-fi de qualidade assinalável, tive-a no Porto, na discoteca
Santo António, na época a funcionar ao cimo da rua 31 de Janeiro e teria
acontecido já nos anos oitenta.
Tratava-se de uma amplificação japonesa, da Nikko que
alimentava umas colunas inglesas, B&W modelo superior, 801, salvo o erro.
Fantástico som que nunca mais sai dos ouvidos e se torna referência.
Antes porém, ainda nos setenta, apreciei o som da introdução
do disco Crisis? What Crisis?, dos Supertramp, na casa de um amigo e numa
aparelhagem Akai de contrabando, com umas colunas que tinham uma espécie de abertura
em óculo no topo ( Jetstream, de 1973 até 1976), por onde escapava um som digno
de registo na memória. Também não me lembro de ouvir melhor esse disco. Tal
como o de Sonny Terry e Brownie Mcgee saído nos setenta.
Depois dessas experiências memoráveis, no início dos oitenta
chegou a minha vez de ouvir em casa uma aparelhagem Hi-Fi, com os mínimos
exigíveis. Na altura a Grundig começou a comercializar um combo ( amplificador,
leitor de cassetes e rádio mais gira-discos no topo) compacto e relativamente
acessível.
O gira-discos era Dual, básico, com uma cabeça de leitura
sem sofisticação de maior e que deu para ouvir os primeiros discos que comprei,
saídos na época: o primeiro foi Movement dos New Order, saído em finais de 1981
e em prensagem de uma nova editora nacional, Vimúsica, com uma capa feita em
Camarate pelo Tozé-Artes Gráficas. 390&00.Caro, para a época.
Seguiram-se outros discos, poucos e devidamente seleccionados.
O J J Cale de 1981, Shades,
naturalmente e em edição nacional. O concerto em Central Park de Simon &
Garfunkel, evidentemente e também edição nacional, da CBS. Shake it up, dos Cars ( produzido por Roy Thomas Baker), também, em
edição espanhola que ainda perdura apesar de saber que a original americana é
bem melhor. Kevin Ayers, That´s what you get babe, também espanhol e que já foi
substituído pelo original.
Todos esses discos eram gravados em cassete, de óxido de
ferro, dióxido de crómio e metal, de várias marcas, TDK, Maxell e Basf, e com aplicação de redução de ruído Dolby (B),
para disfarçar um pouco a sibilância de fundo induzida pela gravação. Esta, um pouco aquém da sonoridade original do vinilo
permitia ouvir com qualidade a gravação e poupar o disco ao uso que o
estragava.
Os discos de vinilo nessa altura eram apenas isso,
independentemente da origem e prensagem. As melhores prensagens e que conservam
por isso a melhor sonoridade serão geralmente as primeiras, tiradas das fitas
originais.
Por isso mesmo o mercado dos discos usados, hoje em dia
continua próspero na internet ( ebay e discogs) onde se pode comprar
virtualmente qualquer disco na prensagem original, geralmente americana ou
inglesa, no que se refere à música popular.
Devido à procura, muitos desses discos se estiverem em bom
estado de conservação podem atingir valores muito altos, sendo precisamente
esse o caso do disco dos Pink Floyd cuja edição original em primeira prensagem pode
já ultrapassar as várias centenas de euros.
Quem procura sabe distinguir pelos números manuscritos ou apostos
na parte vazia do vinil, junto ao centro. Um A1-B1 é a chave, mas pode haver
combinações e esse disco já teve tantas versões que afinal até se suscitam
discussões sobre qual a melhor delas todas.
Neste caso e sem surpresa há quem garanta que é a primeira, precisamente
a que tem essas referências, logo seguido da que tem a indicação A3-B3 que é
este.
Estas especificidades algo maníacas encontram eco em vários
sítios na internet, com destaque particular para um fórum de discussão de um especialista
do vinilo, Steve Hoffman. No sítio da discussão abrem-se janelas e mais janelas
sobre essas questões magnas de saber qual a melhor prensagem de determinado
disco.
As discussões, troca de informações e conselhos duram já há vários
anos, o que denota bem um interesse crescente ou pelo menos constante pela música
gravada.
