O Público apresenta hoje uma entrevista com António Costa Pinto, de uma série de 12 com "historiadores" sobre a "guerra colonial". Desde logo a designação é equívoca porque a guerra no Ultramar português só passou a ser "colonial", no linguarejar ideológico da esquerda e uma sociedade no seu todo não é apenas constituída por comunistas e socialistas, tal como democraticamente se entende. É o entrevistado, aliás, que o reconhece explicitamente, sem analisar as consequências de tal dicotomia, para estabelecer a verdade histórica, mas contextualizando-a na dinâmica esquerda-direita, sem mais.
Portanto, o Público com estas entrevistas pretende apenas legitimar a falsificação histórica de tal narrativa corrente. Não admira tendo em conta a autora do texto da entrevista de hoje, Ana Sá Lopes, enviesada à esquerda porque sim e "com muito gosto" como o publicitário do pão de forma bimbo.
Pode dizer-se que quem lê o Público já sabe o que vai gastar: antifassismo a rodos e democracia limitada à esquerda socialista e comunista e pouco mais, incluindo aqui as ideias da ultra-esquerda radicalizada e das modas ideológicas.
Ainda assim, poderiam em nome da democracia que apregoam tentar um pouco mais de ecumenismo nesta matéria, sabendo-se- e é o entrevistado que o diz- que até aos anos sessenta, em Portugal eram todos colonialistas, incluindo os antisalazaristas e porventura até os comunistas ortodoxos, esquecidos do internacionalismo proletário dos komintern de antanho e antes das "guerras de libertação" publicitadas pela Afrique-Asie, revista que aliás chegava cá, para consumo corrente.
Portanto, a integração da memória completa deveria fazer-se avisando os incautos que estes entrevistados foram sempre esquerdistas radicais que defenderam no seu tempo de juventude e idade adulta, soluções comunistas, ortodoxas, maoistas ou afectadas da famigerada doença infantil.
Sendo essa a verdade factual torna-se em grave manipulação informativa escrever e entrevistar estas personagens da opereta da extrema-esquerda que nunca abandonaram certos paradigmas intelectuais e são incapazes, por natureza, de uma tolerâncias que abranja qualquer ideia que se estenda para além do "socialismo democrático". Toda essa margem se torna logo de extrema-direita, direita radical e o diabo a oito e meio de um fellini improvável, como é o caso lamentável de Pacheco Pereira. Uma tristeza intelectual que só os diminui e limita. Amanhã, termos o Loff, o que será continuar a chover neste molhado sujo de imundície ideológica marxista...e hoje temos isto: ´
Quem é que ainda não está cansado desta visão monocolor, parcial, falsa na essência por não abranger a realidade total e destinada a perpetuar a ideologia que professam, sem democracia alguma para além das franjas que frequentam?
Repare-se em algumas passagens da entrevista a este antigo maoista tornado intelectual descomprometido:
" A democracia portuguesa ajustou contas com o passado ditatorial. De uma forma, aliás relativamente radical, quer sob o ponto de vista simbólico quer efectivo". Tudo isso foi acompanhado por um discurso de rejeição do passado ditatorial".
Que passado ditatorial? O do salazarismo/caetanismo. Se lhes perguntarem acerca das suas propostas ideológicas aquando do tempo dessa acção de rejeição, mormente a sua opção por ditaduras muito piores e nefastas, desumanas e totalitárias, como foi o caso do maoismo, dirão certamente que foi coisa da juventude mas não raciocinarão que tal proposta de ditadura não foi exemplarmente denegada e denunciada tal como o fizeram com o fassismo de Salazar/ Caetano. Uma disparidade atroz porque os efeitos de tal omissão conduz directamente ao enviesamento actual que falsifica a história.
Para este intelectual, "ajustar contas" é perpetuar a memória do antifassismo do combate comunista e socialista da esquerda marxista, tornada como verdade oficial do que se passou em Portugal durante os 48 anos do regime de Salazar e Caetano. Tudo o que saia dos parâmetros ideológicos que intimamente acolheram, torna-se espúrio e alheio a tal realidade, o que é evidentemente uma falsificação através da manipulação ideológica. Continua por isso dentro do figurino esquerdista de sempre a tentar compreender o passado como o compreendia quando defendia ditaduras muito piores e execráveis. Não têm emenda, estas pessoas.
