segunda-feira, setembro 11, 2023

Informação-de-formação sobre o Chile, 1973

 Faz hoje 50 anos que Salvador Allende morreu no Chile, na sequência de um golpe de Estado militar que instaurou um regime de ditadura militar que substituiu um regime que se queria socialista.

Allende tinha conquistado o poder presidencial através de eleições que à quarta vez lhe deram 36 por cento dos votos, com uma vantagem de pouco mais de um por cento sobre o directo opositor, o conservador Jorge Alessandri. 

Com esse apoio tentou tornar o Chile naquilo que em Portugal se tentou durante o PREC, nacionalizando indústrias, "imbuído de ideologia marxista" e com os "estandartes do fracasso", como o do "controlo da produção por parte da classe trabalhadora", tornando o país uma espécie de democracia popular que o golpe de 11 de Setembro de 1973 liquidou.

Durante o tempo do governo marxista de Allende os problemas económicos agravaram-se de tal modo que o golpe não foi uma grande surpresa, devido às contradições que se foram avolumando no interior do regime, com uma extrema-esquerda do M.I.R a pretender ir mais longe e a relativa moderação marxista de Allende a tentar conter os ânimos políticos mais exaltados, como aliás sucedeu cá, em Portugal, um ano depois. 

As notícias que se conheciam sobre o regime, na época eram veiculadas pelas agências noticiosas, como esta de 16.10.1972, do então cripto-comunista Diário de Lisboa:


A declaração de guerra não se explicava, a não ser no seu contexto político. Em 10 de Outubro de 1972, o mesmo jornal dava a notícia de um apoio a Allende e contra uma "multinacional" americana.  

Típico. Por cá, durante o Verão de 1974 inventaram-se conspirações da CIA e de companhias americanas para derrubarem o prec nascente.


E como se noticiou o golpe militar contra Allende? Assim, no Diário de Lisboa de 13.9.1973:


Seguido de outras notícias sobre o assunto, assim, em 27-9-1973:


No Diário Popular de 14.9.1973, o relato dos acontecimentos, assim:


E no dia 27.9.1973:


À míngua de imagens, comprei a Stern alemã, da semana a seguir, com uma foto de capa:


Ao camionistas em greve...nos dias anteriores. Faltou mostrar as mulheres chilenas a bater nas panelas em manifestação devido à escassez de produtos do maravilhoso sistema socialista...já em marcha acelerada para a miséria garantida a todos:



Em Portugal, porém, quem quisesse estar um pouco melhor informado, para além das notícias dos jornais esquerdistas, como o Diário de Lisboa e os sem posição definida, como o Diário Popular, tinha a Observador, por exemplo.

Em 21 de Setembro de 1973, logo a abrir com uma imagem de "uma manifestação feminista contra o governo socialista":




E o artigo no número da semana seguinte que explicava o que os jornais esquerdistas evitavam e evitam mencionar: bancarrota e o falhanço socialista habitual...


Esta perspectiva dos acontecimentos era acompanhada por depoimentos de pessoas que então olhavam a realidade com olhos diferentes dos que dirigem as madrassas do jornalismo, até hoje, como por exemplo este artigo, de 21.9.1973,  sobre Champalimaud, regressado a Portugal:


Por isso no número de 5.10.1973 a revista procurou informar um pouco mais:







E em 12 de Outubro dois artigos de opinião, um de António Lopes Ribeiro e outro de Raymond Arin, completavam o quadro para se entender melhor o que sucedeu no Chile, de 1970 a 1973...e que por cá os esquerdistas nunca explicam.









Por cá, passados 50 anos a informação que temos para explicar o golpe militar no Chile é esta, vinda no Público de hoje e proveniente do jornalismo das madrassas que orientam por aqui a "informação-de-formação". 

