sábado, julho 03, 2021

1971 não foi igual para todos...

 Há 50 anos a música popular de expressão anglo-americana já há muito que era moda vinda  para ficar.

No dia 3 de Julho de há cinquenta anos, também um Sábado,  morria em Paris Jim Morrison, o cantor dos Doors, grupo americano que já tinha nessa data publicado a meia dúzia de álbuns que o celebrizou. 

É possível que por essa altura já soassem nos rádios os acordes barítonos de Riders on the storm, do disco L.A. Woman, saído originalmente em Abril desse ano e para lembrar o grupo de Jim Morrison, aquando da notícia fúnebre, devem ter passado o seu  maior êxito, Light my fire, do primeiro disco de 1967, pois tinha sido entretanto publicada,  também em Portugal, a compilação 13 em que vinha lá tal tema. 

 Em Agosto desse ano de 1971 a revista Mundo da Canção dava conta da entrada do disco como "novidade" e nem era das mais caras. No mês seguinte outra novidade era o single Love her madly, tirado do álbum: 


 Os discos, tanto o álbum como o single, foram publicados pela etiqueta Alvorada e fabricados na Rádio Triunfo, nesse mesmo ano, segundo informa o discogs.

Quanto à morte de Jim Morrison a mesma Mundo da Canção fazia assim um obituário na edição de 20 de Setembro de 1971, com um texto típico de uma certa esquerda marxista que até citava Marcuse, muito em voga nessa altura e sem censura:



No exterior e em publicações que influenciavam a crítica de cá, havia a Rock & Folk que no mês de Agosto de 1971 dava destaque na capa e artigo de Philippe Paringaux, um dos responsáveis pela revista e noutro registo diverso daquele, mencionando Jimi Hendrix que tinha morrido quase um ano antes:






Hoje, Sábado, o Público também destacou outro evento artístico relacionado com o ano de 1971, uma série televisiva na Apple TV+ e inspirada num livro.



Os temas musicais referidos neste artigo sobre a música de 1971, escrito 50 anos depois, não obedecem necessariamente a uma verdade histórica, pois alguns deles já se entronizaram na galeria dos mitos e está mais próxima da realidade as indicações da revistinha da época, do Mundo da Canção. É mais representativa de tal história a musiqueta de Demis Roussos, We shall dance do que as referências a Marvin Gaye ou aos Can de Tago mago. Hot Love dos T. Rex era de facto muito ouvido no rádio, até em onda média, tal como a cantiguinha de Melanie, What have they done to my song, ma ou  Friends de Elton John que aliás viria a Portugal dali a um mês, a Vilar de Mouros. Os Middle of the road, com Chirpy Chirpy, cheep cheep eram mais ouvidos do que jamais o foram os Pretty Things. E por aí fora. 
Trazer para 2021 supostos êxitos ou músicas marcantes de há 50 anos tem necessariamente que se lhe diga e carece de contexto aprimorado, de preferência vivido. 
Só lamento que nos escritos do género se esqueçam estes pormaiores e se continue a escrever em imitação de algo que nem se percebe bem o que seja, só para armar a cucos cujos ninhos não lhes pertencem. Uma tristeza.

O artigo refere-se a um livro de David Hepworth, crítico musical (Mojo, The Word, além de outras publicações) e animador de um programa televisivo de divulgação de música popular, na Inglaterra chamado The Old Grey Whistle Test por onde passaram os maiores artistas da pop/rock nos anos setenta e que aliás se encontra revolhido em dvds.


O livro apresenta a tese de que 1971 é que foi o grande ano da música popular, divergindo dos que entendem que afinal terá sido o ano de 1969, o maior na música rock. Enfim, critérios. 

No mês de Julho desse ano as recordações do autor, além do mais são estas: 






 A música de proveniência anglo-americana, mesmo a de grande sucesso, por vezes nem chegava cá a tempo e horas de poder ser ouvida, particularmente no rádio. Lembro-me de ler nas listas de êxitos da época, no Outono de 1971 que um single de Rod Stewart-  Reason to believe/Maggie Mae - extraído do LP Every Picture tells a story tinha atingido o cimo da classificação e durante semanas e meses esperei ouvir tais canções, sem resultado. Só muito mais tarde as ouvi.

Nessa altura andava a decifrar a quem pertenciam as caricaturas aparecidas na edição    do Melody Maker e que o Diário Popular de 15 de Janeiro desse ano publicara,  com os nomes misturados ( os nomes de John Mayall e Jimmy Page foram inicialmente trocados; o pobre do John Peel que ainda nem sabia quem era, foi crismado com o nome de Little Richard, por aparecer pequenino no desenho: 



Quem poderia ter dado destaque a essa música era o programa Em Órbita, muito escutado por quem estava interessado em conhecer as novidades lá de fora, na música popular. Porém, segundo se escrevia na R&T de 5 de Junho de 1971, o programa entretanto acabara...porque servia apenas uma minoria sem grande poder de compra e portanto a publicidade era inútil. 




O rádio nessa altura era muito importante para a divulgação da música popular que interessava a tal minoria de jovens, geralmente estudantes e que afinal se tornaram os adultos que agora escrevem sobre a música popular nos dias de hoje. 
Um dos alfobres mais importantes de tal geração era o Rádio Renascença, da Igreja católica que albergava no seu seio os comunistas e esquerdistas do futuro não muito distante, como se mostra num outro número da R&T do ano seguinte de 11.11.1972:



Nesse começo de Verão de 1971 a televisão era também uma das fontes de entretimento de jovens e adultos. A edição da R&T de 17 de Julho desse ano mostrava uma série de grande sucesso que voltou a  ter o mesmo efeito em França, este ano: Arséne Lupin. 

Num  Sábado típico a programação de tv era esta, no caso 22 de Julho de 1971: 



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