Sendo legítima a sua narrativa torna-se apenas parcial, incompleta e portanto falsa para dar a imagem do que foi o nosso passado durante quase todo o século XX. Contar a História desta maneira é enganar as pessoas, começando por se enganarem a si mesmos por obsessão ideológica e caturrice intelectual. Um desmerecimento a qualquer inteligência que se preze.
Repare-se noutra passagem significativa, esta sobre a guerra no Ultramar, para tais intelectuais, a guerra colonial, sem mais nuances:
"Repare-se: a descolonização portuguesa comporta uma ironia espantosa. A resistência à descolonização de uma ditadura nascida na época do fascismo, que faz da questão colonial o factor mais importante da sua identidade autoritária, termina em colapso e uma transição democrática, em plena guerra fria, transfere imediatamente os poderes para movimentos de libertação que são formalmente socialistas. Uma ditadura que se pretende legitimar pelo facto de estar a lutar contra o comunismo em África...não houve nenhum outro sistema colonial europeu em África que, de uma assentada, transferisse o poder para novos regimes de tipo socialista, com grande identidade entre si, repare-se."
A grande ironia nestas frases é outra: é a incapacidade de o entrevistado dizer que os novos regimes de tipo socialista eram comunistas, ditatoriais, em moldes que a ditadura de Salazar/Caetano nunca o foram. Porém, omite tal facto assestando a designação de socialistas a regimes que praticaram chacinas que nem por sombras na "guerra colonial" se praticaram e logo depois de tal guerra ter terminado. Em nome do tal socialismo. Esta omissão grave e significativa marca toda a ideologia subjacente a estes "historiadores". Amanhã, com o Loff ainda vai ser pior...
E no entanto bastaria a estas Sá Lopes para estas encomendas estudar um pouco mais, tentar compreender que a sociedade portuguesa não se resumia ao esquerdismo socialista\comunista e que havia uma larga margem da população, uma designada maioria silenciosa, termo conotado à direita, que pensava de outro modo, que via de outro modo a realidade e defendia outras soluções para Portugal diversas das que foram adoptadas no PREC e anos que se seguiram.
A melhor forma de mostrar tal panorama é a reprodução de textos antigos, completamente esquecidos e que eram correntes e nem sequer reflexos da propaganda do antigo regime mas consentâneos com a visão do mesmo do problema nacional que a guerra no Ultramar provocou.
Já o escrevi aqui: a melhor publicação para se ver com olhos de ver a realidade que tínhamos em Portugal, no início dos anos setenta do séc. XX, altura em que estes entrevistados militavam em movimentos totalitários, comunistas, como se a ideologia fosse a melhor para o nosso país, adoptando o esquerdismo socialista\comunista que agora prevalece como sendo a única visão historicamente aceite pelos media, é a revista Observador. A original, saída em Fevereiro de 1971 e que consagrou vários números, até ao início de 1974, altura em que acabou, ao problema das então chamadas províncias ultramarinas, ou territórios portugueses em África, no Ultramar, como se dizia e deve continuar a dizer, em vez da novilíngua adoptada porque foi a primitiva, original e oficial. A outra designação é apócrifa.
Em vez de se acusarem culpados dessa distorção histórica motivada ideologicamente pelas opções de juventude, continuam a insistir nessa visão e narrativa. É uma tristeza.
Parece-me também óbvio que estas publicações nunca entraram na mente destas pessoas, porque as não liam na atura, ocupados que estavam em seguir os conselhos avisados do presidente Mao, Enver Hoxa e quejandos ditadores como Estaline ou Trotsky, ao pé dos quais Salazar fazia figura de menino jesus. Porém, eram aqueles que eles preferiam porque eram ateus...e portanto só acreditavam no pai natal das estepes soviéticas e nas revoluções culturais salvíficas. O fassista era e continua a ser...Salazar. Enfim.
As ideias prevalecentes em Portugal no ano de 1973, data da publicação destas revistas eram as que se expõem.
Quem tiver o topete de nos dias de hoje as recordar para discutir ou rebater as ideias esquerdistas da época e de sempre que aliás continuam a fazer curso como se fossem as únicas admissíveis na discussão mediática, é logo apodado de fassista, extremista de direita e outros mimos. É assim que essa gente tão polidamente democrática, mas com a pela enrugada pelo totalitarismo esquerdista, dispensa imediatamente para calar vozes dissonantes.
E chamam a isso democracia...
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