O Público de hoje tem várias páginas dedicadas ao tema do "25 de Abril". Duas delas referem-se à " memória do Estado Novo", escrevendo o autor ( Nuno Ribeiro) que não sabemos o que fazer com ela...
Há desde logo no artigo um problema epistemológico, de saber o que é o Estado Novo. No artigo, aliás como em muitos outros, o Estado Novo confunde-se com o período que vai do tempo de Salazar até ao dia 25 de Abril de 1974. Ora, o Estado Novo não foi todo esse período e se o quiserem abarcar deverão citar o tempo de Marcello Caetano que vai de finais de 1968 até 1974. Muito tempo e que foi determinante para se entender um regime.
Porém, de Marcello Caetano pouco se fala quando se fala em fassismo ( felizmente o artigo não usa a palavra maldita que o PCP afeiçoa sobremaneira) e a prova é que num Estudo do ICS onde se referem "níveis de notoriedade" Marcello Caetano aparece com 20 a 30%, muito abaixo do "primeiro patamar" que engloba Salazar, Mário Soares e Álvaro Cunhal.
Marcello Caetano foi muito mais importante para o nosso país do que Mário Soares. Digo eu e está dito, embora tal seja irrelevante porque nada represento senão uma mera opinião. Mas foi menos importante que Álvaro Cunhal que revolucionou, com o PCP, o modo de pensar da generalidade da opinião pública e publicada, alterando o léxico político e até social. Isso foi uma verdadeira revolução cultural que ainda se sentem os efeitos difusos mas permanentes.
A questão da "Memória do Estado Novo" tem evidentemente a ver com tal fenómeno. Foi possível nos últimos 40 anos falsificar a História e contá-la do ponto de vista de uma minoria de alguns, poucos milhares de militantes comunistas que existiam antes de 25 de Abril de 1974. Foi a linguagem que eles utilizavam nas suas publicações clandestinas como o Avante e o Militante que foi depois adoptada no léxico jornalístico, primeiro, e depois até em publicações universitárias e na própria Constituição de 1976.
Um punhado de uns, poucos, milhares de pessoas conseguiram impor a milhões de portugueses uma linguagem que não era a sua. Notável, sob qualquer ponto de vista! E tal se deve a Cunhal e ao PCP, incluindo também as franjas comunistas de extrema-esquerda e o partido socialista que foi atrás, como sempre e bom compagnon de route. A linguagem do PS dos primeiros tempos ( só se constituiu como partido em 1973) era marxista, idêntica por isso à do PCP, com nuances.
Por isso mesmo a primeira tarefa seja de quem for que se preocupe com a Verdade histórica é a reposição da linguagem original que tínhamos à data de 25 de Abril de 1974, agora com a recomposição democrática da linguagem comunista que existia então clandestinamente. Mas nunca para se inverterem os termos e passarmos a adoptar, como aconteceu, a linguagem bastarda que existia apenas clandestinamente.
Tal é muito simples de fazer e basta que os jornalistas o façam, com a consciência de o fazerem por tal motivo, como aconteceu a partir de 25 de Abril de 1974. Portanto, trata-se de desfazer o que foi feito, de repôr o que existia e de reverter a perversidade cometida ao povo português, pelos comunistas e socialistas. O povo português nunca foi apenas constituído por esquerdistas do comunismo e socialismo e por isso mesmo é preciso repôr, democraticamente a representação real e sociológica que sempre existiu.
O contrário é continuar a falsificar a História como se faz na Constituição de 1976 que nenhuma revisão posterior alterou nesse sentido.
Por exemplo, uma das primeiras tarefas práticas para se repôr a Verdade histórica, para além da oficializada pelos representantes marxistas Fernando Rosas, Flunser Pimentel, Pacheco Pereira e tutti quanti será a de publicar o que está esquecido e censurado na prática:
A Constituição de 1933 que não se encontra em lado nenhum desde há 40 anos a esta parte.
Os discursos de Salazar que não se encontram em lado nenhum, com excepção de uma editora obscura de Coimbra que os vende em livro semi-clandestino, pela internet e desde há muito pouco tempo.
A possibilidade de o discurso mediático se alargar a outras pessoas que não entendam o tempo de Salazar e Caetano como sendo o do "fascismo", o que está muito longe de acontecer, porque mesmo aqueles que não são esquerdistas-comunistas adoptaram os conceitos destes e falam a sua língua de trapo. O Estado Novo é por isso um tempo de obscurantismo, de repressão e até, como há poucos dias se escrevia de modo nojento no Público ( Ana Cristina Pereira, como sempre...) um Estado em que os malditos ( mendigos, vadios e cadastrados) eram perseguidos, como autênticos leprosos...
Para mostrar o que deve ser feito fica aqui uma pequena parte de uma obra que deveria ser reeditada e discutida nas Faculdades de Direito ( aposto que o professor Marcelo, agora presidente da República desta democracia nunca a citou ou recomendou, aos seus alunos de Direito Constitucional ou Ciência Política...).
Os comentários de Marcello Caetano ao carácter marxista da Constituição de 1976 são claros, nas páginas que seguem:
No jornal i de hoje mostra-se um pequeno contributo para a tarefa que é premente. O jornal consagra várias páginas ao assunto do tempo que passou desde o 25 de Abril de 1974 (o Diário de Notícias, em comemoração da efeméride publica, tão só e apenas, um cartoon de Carrilho):
O Estado Novo não foi como o pintam os antifassistas e Portugal não tem que se envergonhar de tal período. Tem é de o estudar sob outra perspectiva diversa da que tem sido a oficial, a dos últimos 40 anos.
Os comunistas e esquerdistas em geral não têm o monopólio da cultura em Portugal, ou pelo menos não deveriam ter, por uma razão: estão habituados a falsificar a História, desde os tempos de Lenine, apagando as figuras caídas em desgraça das fotos oficiais.
Aliás, a desinformação, a mentira sistemática derivada da falsificação histórica, dá casos como este de absoluta ignorância mas com estatuto de escrita num sítio de internet. A autora parece jovem mas já tem mais de cem anos na mentalidade distorcida pela propaganda...