sexta-feira, junho 05, 2020

Salazar de volta aos escaparates

A figura de Salazar, mais que nunca, tem dado algum rendimento a muita gente, principalmente dos que lhe são hostis. Alguns têm ganho  algum dinheiro a dizer mal da figura que querem denegrir, um exercício curioso.

Desta vez há uma pequena variante: quem escreve um livro sobre Salazar é um jornalista que costuma descobrir a pólvora por escrito e não se coíbe de o publicitar em mais uma epifania explosiva: Salazar nunca caiu de cadeira alguma porque nem existiu qualquer cadeira na queda. Foi na banheira, estava nu e a dona Maria ajudou-o a levantar assim descomposto e por isso escondeu e aldrabou os factos, por causa de um pudor atávico e de época. É esta a tese do autor do livro cujo título descobre logo a marosca...

Ainda não li o livro, mas vou ler se Deus quiser e darei conta porque o assunto vai muito para além da cadeira inexistente.

Desta vez, para publicitar o livrito, parte de uma trilogia sobre o tema Salazar, José António Saraiva, o descobridor de singularidades que apresenta como obra das suas argúcias, deu uma entrevista ao jornal que o seu filho também dirige. O i tem quatro directores e subs...cinco, contando com o "director de arte". Um deles é filho daquele.
Enfim, para fazer um jornal como o i não serão demais porque a publicação vende menos que um jornal paroquial.  Ou seja, ninguém quer saber do i para nada e com razão porque não presta para coisa que se veja nem sequer para vislumbrar a tal Arte.



Este José António é filho de um António José que era comunista e se arrependeu na 25ª hora, dizendo publicamente que Salazar tivera sempre a "recta intenção", ou seja, o melhor que se pode dizer de alguém em política desde que se aceitem os respectivos valores. O que não era o caso dos comunistas...no Expresso de 22.4.1989:


É sobrinho de um outro Saraiva, que foi ministro de Salazar, José Hermano e que nunca escondeu o que pensava dos que sucederam ao regime anterior:



Já sabemos há muito que há uma direita que vicejava no Independente a agora no Observador ( Alberto Gonçalves, no caso) que não aprecia por aí além os méritos de Salazar. Problema deles que não sabem o que perdem em não conhecer a raiz quadrada de tal questão.

O que se nota na entrevista do filho e sobrinho de admiradores confessos de Salazar é uma visão que vai para além daquela que anda por aí aos trambolhões das mariajoõesmarques e  outros filisteus que ignoram o que foi Portugal nos anos de Salazar e nos que se seguiram.
Foram educados na escola antifassista e por isso não têm culpa de serem analfabetos.

Um dos professores tem sido este que  escreveu e disse algumas coisas inenarráveis num video que passou há uma dúzia de anos na RTP para explicar o que tinha sido tal tempo: obscuro, pobre, miserável até, capador, reaccionário como aprenderam a dizer na cartilha marxista. O video tem um pouco mais de meia hora mas é todo em tintas carregadas de um negro funéreo de malgas e sardinhas a dividir por três, mais analfabetismo em doses maciças. Ou seja, um exemplo do neo-realismo aggiornato para o efeito.



Esta visão tem sido a norma histórica mas José António Saraiva discorda e diz porquê. Até na entrevista. Honra lhe seja feita...

O mesmíssimo António Barreto que foi comunista, virou socialista, combateu o comunismo de 1975 em diante,  escreveu hoje uma crónica que retrata bem o regime que sucedeu àqueloutro que descreveu como um pequeno horror. Assim: 

Sempre se disse que as esquerdas têm um problema com o dinheiro. A começar pelo facto de não o terem. É natural. Tivessem dinheiro e talvez não fossem esquerdas. Com algumas excepções, as pessoas de esquerda não têm muito. Por isso, quando estão no governo, têm uma atitude ligeira com o dinheiro dos outros. Querem promover a educação, a saúde, a segurança social e as obras públicas, o que é excelente, só que para isso, que custa tão caro, faz falta o dinheiro. Mas, convencida de que a direita tirou aos pobres para dar aos ricos, a esquerda também quer reverter e devolver aos pobres... No entanto, dar é uma coisa. Crescer e distribuir é outra, bem diferente e mais difícil. Mas a verdade é que uma e outra, esquerda e direita, desde 2000, não conseguem investir nem crescer.