É nesses sítios que se notam as opiniões sobre a superioridade
do vinil em relação ao cd e outros media, incluindo as mais altas resoluções em
formato digital. A discussão já chegou ao You Tube...como se pode ver nesta análise da melhor versão de alguns discos bem conhecidos ( no caso The Wall, dos Pink Floyd). As versões do disco podem ser vistas no sítio Discogs. O Dark Side of the moon aparece com 595 versões...e mesmo ao lado aparece um indivíduo a reclamar os melhores discos dos sessenta. A internet matou a estrela do rádio.
Aquela época dos discos de vinil sem mistério e sem
curiosidade, para mim, durou uma meia dúzia de
anos, até aparecer o…cd. Mas isso é outra
história que começa no final dos anos oitenta do século que passou.
228 comentários:
«O mais antigo ‹Mais antiga 201 – 228 de 228Não são visões do além, é a experiência que a rapariga tem dentro da máquina cujas instruções para a sua construção vieram do espaço.
Tudo acontece num segundo fora da máquina e a coisa é dada por falhada. Mas ela tem uma experiência quase esotérica, e ficamos sem perceber se foi ao centro da galáxia ou não.
É curioso porque acho que o Sagan foi tendendo cada vez menos para o cientóinismo com a idade.
Mas de onde é que v. imagina que nasceu a dita "ficção científica"?
Nasceu de literatura utópica e política!
Se calhar até começou com o Rabelais, na abadia de Thelema e hoje existem malucos em seitas de telemitas
";O)
Ele era crente...
Deixe lá, seja como for não tenho credibilidade. Ehehehe!
E há muito deixei de pretender discutir estas coisas assim: música pop, cinema, etc. Quanto mais penso, mais chego à conclusão que é quase tudo uma xaropada.
Devo estar a ficar uma espécie de marreta. Pensava que tinha pelo menos até aos quarenta antes disso... Mas pelo andar da carruagem, vai ser antes! Ahhahahaha!
Era? Nunca consegui perceber...
A dita ficção científica mais antiga deve pertencer a um gozo do Luciano de Samosata (escritor sírio do século II)
Pensava que era mais puto
eheheh
Um dia destes vou pôr aqui o que me despertou para a ficção científica nos anos setenta...
Olhe, conhece este filme?
"Riusciranno I Nostri Eroi A Ritrovare L'Amico Misteriosamente Scomparso In Africa"
Estou a pensar comprar o DVD porque não encontro em lado nenhum - e assim também não levo o realizador à falência!
Vale a pena?
Foi na bd francesa do Moebius e outros.
Do Ettore Scola? não. Não conheço!
Claro, José. Esse é o suprassumo.
Pois, bruxo.
O Dune tem uma grande história de mão em mão.
O que eu mais gosto na ficção científica é a oportunidade em descobrir coisas em que nunca tinha pensado.
Portanto a ficção científica, para mim, seja na bd seja no cinema ou nas obras escritas é uma possibilidade de descoberta de realidades plausíveis e imaginárias que se tornam maravilhosas.
A ficção científica acrescenta sempre alguma coisa a uma qualquer realidade e às vezes tende a iludir essa realidade, apresentando-se como alternativa.
A primeira vez que tive a noção ultra-realista da dimensão de um corpo celeste em relação a outro objecto, no caso uma nave, foi no primeiro Star Wars. Uma imagem fantástica e que vi no cinema pela primeira vez porque nas ilustrações o efeito ilusório não era o mesmo.
No entanto, na bd foi possivel ver pela primeira vez, na história do Incal, na primeira imagem, a figura de um indivíduo a cair num abismo urbano, feito de construções fantásticas com quilómetros de altura. Os veículos voadores nessa historieta, copiados depois no Blade Runner, também me impressionaram.
José,
lembra-se de uma BD dessas, que era acerca de um tipo que tinha uma grande nave prateada e andava sempre com uma rapariguita que tinha assim um aspecto andrógino com umas calças às riscas? O estilo era europeu, poderia ser Moebius, mas acho que não...
Le vagabond des limbes? do Godard do Martin Milan?
O desenhador era o julio Ribera
Nem mais! Era isso mesmo!
