sábado, julho 24, 2021

As comendadorias da casta

 Artigo de José António Saraiva no Sol de hoje, sobre as castas em democracia:


Segundo Saraiva há pessoas em Portugal, ligadas ao poder político que deixaram de entender o povo em geral, devido aos privilégios acumulados, em democracia. E até cita nomes: o ministro Cabrita que não se enxerga; o ministro Matos Fernandes que come miolo de enxerga e até um  Ferro Rodrigues que desde há décadas se deita na enxerga do Estado como se fosse cama própria. 

Todos com um denominador comum: perderam o sentido da realidade mais comezinha por terem sido beneficiados com as comendadorias das funções que foram ocupando, sempre à sombra da política do Estado que temos, julgando-se por isso ao abrigo de deveres e obrigações que impõem aos outros. 

Um dos principais fautores desta  nova casta foi sem dúvida um deles, Mário Soares, o principal herdeiro da "revolução de Abril" que o alcandorou a um estatuto que porventura nunca sonhou e lhe deu tudo o que havia para dar porque soube rodear-se de uma corte a quem foi distribuindo as comendas das novas ordens. Saraiva volta a citar nomes de alguns destes comendadores pindéricos: Berardo, Nabeiro e até a intelectual preferida de Vasco Pulido Valente, aliás outro comendado, Clara Ferreira Alves. 

Para além destes na foto do artigo aparecem mais alguns, incluindo um tal Marques Mendes ou um certo Luís Nazaré. 

A casta que temos agora em Portugal apoia-se nestas aristocracias fundadas no novo regime, com este perfil: " pelo facto de pertencerem a uma mesma casta, de se encontrarem com frequência nos mesmos locais, de conviverem, de beneficiarem de muitos privilégios, adquiriram os mesmos tiques". 

Querem ver? No mesmo número do Sol aparece outro do clube, herdeiro espiritual do famoso Soares que o comendou com a ordem da sucessão dinástica incumprida. Chama-se Sérgio Sousa Pinto e é um portento intelectual, formado no seio da mais alta academia da casta. 

Leia-se o percurso para se entender como chegou onde queria e lá se deixou ficar, assumindo agora as despesas de um partido algo perdido que não o quis para líder e preferiu aliar-se a quem lhe mantém o poder por táctica eleitoral.











Como se lê, este pequeno comendador foi para o Parlamento Europeu ganhar a vida, na carreira política que adoptou. Como se sabe, os deputados europeus ganham o que ninguém na função pública consegue ganhar honestamente em Portugal. Muito mais. O pequeno comendador aprendeu à sua custa que o partido que o apoia e os que apoiam o seu partido são os fautores principais da miséria económica relativa em que nos encontramos e de que o mesmo dá conta como sendo produto de pensamento de entulho. Além disso percebeu algo fundamental: "ver o que é ser classe média na Bélgica e o que é ser classe média em Portugal, não tem nada a ver". Pois não, mas os males originais permanecem por causa do tal entulho. 

Então como fazem os da "casta" para ultrapassarem as dificuldades e serem classe média do nível belga? Acumulam prebendas. Arranjam empregos no Estado ou nas universidades avulsas que por aí pululam, através das redes de influência dos que se "conhecem todos". Arranjam avenças e apoios dos mais diversos organismos do Estado, vivendo à sombra do Orçamento, mesmo exercendo na "privada" como certos advogados da casta, de que a actual ministra da Justiça faz parte, por exemplo. 

Qual é o patamar mínimo de sobrevivência desta casta? Não sei bem, mas alvitro um número: 5000 mil euros por mês, limpos. Mais algum para os próximos, filharada e parentes mais chegados. Assim vive a casta. A partir daí o céu é o limite e alguns já lá chegaram como o tal Vieira do Benfica, com ajuda dos retratados na foto e mais alguns na Sombra dos gabinetes e reposteiros. 

Ao longo das décadas a casta foi alargando ao ponto de já incluir magistrados, vários, já na ordem das dezenas, particularmente juízes, como dá conta o bastonário da Ordem dos Advogados em entrevista ao Público: 



Como é que estes novos elementos da casta chegaram lá? É simples e o antigo ministro Rui Pereira, outro comendado de prestígio explica na sua crónica de hoje no CM. Por escolha criteriosa em que atributos misteriosos e inconfessáveis, como a pertença a certas quintas colunas democráticas, contaram, alguns atingiram o estatuto que lhes permite vestirem Armani sem se endividarem.

No caso de Rui Pereira, além dos cargos de professor público, acumula outros cargos, privados, como o de comentador e cronista ( tal como o pequeno comendador acima entrevistado) e assim se compõe o ramalhete necessário ao funcionamento do sistema:


De resto, o sistema de casta pretende manter-se à tona desta vidinha com algumas concessões aos que lhes poderiam estragar a festa. Uma delas aparece no Observador, hoje: o celebérrimo e prestigiadíssimo professor Buonaventura, vindo das berças de Barcouço até ao terceiro-mundo altermundialista apoia o Governo. E assim se mantêm o sistema. De castas.



O grande e celebérrimo professor é o maior na ética, deontologia e aversão ao nepotismo, como se confirma. 

Um caso exemplar de alguém que deixou de ver a realidade. Há muitos anos, aliás. 

Sobre o rapaz Sérgio Sousa Pinto, numa entrevista aqui há uns meses, ao Público de 21 de Março de 2021, dizia coisas dramáticas que denotam a cegueira desta casta que nos vai desgraçar uma vez mais.

Sérgio Sousa Pinto representa uma fractura muito séria no actual PS e a denegação do que o atual primeiro-ministro representa. Basta ler o que o mesmo diz com toda a clareza:











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