sábado, dezembro 10, 2011

O caso Miguel Relvas

Miguel Relvas tem uma entrevista de duas páginas no Expresso de hoje. A uma pergunta sobre se é da Maçonaria, responde assim:

" A vida privada de cada um, a cada um diz respeito. Sei é que, neste Governo, nem maçonarias nem Opus Dei têm nenhum peso."

Ora bem. A pertença a uma obediência maçónica, de um membro do Governo com responsabilidades de poder muito elevadas, não é apenas um assunto do foro privado. Por uma razão singular: a Maçonaria, como os seus dirigentes recentes declararam publicamente em entrevistas, interfere directa e continuadamente nas opções políticas de governo e até legislativas. Há diplomas legislativos que foram discutidos nas lojas maçónicas antes de serem leis e perante pessoas que legislavam. Logo, não é apenas uma associação recreativa tipo clube de futebol. Aliás, se perguntassem a Miguel Relvas qual o clube a que pertence não teria qualquer pejo em revelar a preferência. Logo...deveria, na resposta ter dito outra coisa.
Quanto ao facto de as maçonarias não terem qualquer peso no actual governo, tendo a acreditar que assim seja, com uma ressalva: Miguel Relvas é um dos escolhedores políticos, uma espécie de provador de competências políticas e portanto escolhe outras pessoas para integrar cargos de governo, de confiança política e não só. E é nesse interstício que se coloca a possível influência à obediência maçónica, de modo sério. Particularmente em certas instituições do Estado, como os organismos de supervisão e as polícias.
Em nome da transparência do Estado de Direito democrático deveria assumir que pertence efectivamente à Maçonaria, a que Loja e se nela se discutem nomes para cargos de poder. O que aliás seria apenas a revelação de um segredo de polichinelo, mas que permite entender que não é inócua e irrelevante a pertença a obediências maçónicas. Melhor seria para Relvas, desvincular-se efectivamente dessas obediências e dar conta disso.

Outra passagem da entrevista que suscita perplexidades é esta, a propósito de uma frase de Paulo Eloísio de Sousa, presidente da Associação Industrial do Rio, à Sábado, num número de há meses, aqui citado e na qual o referido indivíduo dizia que "Miguel Relvas ajuda a identificar oportunidades".
Miguel Relvas, a propósito responde assim:

" Eu saí da vida empresarial quando vim para o Governo. Trabalhei no Brasil e sempre que posso ajudar o meu país com a mais-valia do que conheço hoje na economia e na sociedade brasileiras, faço-o. Sou uma pessoa de consciência tranquila. Tenho vida além da política e acho que isso ajuda muito. Ao contrário de outros que por aqui passaram, se um dia sair do Governo, sei o que vou fazer. Não quero mais carreira política."
Muito bem. Miguel Relvas tem uma vida para além da política mas conseguiu-a por causa da política, é bom que o refira também.
Se não fosse ligado ao partido desde novo e ainda sem "estudos" ( acabou-os muito tarde numa universidade privada) provavelmente não teria a tal vida para além da política e não lhe seria fácil arranjar emprego que rendesse o que lhe rendeu, na ordem das centenas de milhar de euros em depósitos bancários. Portanto, uma pergunta se impõe, directa ao coração destas trevas: se Relvas fosse um mero profissional de qualquer coisa, sem ligação à política partidária, a Alert teria dado por ele? Que responda claramente e sem tergiversar, se quiser mostrar boa-fé declarativa.

É muito raro que alguém sem qualificações académicas especiais ou qualificações empresariais especiais também, consiga o que Relvas conseguiu em acumulação com a vida política, sempre: " ajudar a identificar oportunidades".
Essa ajuda pode confundir-se facilmente com uma vulgaridade na vida política de topo: o tráfico de influências, actividade criminalizada desde 1995.
Se Miguel Relvas tem uma noção ética da actividade política diferenciadora e de tal modo transparente que lhe permite contar como ganhou o que tem, óptimo, porque estamos perante um caso raríssimo de político de primeira água e de pessoa de Estado.
É assim?

3 comentários:

lusitânea disse...

Esperemos para ver a quanto montam os negócios depois de sair.O que se espera dele é TOMAR MEDIDAS para além de fazer de Robin dos Bosques...
PS
Deve começar pela Lei da Nacionalidade...

Floribundus disse...

por trás de passos, relvas e outros
existem os gurus
'minzes', ângelo

Na maçonaria de 'cascais', dita regulaR, HÁ GRANDE VOCAÇÃO PARA NEGÓCIOS

Luis disse...

È pública a influência de MR e da maçonaria em alguns tiros nos pés (felizmente) que este governo já tem dado. Começou com a tentativa de eleger o avental Fernando Nobre para pres da AR, em que MR se multiplicou em contactos com irmãos da oposição para garantir a solidariedade das maçonarias, não conseguindo precisamente porque FN é irmão muito pouco querido nas mesmas. Seguiu-se tentanto que o avental das secretas JSC, responsável pela confusão criada e descrença nas capacidades e idoneidade dos SI's, fosse o novissimo secretário-geral das secretas. Os factos demonstraram a asneira que seria. Mais recentemente, outro dos aventais (MA) que rodeiam o inner circle do primeiro-ministro tentou a nomeação do novo fiscalizador das secretas. Mais um tiro nos pés porque não havia ninguem com menos perfil para a função do que o indicado. Nem os deputados da maioria votaram neste.
E se a indicação deste pessoal para os cargos não se deve à sua competência e idoneidade, então deve-se a quê?
Como dizia, é notória a influência dos aventais na politica e também neste governo, mas não só. Infelizmente faz-se fila, entre funcionários das policias e das secretas, para serem iniciados nas obediências. A que se deverá?

O Público activista e relapso