No programa Olhos nos Olhos na TVI24, Medina Carreira e António Barreto estão neste momento a dizer coisas verdadeiramente extraordinárias sobre a crise que atravessamos e o Estado que temos. Essencialmente a ideia básica é que somos pobres. Em tudo, particularmente na inteligência de quem manda.
António Barreto acabou de dizer uma coisa que merece destaque. Depois de realçar a actual incompetência técnica e científica, denotada por exemplo na parecerística a que o Governo recorre, às firmas do regime, disse:
" O Estado português há cinquenta anos tinha bastante competência técnica e científica para operar. Hoje não tem, porque o que é fino hoje, o que é bom é encomendar aos escritórios de advogados, encomendar às multinacionais americanas, inglesas, alemãs ou francesas; às empresas privadas que vão fazer auditorias e consultorias e todo esse mundo passou para o privado. O privado o que quer é fazer negócios".
Medina Carreira concordou.
Portanto, temos um elogio a Salazar e ao Estado Novo. Novidade? Nem por isso. Novidade é apenas que se diga isto frisando que há cinquenta anos, portanto nos anos sessenta, havia maior competência no Estado do que hoje.
Ilações? Como não se falou abertamente no regime de Salazar e nas virtualidades do regime anterior, fica a verificação dos factos que são evidentes e que estes dois socialistas que estiveram em governos, nos anos setenta, logo a seguir à Revolução, acabam por confirmar: Salazar tem que ser lembrado pelo que fez e pelo que pensava.
Medina Carreira diz, para realçar a ausência de controlo de despesas ( "nenhum político se opõe a despesas do Estado"):
"Quem controla e fiscaliza os dinheiros do Estado? Ninguém!"
Huummm...no tempo de Marcello Caetano, os "dinheiros do Estado" eram controlados de modo que hoje nem se sonha. E Medina Carreira devia saber disto e lembrar-se.
Ora leia-se o que já foi escrito aqui, citando Marcello Caetano:
Deve-se ao Dr. Salazar a ordem
mantida durante quase meio século nas finanças portuguesas. Caprichei
em conservá-la. A partir de um orçamento prudentemente equilibrado
praticava-se uma gestão legalista em que a previsão orçamental das
despesas tinha de ser respeitada.
As
despesas ordinárias ficavam sempre muito abaixo das receitas
ordinárias para que o saldo pudesse servir de cobertura às despesas
extraordinárias militares e até a algumas de fomento. NO rigor dos
princípios, o que se empregava em investimentos reprodutivos podia- até
talvez devesse- ser obtido por empréstimo: mas a verdade é que só uma
parte o foi, porque se encontrou sempre maneira de conter o montante da
dívida muito abaixo das possibilidades do crédito nacional e da
percentagem razoável do Produto Nacional Bruto.As despesas militares
eram um quebra-cabeças. (...) Debalde eu determinara que não se
excedesse com as despesas militares os 40% do orçamento geral do Estado:
ia-se até aos 45%, e o pior é que se tinha a consciência de uma
péssima administração do Exército, pois na Marinha e Força Aérea as
previsões orçamentais eram respeitadas."
Amanhã há mais...