Na Sábado de hoje o editorial de Eduardo Dâmaso fala de Joe Berardo como uma "metáfora do poder" e dá um retrato aprimorado da situação por que o país atravessou nesta última dúzia e meia de anos, no campo político-partidário, particularmente na "galáxia de poder que dominou Portugal quando o PS socrático conquistou a maioria absoluta".
O vice-director, Carlos Lima, também participa desta visão comum, assim:
Ou seja e em resumo: toda a gente que queria saber o que se passava em Portugal, desde 2005, sabia se nisso estivesse mesmo interessado. Mas uma boa parte não estava e por razões variadas.
O que este panorama exposto denota à saciedade é que havia imensa gente nos media que se apercebia do atentado ao Estado de Direito, claro, inequívoco que ocorreu nesses anos mas fez de conta que nada aconteceu, por tartufismo e interesse particular.
Um dos que sofreu na pele profissional os efeitos mais perversos e nefastos de tal distorção democrática foi o director do SOL, José António Saraiva que no último editorial escreveu isto:
Um dos que alinha sempre na corrente difusa de hipocrisia e omissão, escamoteamento e notório desconforto em chamar boys pelos nomes, é José Pacheco Pereira. Já é um estilo.
Os seus artigos na Sábado e- imagino- as suas participações no programa televisivo do círculo habitual de apaniguados de um certo poder situacionista, estão sempre em consonância com o que Molière caracterizou os dissimulados com mania que são mais espertos que os demais e assim fazem carreira: os tartufos e neste caso sofisticados.
E porque é que Pacheco Pereira entra nesta galeria? Em primeiro lugar há agora um indivíduo que lhe descobre a careca de modo assaz contundente e também na Sábado de hoje. Diz que historiador, Pacheco Pereira não é; apenas político, em tudo o que escreve.
Para além disso ainda lhe chama "vira-casacas profissional", o que é curioso e me levou a procurar lá atrás, no tempo da escrita do mesmo, sinais de tal tartufismo. E encontrei, perante a escrita de hoje e a de alguns anos atrás, quando tudo isto começou.
Esta é de hoje:
Repare-se a análise que faz do caso Berardo. Diz que o Berardo noutras circunstâncias até poderia ser um herói do Chega, por causa da jactância e da afronta ao poder socialista que pretende "espoliar os empresários de sucesso, apoiados por políticos medíocres".
Pacheco Pereira acha que Berardo até se parece com...Trump, porque este também se gabou de não pagar impostos. Pois é, o sistema fiscal americano é mesmo parecido com o nosso e o modo como as empresas e bancos ligadas ao regime funcionaram ( EDP, PT, BCP, BES) por cá, também. Só um néscio ou uma besta quadrada usaria tais argumentos para fazer valer uma tese com tal peregrinação, mas foi os que usou.
Por outro lado, repescando antigas crónicas, pode ler-se que Pacheco Pereira percebeu desde logo como funciona o esquema de corrupção entre os governantes e políticos, o que denota que não é besta quadrada nem sequer néscio, sobrando por isso o adjectivo adequado; tartufo, voilà! E bem dissimulado em tal pele.
Em 27 de Novembro de 2008, Pacheco Pereira explicava o óbvio numa nota algo encriptada e que evidentemente nunca leria perante o seu colega de debate televisivo, já falecido, o queijeiro de Contenças, à qual se lhe aplicava que nem luva que Pacheco Pereira nunca calçou em semelhantes circunstâncias. De resto na altura estava na moda bater em Oliveira Costa e entourage, tudo cavaquista, tal como Pacheco Pereira também foi. E dos mais aguerridos...
Nessa altura também andava em parangonas o assunto de Sócrates com o Fripó mas de Pacheco Pereira pouco se lia a propósito.
Nessa altura, o problema, para este esperto não era a questão de fundo, a corrupção que gritava para quem soubesse o mínimo, e que Pacheco Pereira sabia pelo que acima escreveu. Porém, preferiu enveredar pela dúvida e pelo inquisitório à investigação, manobra típica de hipócritas, em 29 de Janeiro de 2009.
Depois disso, do que se soube no processo Face Oculta e no vindouro Marquês, poucas vezes se leu Pacheco Pereira a sintonizar com os que se indignaram com o abuso de poder e o atentado ao Estado de Direito.
Ainda assim, em 2015, teve o topete de se declarar presciente logo na época e ter dito o que nunca disse, claramente, assumindo a postura dos cágados neste escrito. "Poucas pessoas em Portugal criticaram com mais dureza José Sócrates", escreve para se declarar do lado certo:
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