quinta-feira, abril 27, 2017

A komentadoria apaniguada do sistema

Estreitamente relacionado com o assunto abaixo tratado temos uma pequena polémica entre jornalistas que estalou no Público e o DN, entre João Miguel Tavares e Marques Lopes.

Após a querela sobre os escritos sumários a propósito de Dias Loureiro, aquele Marques Lopes, sempre condoído em nome dos sagrados princípios do Estado de Direito que proclama na parte que lhe interessa esquecendo os demais, publicou este textículo no DN de Domingo:

 Num artigo publicado na terça-feira no Público, o comentador João Miguel Tavares insinua que eu e três jornalistas escrevemos o que o presidente do conselho de administração da Global Media nos manda. Além disto, JMT acha ainda que defender princípios básicos de um Estado de direito significa apoiar a corrupção e a miséria moral.
Vamos por partes.
O JMT insinua que três jornalistas com longas carreiras seguem as ordens de um administrador, que não são editorialmente independentes nem escrevem artigos de opinião seguindo o seu próprio juízo e pensamento. Ele conhece a gravidade desta miserável insinuação, que atenta contra a dignidade profissional desses três homens. Eles não precisam que eu os defenda; mas há, porém, um detalhe curioso. JMT, noutro artigo, acha que o diretor adjunto do DN fez perguntas macias a Dias Loureiro - acusação injusta e que se esquece de fundamentar. Mas se julga mesmo isso seria interessante saber o que pensa da qualidade das perguntas que os jornalistas da TVI fizeram a Sócrates nas várias entrevistas que este deu ao canal. Estranhamente, nunca se ouviu a JMT um comentário sobre o assunto, nem em crónicas nem naquele programa da TSF em que participa e que por acaso passa na mesma TVI. E como sabemos a atenção com que JMT segue todas as intervenções do ex-primeiro-ministro... ou estava distraído ou não as viu ou então achou-as incrivelmente duras, como ele gosta.
Já eu, insinua JMT, só escrevi o artigo de 9 de abril - sobre o arquivamento do inquérito a Dias Loureiro e no qual pela enésima vez afirmo que algo está muito errado na nossa justiça - por ter recebido uma espécie de ordem de Proença de Carvalho. Poderoso homem que não só me dá ordens para eu defender Dias Loureiro como, claro está, para defender Sócrates, essa árvore das patacas de JMT.
A coisa é tão desonesta e baixinha que até custa a responder, mas, desta vez, JMT preferiu escrever o meu nome em vez das indiretas que de vez em quando me dirige. JMT sabe que o que escrevi nesse dia é o que venho escrevendo e dizendo em jornais, TV e rádio há muitos anos, antes de haver Operação Marquês. Mas não resistiu à insinuação que sabe ser caluniosa. Disse, no fundo, que escrevi a pedido, não porque em consciência ache que eu ande às ordens de quem quer que seja, mas porque não gostando das minhas opiniões sobre assuntos da justiça e outros que tais quis descredibilizá-las atacando a minha dignidade e a minha honra. O que diz muito sobre o carácter de quem faz a insinuação.
Mais tarde, noutro artigo do Público, tendo sido confrontado pelo diretor do DN com o facto de que mais colunistas, noutros órgãos de informação, formularam opiniões parecidas com a minha e com a de dois jornalistas do DN, JMT lança o argumento que lhe serve para tudo: esses também querem é defender o Sócrates. Pobre JMT: obcecado que está por Sócrates, não consegue perceber que há quem não sofra da mesma patologia, e portanto não divida o mundo entre pró-Sócrates e contra-Sócrates; como só consegue raciocinar e argumentar ad hominem, é-lhe, pelos vistos, impossível imaginar que possa haver quem defenda princípios independentemente de a quem estes, conjunturalmente, possam parecer favoráveis.
Para defender esta sua abordagem, JMT argumenta que há para aí uns princípios que só são válidos no reino do abstrato e quem os enuncia - para os defender, bem entendido - está a colaborar para "manter o lastimável currículo português no combate à corrupção" e "é cúmplice do estado moralmente miserável em que nos encontramos".
E que são esses tais princípios contra os quais ele, neste e noutros textos, direta ou indiretamente se insurge? Trata-se, entre outros, da presunção de inocência, da não inversão do ónus da prova, do direito ao bom nome, da necessidade de haver provas suficientes para condenar alguém e de que a função do MP é acusar ou arquivar - não condenar.
Surgem três hipóteses. A primeira: o JMT não sabe que esses princípios são pilares fundamentais de um Estado de direito e de uma democracia liberal. Confesso que tenho alguma dificuldade em imaginar que alguém com tanta notoriedade e com tanto espaço nos media não saiba isto, mas a ignorância nunca deve ser desprezada.
JMT não saberá, mas aqueles princípios que ele depreciativamente chama de abstratos têm de ser, num Estado de direito, mesmo abstratos e gerais: são para todos (e não para as pessoas que JMT decidir) e para todos os casos que se encaixem na norma (e não para os casos que JMT quiser).
A segunda hipótese é a de que conhece os referidos princípios, mas não quer saber deles, rejeita--os. Nesse caso, não é um defensor do Estado de direito e da democracia liberal. Ou acha que é ele ou quem pensa como ele que deve definir a quem estes princípios se devem aplicar. Um estado Tavares com Tavares a definir quem são os culpados e os inocentes - o tavarismo, ou a tirania Tavares
A terceira hipótese é a de que sabe o que é o Estado de direito, gosta da democracia, mas dá-lhe jeito dizer que isto é tudo uma farsa, que isto dos princípios é uma malandrice para os ricos e poderosos se safarem. Porque sabe que isso lhe garante palmas; sabe que de cada vez que ataca as regras básicas do Estado de direito há uma multidão de injustiçados pela vida, legitimamente revoltados com a corrupção e desmandos, que, por desespero e ignorância, o aplaudem. JMT sabe que se desprezassem os tais princípios abstratos essas mesmas pessoas teriam uma vida pior, ficariam expostas a um qualquer déspota, veriam os seus direitos despedaçados. Mas quer JMT lá saber disso; o seu discurso dá-lhe palco e luzes, faz dele uma pessoa popular. Vive desse reles foguetório.
Preferia acreditar que JMT defende o que defende por ignorância ou por não acreditar no Estado de direito, mas não me parece que seja, infelizmente, o caso.
Espero que viva bem com a sua consciência e que o mundo que ele afirma desejar nunca chegue.