Nos bons tempos, gasta-se o que se tem. Nos anos difíceis, gasta-se o que não se tem. Depois, é necessário encontrar dinheiro. As soluções: fazê-lo, pedi-lo emprestado ou ir buscá-lo onde ele está. Portugal está a viver um período desses, dos maus. Só que não se pode fazer dinheiro, o Banco de Portugal e a Casa da Moeda já não servem para isso. Pedir emprestado, é o que se vai fazendo, mas está cada vez mais caro. E quem tem dinheiro ficou exigente: ou não empresta ou impõe condições proibitivas. O que se deve é tanto que só os juros levam os recursos para investimento. Foi aliás por causa de se ter pedido a mais que chegámos onde estamos.

Sobra, portanto, a última hipótese. Ir buscá-lo onde ele está. Em primeiro lugar, entre os capitalistas do mundo inteiro, para investir. Seria o ideal. Só que Portugal não oferece hoje, nem sequer nos últimos anos, boas condições. Não sabe criar incentivos nem atrair investimento. Se não há capitalistas lá fora, é preciso ir ter com os de cá de dentro. E levá-los a investir. Só que... Já não há! Ou quase não há! O capitalismo português acabou. Sobravam uns banqueiros, umas empresas e umas famílias: faliram, estão depenados, levaram o seu dinheiro para outros países ou não têm confiança no regime e no governo. O dinheiro dos bancos já não existe ou está preso pelo BCE. Os bancos já não têm que chegue e precisam dos contribuintes!

Há, evidentemente, o dinheiro dos turistas, mas não é suficiente. Há o dos emigrantes: é bom, apesar de já não ser o que era, mas também não chega para as encomendas. Há finalmente os dinheiros europeus, os famosos "fundos". Esses são excelentes, essenciais há mais de trinta anos, mas o montante já não é o que era. Além disso, estão sob controlo europeu cada vez mais apertado e presos na tenaz burocrática portuguesa. E também em risco de suspensão, dado o mau comportamento financeiro do governo e do país. Os fundos já não são a solução!

Se o que havia fugiu e se não se atrai o que está lá fora, só resta mesmo ir à receita miraculosa dos comunistas, do Bloco e dos socialistas mais nervosos: ir buscá-lo onde está! É há anos a receita infalível. Os dirigentes políticos dos novos aliados do PS sempre o disseram. Ir buscá-lo onde? Aos ricos. Às contas bancárias. Às empresas. Às casas.

O problema é que não há ricos. Ou antes, não há ricos que cheguem. Os que tinham dinheiro já o puseram a recato. E o dinheiro já não chega. Por conseguinte, vamos aos que se seguem, todos os que têm alguma coisa. Passam a ser todos ricos. Por exemplo, para já, aos que têm património de mais de 500 mil euros... Faz-se uma lei sem saber quantas pessoas, quantas casas, qual o rendimento... Não se faz a mínima ideia, o governo não define o que é um rico nem um pobre. É quem convém. E se não chega, arranjar-se-á mais, com os impostos indirectos, antes de se passar aos directos. E a tudo o que vive. Tudo o que tem ou ganha qualquer coisa. Até se chegar aos remediados. Até deixar de haver ricos. Mesmo que então já só haja pobres...

António Barreto


Só lhe falta dizer e concluir: afinal a miséria não acabou e já vamos com mais anos de democracia do que de regime de Salazar...porca miseria!

O jornal onde escreve esta crónica funérea é bem o exemplo do que a democracia que defende, com os próceres da sua geração, fez a Portugal...

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