quinta-feira, agosto 13, 2020

A Aliança Democrática actual deveria ser o Chega.

No artigo da Sábado desta semana, o pançudo Pacheco, da escrita enfatuada obcecado com o Traump achega-se ao Chega para o diminuir, como sempre: " E recordar que o CDS de 1979 nada tinha a ver com o Chega e que a AD tinha três grupos, um grande, o PSD, um pequeno e médio, o CDS, e um terceiro pequeno, os reformadores.A questão não era o tamanho, era o significado político de incluir na AD um grupo da esquerda moderada. Todos os que acham ou propõem uma nova AD como uma "frente de direita" deviam ler Sá Carneiro que nunca se cansou, toda a vida, a negá-lo".



Veremos se este enfatuado terá razão, com recortes de época que aliás o mesmo poderá consultar porque tem lá esta tralha toda atafulhada nos sete armazéns ou coisa que o valha.

A ideia básica é simples: Sá Carneiro representou em 1979 a esperança da "frente de direita"  na alteração do status quo político, económico e social. Portanto, um projecto bem mais ambicioso que o do actual Chega que apenas pretende dizer que o rei vai nu na política portuguesa e que a "frente de esquerda" está mais viçosa que nunca e que isso é uma desgraça nacional.

Os propósitos, objectivos, da AD e do Chega são exactamente os mesmos: alterar, se possível o marasmo esquerdista que se instaurou em Portugal, com o apoio expresso do PS deste Costa manhoso a quem só interessa manter o poder.

Nem este manhoso é o Soares de 1979 nem o André Ventura tem a dimensão intelectual e política de um Sá Carneiro. É simplesmente alguém que tem alguns valores comuns e principalmente o entendimento de que a ideologia esquerdista e agora puxada mesmo à extrema-esquerda não pode dominar o país, impunemente. Apenas isso e basta e até já é muito porque até agora ninguém apareceu com tal discurso claro e sem peias, como Sá Carneiro aparecera também em 1979.

Para mostrar a enfatuação imbecil do cronista aqui ficam alguns recortes a comprovar tal tese:

Em primeiro lugar havia em 1979 uma grave crise política, derivada da crise económica ( vivíamos tempos de bancarrota, surgida logo em 1976, com as aventuras do PREC e as nacionalizações patrocinadas também pelo PS).

O Jornal de 13.7.1979:



Em 6 de Abril de 1979 o PSD tinha-se partido e de lá saiu um grupo conhecido como ASDI, os "Inadiáveis" sem destino certo, capitaneados pelo actual advogado dos milhões Sérvulo Correia.


Este advogado dos milhões era muito claro no discurso que agora os enfatuados pançudos da política também papagueiamm na mesmíssima linha argumentativa: Sá Carneiro era um perigoso extremista...mas não o dizendo acaba por confirmar ao ligá-lo a tal grupo cujos nomes, aliás,  não indica. Típico.
É óbvio que Sá Carneiro sentia que tinha uma missão e não era alinhar com os reformistas da ASDI que queriam um bloco central com o PS. Esses, eram seus inimigos de ocasião. Tanto como Soares ou Eanes.


O centrista Amaro da Costa, sempre conciliador e florentino, no bom sentido, tinha um discurso firme enluvado em expressões suaves, como dizia ao o Jornal de 26.5.1979. Amaro da Costa era mesmo de direita, aliás próximo de um André Ventura, se porventura for o caso: "Portugal sofre uma debilidade institucional, vive com uma economia clandestina, e consente na sua própria diminuição moral" (...) " Por exemplo, o hiperconservador PC em relação àquilo que a que ele chama as conquistas da Revolução e que nós consideramos ser as conquistas do 11 de Março, traduz um fixismo político incompatível com a adaptação da sociedade portuguesa e das suas estruturas aos desafios do futuro". 
Esta declaração traduz o pensamento político e económico de Amaro da Costa: contra o PCP e as conquistas do 11 de Março, ou seja as nacionalizações e a institucionalização do poder militar como instrumenta do comunismo esquerdista.
 Quem interpretar o que isto significa só pode dar razão ao Ventura que não diz mais que isto.