Hoje no Público, JMT responde  assim, ao komentador Lopes que acumula várias ( cerca de dez) avenças mediáticas, todas estipendiadas a preceito, como será natural:



O que fascina no komentador Lopes é a facilidade de arremesso de propalados princípios e regras básicas do Estado de direito que aliás não enuncia, para além da obviamente bovina obsessão em os proclamar, para se sentir superior e indefectível na argumentação. 

A melhor resposta a estes tartufos é dada por Eduardo Dâmaso na Sábado de hoje, comparando o que se passa aqui com o que se passou em Itália, nos ano noventa. Também nessa altura, por lá, havia Lopes em barda...


6 comentários:

Floribundus disse...

há + de 20 anos
Serge Halimi do Le Monde Diplomatique
publicou
'os novos cães de guarda'

o anão e o tavares foram contemplados

o entertainer só agora descobriu a falta de 'crechimente' económico

felismente temos o monhé à frente do 'arrastão de Carcavelos'

Floribundus disse...

Sapo

Na mesma entrevista, Marcelo afirmou que o crescimento é uma prioridade porque favorece não só as finanças públicas do país, aumentando a receita fiscal, mas também a redução da dívida. O Presidente da República disse esperar que “esta tendência (de crescimento) se consolide de modo mais vigoroso”, elegendo o investimento como essencial no futuro e admitindo que o investimento público foi sacrificado para atingir o défice em 2016. Mas o clima mudou: “Eu encontro hoje no contacto com empresários portugueses e estrangeiros uma confiança que não encontrava há um ano”, afirmou.
Contudo, do lado dos empresários, existe uma desconfiança perante a recuperação da economia nacional, de tal forma que o estudo com 1.843 empresas públicas e privadas elegeu-a como o maior risco para o negócio. Esta é uma tendência internacional: as empresas mundiais também elegem a desaceleração económica como o segundo principal risco externo, só superado pelo dano de reputação para a marca ou negócio.
PIB subirá 2,4% no 1.º trimestre, estima o ISEG
Numa pergunta seguinte, os empresários respondem sobre se existe um plano em marcha para lidar com os problemas. No caso do crescimento económico, apenas 8% das empresas portuguesas considera que existe esse plano. No caso das empresas internacionais esse número sobe para 30%. Noutra pergunta, os empresários referem se houve uma perda de rendimento nos últimos 12 meses por causa desse risco. Para 50% das empresas nacionais o risco de desaceleração económica provocou uma perda de rendimento.
Engane-se quem pensa que esta é apenas uma preocupação presente. As empresas portuguesas consideram que mesmo daqui a três anos, em 2020, o risco de recuperação lenta da economia continuará a verificar-se em Portugal. A nível interacional, o cenário é semelhante, sendo que o risco de desaceleração económica passa a ser o risco número um das empresas daqui a três anos.

RMM disse...

PML tem como ponto principal do currículo ser filho do fundador dos Supermercados Feira Nova...
Trata-se de um tudólogo, com uma coluna vertebral particularmente maleável, que já esteve mancomunado com a nossa incipiente Ala Liberal mas que, assim que adquiriu alguma notoriedade, se passou para o mainstream mais cinzento e servilista. Deve ter passado a usar avental (mas não de Chef...).
Faz uma excelente dupla com o Empadão e Silva (Dupond e Dupont), benza-os Deus.

joserui disse...

Neste país somos sempre confrontados com o mal menor. Ao JMT calhou a ingrata tarefa de falar sobre coisas muitas vezes do senso comum, mas que quase mais ninguém fala. Sendo um palerma, da direita abrilista e envergonhada, está tudo bem entregue. Quanto ao Marques Lopes é simplesmente repelente e pobre de quem perde um minuto a ler ou ouvir o que expele a toda a hora.

PJMODM disse...

Essa tal foi inventada como kumentador pela apaniguada mor, com a subtileza de que são capazes de braguilha aberta: http://jugular.blogs.sapo.pt/129556.html
E é esta coisa assim expelida como produto ao serviço do dono e sua capataz que ocupa representa a direita nos seus espaços... um sempre ao dispor socretino.
Só enquanto exemplo porno é que merece as referências de JMT, Alberto Gonçalves ou José, não pela criatura pelo ecossistema que a gerou e continua a exibi-la revelando o "fassismo" da brigada (o verdadeiro, o da Bayer).

Maria disse...

Excelente crónica de Eduardo Dâmaso a denunciar muita coisa nas entrelinhas. Mais uma.

O Público activista e relapso