sábado, julho 10, 2021

A antonomásia comunista e o recolector Pacheco Pereira

 Pacheco Pereira continua, no Público de hoje, a escalpelizar  idiossincrasias de "direita radical que neste caso estão mesmo na margem da classificação de extrema direita" que lhe desvirtuam a narrativa que andou a fazer do PCP, particularmente no período de 1974-1975.


Hoje ( para a semana promete outra invectiva, contra Carlos Blanco Morais)  mete-se com um dos "ideólogos" de tal "direita radical, Diogo Pacheco de Amorim, imputando-lhe algumas afirmações muito discutíveis, principalmente para alguém que se auto-designa "Historiador", ostentando estudos de "leitura de centenas de documentos por causa da biografia de Cunhal", como atestado de superioridade intelectual para desmentir uma imputada tese conspirativa no aparecimento e desenvolvimento do golpe de 25 de Abril de 1974. 

Essencialmente, o tal DPA teria dito aos jovens do Chega que o golpe e o que se lhe seguiu tinha duas causas. A primeira através da intervenção do PCP e da URSS  e também das "grandes potências", o que lhe retira ipso facto a base de argumento de imputação conspirativa e denota a incompreensão do que o mesmo DPA terá dito e o sentido das afirmações. Afinal havia uma "guerra fria"...

Não li o que DPA disse ou deixou de dizer mas segundo Pacheco Pereira é coisa falsa porque nunca encontrou nos seus estudos indícios de tal intervenção e conspiração, tal como não encontrou indícios de o PCP ter controlado o MFA ou tentar afastar oficiais spinolistas após o 11 de Março de 1975 e afirma que tal "não tem nenhum fundamento histórico". 

Depois de enveredar pela amálgama da intervenção da URSS com a intervenção do PCP na génese do 25 de Abril de 1974 e acontecimentos de 11 de Março de 1975, sintetiza tudo na frase atribuída àquele de que " toda a estratégia foi controlada pela União Soviética". 

O método "histórico" de Pacheco Pereira parece-me um ludíbrio, uma aldrabice de alguém que de historiador quer ter o nome. Sabendo que o PCP reduz toda a intervenção das forças políticas que se lhe opunham logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 a "manobras da CIA" e ao "fascismo", a antonomásia putativa é do mesmo género. 

Em Setembro de 1974 a esquerda, incluindo o PCP e as forças que este considerava como padecendo da "doença infantil do comunismo" e que tinha atingido Pacheco Pereira de modo grave e incurável, mostravam bem o que era a agitação e propaganda contra o tal fassismo capitaneado por cias e companhias, envolvendo mesmo Mário Soares e os socialistas democráticos, aliados dessa reacção durante todo o ano de 1975 e depois disso até 1986... 

O simplismo e redução ad fascismus foi sempre a táctica preferida do PCP para se organizar e impôr mediaticamente. 








Parece historicamente comprovável que a partir de finais de Setembro de 1974 e até 25 de Novembro de 1975, o PCP pretendeu de algum modo tomar o poder político em Portugal, aproveitando a maré favorável de esquerdismo ambiente, muito dele espalhado pela doença infantil de que Pacheco Pereira padecia. Era isso o "comunismo" a que evidentemente Diogo Pacheco de Amorim e outros se referem e não é evidentemente uma falsificação histórica. 

Aliás o PCP oficiosamente historia o golpe de 25 de Abril de 1974 como um romance revolucionário assimilado a um Outubro surgido em Abril. 

No O Militante de Maio Junho de 2013 é assim apresentada a génese do golpe: tudo obra do povo sem o qual tal nunca seria possível! E através de um MFA em aliança com tal povo! A mitologia comunista é assim e a História pode muito bem ser assado que será sempre frita, pelos Pachecos Pereiras historiadores desta pacotilha ideológica. 




Portanto a mitologia comunista do PCP é esta. A dos doentes infantis não anda longe desta miséria intelectual e Pacheco Pereira é o historiador disto. 

Negar que após o 11 de Março os oficiais mais próximos de Spínola foram afastados ( de onde, já agora?!) de um qualquer poder aliás já disseminado e minado pela esquerda, incluindo a comunista e que então se centrou no Conselho da Revolução, criado de um ex nihilo cripto-comunista nessa altura,  é que é a verdadeira falsificação histórica. Negar que após tal ocorrência o Conselho da Revolução se constituiu maioritariamente por oficiais esquerdistas e comunistas de vários matizes, incluindo os habituais compagnons de route é outra falsificação histórica. Negar que estes esquerdistas afastaram do centro de poder os oficiais spinolistas é que se torna indecente.  Até a Infopédia ilustra melhor o assunto que Pacheco Pereira, o historiador! 

Negar o carácter revolucionário de tal órgão não democrático e que no primeiro ano de existência contou com Costa Gomes, Vasco Gonçalves e Otelo e olvidar as aventuras que conduziram ao 25 de Novembro de 1975  é esquecer algo fundamental: a verdade histórica. 

A outra potência imperialista não tinha dúvidas sobre o que se passava...


E nem sequer os sociais-democratas franceses ou liberais tinham dúvidas: 


O "historiador" Pacheco Pereira do alto das suas centenas de documentos tidos como lidos e compreendidos para escrever a biografia de Cunhal é que as tem. Enfim. 

Para quem quiser entender o que a direita entendeu sobre o golpe de 25 de Abril de 1974 e que aliás Pacheco de Amorim não contradiz de modo algum é ler o que Kaulza de Arriaga, tido como um extremista de direita mas que foi nada disso ( e basta ler esta entrevista para o perceber) , escreveu no seu livro Guerra e Política, a propósito das causas remotas e imediatas do golpe de Abril de 1974:






E também aparece a menção a uma queixa criminal apresentada contra os supostos autores do crime contra o Ultramar português. Não aparece a URSS...nem sequer o PCP. Por uma razão simples: não era preciso porque os seus agentes estavam identificados, tendo à cabeça um tal Rosa Coutinho. Alguém poderá desmentir?


Consequências do "crime" cujo processo foi até ao STJ tendo sido arquivado:




Quanto ao PCP e sua estrutura interna bem como o modo como surgiu a doença infantil que afectou irremediavelmente Pacheco Pereira, é bom ler o que Silva Marques, aliás citado no artigo do Público, escreveu em 1976:




Silva Marques não precisou de ler documentos para atestar autoridade. Bastou-lhe relatar o que viveu, ao contrário de Pacheco Pereira que vive sempre através de depoimentos alheios de recolecção . E se ainda fossem correctos...

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