Quanto ao inadiável advogado dos milhões a sua opção era muito clara, em 16 de Junho de 1979:


O ambiente social, particularmente no Alentejo da Reforma Agrária e das conquistas dos trabalhadores era isto, na altura, em consequência da "lei Barreto", ou seja da autoria de António Barreto que agora escreve por aí e tem barbas compridas do tempo que passou.
O Jornal de 28.9.1979. Se fosse hoje era a guerra civil em cuecas da extrema-esquerda esfarrapada pelo trotskismo e marcusianismo americanizado:


Quanto ao Barreto, juntou-se ao PSD, como "Reformador", para fazer a AD, como mostra o mesmo número de O Jornal:


Ao contrário do que escreve o enfatuado a AD não foi apenas a junção do grande e dois pequenos. Houve mais um intruso, o PPM de Ribeiro Teles. Quanto aos "Reformadores", para além do infausto Medeiros Ferreira ( amigo e conterrâneo do marido da actual ministra da Justiça, nunca esquecer tal coisa...) também lá tinha  um certo Granadeiro que depois foi ganhar umas massas na PT e ajudar o amigo Salgado mais o ex-recluso 44, por conveniência "inadiável" e advogada por uns tantos, sempre os mesmos aliás:


E a campanha eleitoral, como correu?

Bem, Mário Soares não esteve com meias medidas: A AD era o perigo, o descalabro, a desgraça nacional e representava o advento da perigosíssima "direita".

Se alguém não encontrar paralelo com o que se passa actualmente com o Chega, é pançudo de ideias ou enfatuado de conceitos esquerdistas. Ou pior: burro.

Repare-se nas palavras, ipsis verbis, de Mário Soares, no O Jornal de Outubro de 1979:

"A AD é uma coligação de barrigas e não de políticos. Não tem consistência nem homogeneidade. Serve objectivamente a extrema-direita portuguesa com o seu ódio ao 25 de Abril e vontade de regresso ao passado". 



Querem melhor que isto, como prova?! Há mais: o O Jornal tentou dar uma imagem da campanha da AD como reaccionária e subsidiária do que pior havia na política americana. Nem faltaram as fotos com "jagunços", ou seja elementos de segurança espúrios a empresas que então nem existiam:


o Jornal 26.10.1979:


A palavra "direita" então tinha uma conotação próxima de "extrema-direita" é preciso que se diga para se entender a linguagem e a semântica evolutiva:


E o PCP o que fazia neste contexto? Pois inventou a APU, ocultando a foice e martelo, símbolos demasiado conspícuos e susceptíveis de afastar incautos...servindo-se da muleta do MDP-CDE do inefável Tengarrinha.

O jornal 28.9.1979:



E a extrema-esquerda por onde andava nestas andanças? O Jornal tinha uma especial afeição pelo MES, um movimento que concitava personagens obscuros como o actual presidente da AR, Ferro Rodrigues. Para O Jornal era um movimento respeitável e democrático que nada tinha a ver com a extrema-esquerda...

O Jornal 13.7.1979:


E em desespero de causa, até a demagogia mais imbecil servia ( O jornal :


 O que é que resultou desta campanha tenebrosa, semelhante à que pretendem os mesmíssimos intervenientes políticos actuais, incluindo o tal Ferro Rodrigues, fazer ao Chega? Isto: uma vitória com maioria absoluta da AD e conseguida precisamente no reduto principal dessa esquerda fóssil, o Alentejo.

E a derrota do PS, rotunda, indesmentível. O Jornal de 7.12.1979:


Os alentejanos viam pela primeira vez o que era o comunismo e o esquerdismo verdadeiro e rechaçaram-no.

Depois esqueceram tudo outra vez e veio a fome de Setúbal em meados dos anos oitenta. Trazida pelos mesmíssimos personagens e artistas da política de pançudos e enfatuados. Até hoje. Sá Carneiro morreu no ano seguinte e o percurso até lá mostrará como foi.


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