"Mas eu meti o Prometheus no mesmo saco que o Blade Runner?!" Sim, Muja… nesse grande saco das xaropadas que pelos vistos é o que mais vê. Hehehe.
Eu gostei do Valerian… fui ver com os filhos. Não iria se não fosse assim, mas fui e acho que para o que é, é bem bom. Dei 4 estrelas. Os meus filhos ficam todos contentes quando eles gostam e eu gosto… acho piada a isso. — Estás a ver pai? E nem querias vir! E tenho de desculpar quando não gosto… eu sou o único pai do Mundo que levei os filhos a ver o "Toni Erdmann".
Zazie, o Contact se o vir hoje, é uma valente xaropada (na altura fui ao cinema e gostei)! Aliás até desisti de querer rever o Dune por causa disso. Já o Blade Runner revi antes do 2049 e gostei imenso. Aguenta-se mesmo bem, apesar da idade. E gostei imenso do 2049… os filmes americanos modernos têm uma série de tiques vagamente irritantes, que me irritam, mas pronto.
Naõ vi o 2049. O Contact esqueci-me por qualquer motivo que me ultrapassa.
Nem sei onde o vi nem com quem vi
";O)
Julio Ribera? Não gosto do estilo de desenho, não sei bem porquê. Lembro-me de ver na revista Pilote que então comprava. Já do Godard, desenhador do Martin Milan ( que não é bem sci-fi) gosto mesmo. Foi mesmo dos primeiros desenhadores de quem gostei dos desenhos.
O Ribera enfileira numa série de desenhadores espanhóis ( julgo que é espanhol) que são assim-assim. Só um se destacou de todos: Prado.
Nos nos oitenta, a Espanha tinha duas ou três revistas de bd de grande gabarito e tenho por aqui muitos exemplares da Cimoc e da El Víbora.
Tudo acabou...
Também nunca gostei do Valérian por causa do desenho de Mézières.
E vi desde o início dos anos setenta porque comprava o Tintin Belga, desde 1972. Ainda os tenho cá...
Enquanto se comentava, parece que o 2001 fez 50 anos.
Pois, percebo o que quer dizer.
Sou mais ou menos da mesma opinião. O traço do Valerian também não me agrada por aí além.
O do Vagabond tem qualquer coisa que também não gosto mas, mesmo assim, melhor.
Mas reparei agora, pensando nisso, que são as caras que determinam o meu gosto mais do que qualquer outra coisa. Se eu gostar das caras, gosto. Se não, não gosto.
Por isso gosto de Manara e de Pratt mais ou menos.
Lembrei-me que li também o Hard Boiled do Frank Miller, que achei esquisito - embora nunca tenha lido o Batman da fama.
O Pratt, sim, tudo. Têm personalidade. Muito antes, quem teria dado um excelente cartoonista, foi o Paul Gauguin.
O que me agrada nos desenhos é a souplesse no traço.
Pratt tem a rodos. O que o substitui em continuação na série Corto Maltese, a saber, o espanhol Pellejero não tem do mesmo modo.
Tal como Manara não tem.
Morris de Lucky Luke tem a rodos mas o que o substitui em continuação já não tem tanto.
Curiosamente Moebius não tem tanto como Jijé.
Essa souplesse é que confere o génio ao traço desenhado. Eu não tenho, mas poderia tentar ser um imitador...
Aliás, já tentei.
Franquin tem mas Maurice Tillieux tem mais.
Hergé não tem mas o esforço é de tal modo que quase parece ter.
Edgar Pierre Jacobs tem, mas também faz um grande esforço que o leva a ultrapassar Hergé.
Uderzo, no Astérix tem de tal modo que até incomoda ver o virtuosismo, nas caricaturas e no traço de personagens e gestos.
William Vance ( Bruno Brazil) não tem mas o esforço é de tal ordem que também parece ter. Os carros e paisagens que desenha até apetece copiar...
Hermann ( Bernard Prince e Comanche) tem em quantidade assinalável.
Jacques Martin não tem mas o seu Lefranc tem paisagens, carros e ambientes que desculpam tudo.
Enviar um comentário