Portugal, Julho de 1973, manifestação de apoio ao Governo de Marcello Caetano, após o regresso de uma visita a Londres, onde foi recebido por manifestações hostis de portugueses, liderados pelos socialistas do sítio e ainda de Mário Soares. Todos contra a guerra no Ultramar que queriam ver acabada o mais rápido possível, para entregar os territórios aos autóctones dos movimentos de libertação que então para nós eram apenas terroristas. Tal como aconteceu depois, a correr e sem cuidar dos interesses das centenas de milhar de portugueses que lá estavam e dos autóctones que queriam outra coisa que não o que tiveram depois: guerra civil e mortos sem conta.
A imagem é da revista Observador de 27.7.1973.
Este Portugal que aqui se manifestava aos milhares e milhares, livremente, desapareceu como por encanto, na semana a seguir ao 25 de Abril de 1974, menos de um ano depois.
Para onde foram politicamente as pessoas que ali estiveram e as demais que não estando davam o apoio ao governo na sua política em relação ao Ultramar, por exemplo?
Como por um passe de mágica desapareceram do espectro político e mediático da época, substituídas precisamente por aquelas pessoas que se manifestaram em Londres, em 1973, contra Marcello Caetano, particularmente os adeptos de Mário Soares.
Como foi isto possível, em tão pouco tempo?
Apenas devido a um fenómeno simples de explicar: propaganda política demasiado eficaz, sem oposição alguma de tomo. Toda a ideologia política, nem sequer organizada e corporizada antes naqueles milhares e milhares de pessoas que se manifestaram em apoio de Marcello Caetano, desapareceu desse espaço, praticamente até hoje, com excepção de pequenos nichos de expressão que nunca se tornaram relevantes politicamente.
Aconteceu a Portugal uma verdadeira Revolução no pensamento político mais básico e muitos dos que apoiavam aquele Marcello Caetano, passaram a apoiar aquele Mário Soares, como o demonstra o resultado das primeiras eleições para a Constituinte, em 1975.
Para entender como é que isto aconteceu, tão de repente, ando aqui há anos a desenterrar memórias registadas em jornais, livros e revistas.
Hoje vão mais dois exemplos.
O primeiro é de O Jornal de 11.4.1986, há cerca de trinta anos. O jornalista Fernando Dacosta, de esquerda e autor dos primeiros livros de divulgação da figura de Salazar e da sua obra, há uns anos, escreveu este artigo de página versando o mesmo tema, mas encostando à direita uma iniciativa chamada de Portugal Século XXI que mais não era do que uma afloração de uma social-democracia que em Portugal se confundia com o "socialismo democrático", ou seja, à margem da direita que a sociedade salazarista representara.
O segundo é uma entrevista de 2004 com José Hermano Saraiva, à revista Focus que dava conta da mesma perplexidade, sem a explicar devidamente, a não ser em comentários sarcásticos inúteis e estéreis.
Apesar de a sociedade portuguesa de 1973 pouco ter a ver, em termos de desenvolvimento económico e até cultural, com a de 1940, os cultores do antifassismo primaríssimo, continuam a olhar para quem defende Salazar e alguns valores do salazarismo, assim, amalgamando o tempo dos anos sessenta e setenta com o dos quarenta e cinquenta, num continuum espaço-temporal que em si mesmo é falso e irreal .
Porque é que tal fenómeno acontece?
Uma explicação possível: o PCP e a esquerda portuguesa conseguiram o feito notável de modificarem a linguagem e os conceitos que os portugueses em geral têm do passado. Este passado foi reescrito por esses esquerdistas e continua a sê-lo, todos os dias nos media.
É só por isso que a sociedade portuguesa deixou de ser o que foi para passar a ser o que nunca poderia ter sido. Curioso...um pequeno grupo de adeptos de uma seita política, ainda por cima, fossilizada num cadáver simbolizado na figura de Lenine, conseguiu modificar toda uma geração de portugueses sem memória a não ser as que inventaram para substituir as antigas, as reais e verdadeiras, por uma parte que foi apenas a dessa seita.
Deve ser fenómeno único e a estudar sociologicamente, com proveito para quem o faça.