segunda-feira, abril 03, 2017

O nó gorduroso do pedantismo

Público de hoje:




Era uma vez um indivíduo que se empacota em leituras com objectivo incerto.  Como estudou o “básico” há mais de 50 anos, apanhou um banho intelectual de “clássicos” greco-latinos que já tinham infundido respeito aos autores de romances mais antigos, em língua portuguesa ou a poemas épicos sobre as armas e os barões assinalados.
Esse mergulho primordial no caldeirão classicista legitima-o como aferidor da sabedoria alheia e distribuidor de galardões de sabichanice.Há mais gente assim, alguns até insuspeitos.

Quem não souber a história de Polifemo é ignorante e quem ignorar o  nome de Tifão será ainda pior por não conhecer a Odisseia. Afinal saber quem são esses nomeados é tão importante como enunciar a segunda lei da termodinâmica ou ter aplicado alguma vez o conhecimento acerca do princípio de Arquimedes que flutua no espaço da cultura geral.
Em função desta realidade singular o tradutor de literatura clássica, como Frederico Lourenço, será necessariamente um sábio e aquele tipo de indivíduos os seus profetas.
E afinal para que servirá toda esta sabedoria de almanaque clássico? Pois tudo indica que seja para se conhecer mais alguma coisa “sobre a doença ou a morte, sobre a felicidade e a curiosidade, sobre a esperança e o destino inelutável, sobre a heroicidade e a cobardia, sobre a traição e a lealdade, sobre a honra e a vergonha, sobre a intriga, a moda e o sexo”. Quem não leu os clássicos ficará sempre um passo atrás nessa sabedoria do mundo e das pessoas para quem a realidade será uma quimera ( outra que é preciso conhecer).
Ai do ignorante das figuras cariátides que já perdeu meia vida nesse olvido involuntário!  Até se ingurgitar das leituras necessárias será sempre um pobre diabo embrutecido à imagem de  um Trump que só poderá gabar-se das torres de betão e do voto da maioria dos americanos, embrutecidos de igual modo.
Como é possível sobreviver neste mundo cruel sem conhecer o cíclope canibal  filho de um deus menor?
 Como é que se conseguirá atingir o entendimento das coisas e da realidade à míngua das categorias da causalidade, necessidade, substancialidade, unidade, pluralidade, totalidade, realidade, negação, limitação, acidente, existência e possibilidade, por se desconhecerem  os nomes e feitos fantásticos dos deuses greco-latinos? Dificilmente.   As ideias cosmológicas, psicológicas e teológicas só se apreendem com a leitura dos clássicos e quem não lê…chapéu!
Ninguém conseguirá apreender e representar totalmente as coisas de facto existentes sem tal conhecimento…e sem tal instrumento pedagógico e epistemologicamente garantido. A representação plena da realidade no nosso espírito só advém das leituras dos clássicos. E mai nada. O verdadeiro conhecimento aparece depois de lermos os clássicos pois até aí a realidade será apenas uma sombra cuja forma lhe é emprestada depois. Um Trump vive nas sombras, naturalmente.
Os Pachecos que leram os clássicos naturalmente acederam à sabedoria por esse método infalível. A passagem do idealismo ao realismo ocorre por esse efeito mágico da leitura clássica e como tal deixou de ser obrigatório nos curricula da educação básica, temos um povo maioritariamente ignorante e populista.
Ai Pacheco, Pacheco!

Questuber! Mais um escândalo!