Repare-se na obscenidade da expressão "sonho popular" como se tudo no Chile da época fosse o mar-de-rosas do socialismo nascente e pujante de êxitos sociais e económicos, abafado pelo maléfico Pinochet, a mando das multinacionais ( ITT, por exemplo) e dos americanos da CIA ( até há pouco tempo era a versão corrente da História)...
Pergunto-me quem é este jornalista António Rodrigues que deve ter revisto a prosa como um dâmaso salcede fazia nos Maias...









Pinochet, o chefe da junta militar que governou depois o Chile mais de uma dúzia de anos, tentou acabar com esta mentalidade, usando métodos de terror, julgando que era assim que se combatia a mesma. 
Estava enganado, mas a seu crédito tem o facto de o extremismo que pretendeu exterminar, usaria métodos ainda piores para acabar com a mentalidade que se lhe opunha...
E por cá, só não medrou porque as circunstâncias eram outras e Portugal não era o Chile...senão, teríamos os otolos todos a mandar num manicómio que quase instauraram e muitos, como os jornalistas do Público, gostariam de repetir, porque sentem muitas saudados desse tempo de "sonhos populares", em que tudo era possível. Para uns tantos, claro está... 

ADITAMENTO:

O jornal francês Le 1, de 6 de Setembro também dá o seu contributo para o assunto do Chile, Allende e Pinochet.
De um modo semelhante ao do Público, apontando as maravilhas do tempo de Allende e os horrores do tempo de Pinochet, mais o malfadado neoliberalismo fatal que corrói os espíritos jornalísticos formados em madrassas de esquerda, neste caso vindos directamente de Maio de 1968, em França, actualmente com feudos seguros na social-democracia dos países ricos que têm empresas suficientes para sustentar o Estado social...

É assim:







Como se pode ler na entrevista ao cineasta (?) que acompanhou os últimos momentos de Salvador Allende, a nostalgia do passado do governo da Unidade Popular é grande e a inteligência para compreender o que se passou ficou no passado, uma vez que nem entende a razão pela qual os chilenos da actualidade rejeitaram uma constituição mais "progressista", deixando como está a que Pinochet fez aprovar. 
Por outro lado, os lamentos tipicamente esquerdistas do cientista político, da estirpe de um prof. Buonaventura, Damien Larrouqué também mostram que nada esqueceram e pouco aprenderam. O neo-liberalismo, essencialmente definido como um sistema de controlo orçamental rígido, grande liberdade económica privada e intervenção mínima do Estado, é o mal a combater. Preferivelmente através de uma neo-marxização da economia, precisamente o que conduziu ao golpe militar de 1973. 
As dificuldades populares da época, no abastecimento de produtos alimentares replicavam afinal o que acontecia nos países de Leste, motivo principal para a respectiva derrocada do comunismo. Pois nem assim aprendem a lição! 
E por isso escondem tais razões ou justificam-nas com a ladainha habitual da sabotagem económica de empresários privados que julgam estarem sempre imbuídos do espírito maléfico de se apoderarem das sagradas mais-valias que pertencem aos trabalhadores. 
Como se os trabalhadores tivessem trabalho...sem que houvesse empresas bem geridas! Como se os trabalhadores fossem uma classe autónoma e independente das empresas que produzem riqueza! Como se os trabalhadores fossem heróis populares perante os carrascos que exploram recursos económicos segundo os princípios da livre iniciativa privada e riscos inerentes. 
O marxismo continua vivo e actuante, neste caso no Le 1 e no jornalismo em geral. Seja sob a forma de leninismo; seja sob o mais suave trostkismo. PCP ou BE, conforme também temos por cá e fez sempre grande escola nas madrassas de comunicação social...

Num dos jornais acima mostrados, o DL de 27.9.1973 aparece uma publicidade à Escola Superior de Meios de Comunicação Social, solicitando candidatos à frequência de cursos de jornalismo e que já ia na terceira fornada. Exigências curriculares: 7º ano do liceu; aulas à noite, durante três anos. E apareciam os dr.s da mula russa do jornalismo. 
Há por aí às dúzias! A dar opinião e a vender prosápia marxista, claro. 

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