sábado, julho 09, 2016

A bicicleta parada

Durão Barroso aceitou um lugar de topo na administração de um banco mundializado, o Goldman Sachs, um dos bancos do sistema capitalista em que vivemos.
Este sistema capitalista do FMI, da "troika", dos "mercados", das bolsas mundializadas e em rede, seguindo as cotações de bens que se produzem e transaccionam é o que temos em Portugal e na Europa. Não é outro porque não há outro. Ou haverá?

Segundo as reacções à nomeação de Barroso parece que sim. Uns apontam-lhe o marxismo primitivo, sob a alçada de um MRPP de Fernando Rosas, coisa que Durão Barroso se libertou há longos anos, ao contrário do Rosas que ainda lá continua, com o fardo da luta de classes em cima.
Outros, mais claros na indignação mostram aquilo que verdadeiramente são e que os demais não querem notar: revolucionários de esquerda marxista que nunca abandonaram as ideias que sintetizam tacticamente numa imagem: o processo revolucionário não pode parar. Tal como uma bicicleta, se parar, cai.

Ora leia-se o que dizem certos bloquistas sobre tal nomeação: a ideia básica é a de que Barroso vai servir o capitalismo, como serviu enquanto esteve à frente da União Europeia, como agente "do gansterismo financeiro global". Palavras, para quê? É este um dos movimentos da "geringonça" que irá fatalmente desconjuntar-se um dia destes, por contradição insanável e para bem de todos nós, Um segundo 25 de Novembro, precisa-se urgentemente.



Este anseio de prec vem de longe, de muito longe e muito andou para aqui chegar...

Em 31 de Outubro de 1975 um escasso mês antes da bicicleta ser abruptamente parada pelas autoridades do país, no Expresso, um dos militares de Abril, exprimia-se assim, idiossincraticamente:


Esta ideologia de classe antagónica ao sistema capitalista que temos não abandonou a bicicleta, entregando-a aos vencedores. Recuperou-a, guardou-a na garagem à espera de melhores dias que não apareceram, nem mesmo com bombas revolucionárias das FP25.
Até agora, por obra e graça dos compagnons de route que sempre o foram e vivem na corda bamba das contradições. Estão no sistema capitalista mas não querem fumá-lo, apenas defumá-lo.

Pelo contrário, os sempiternos trotskistas que aguentam tudo, até cuspirem na própria sopa que comem, não desistem...ora leia-se um dos padrecas da geringonça em entrevista de 2009. A intenção, clara, desde sempre é a de ultrapassar o PS, o verdadeiro obstáculo ao poder popular que defende. E diz, no fim: "Tem de haver, para um projecto de governo à esquerda, a ambição de criar uma nova força que não é o PS". E sobre o momento de tal transmutação alquímica que carece sempre de votos a mais que o tal PS: "não teremos ainda nestas eleições [os tais votos] mas há-de chegar o dia, e bem perto, em que havemos de os ter".

Mais claro que isto não há.



O comunismo, tal como a ferrugem, nunca dorme. E mesmo a opinião de antigos comunistas que abandonaram há muito a luta de classes é insuficiente para afastar de vez, da arena democrática, estes revolucionários esquerdistas que querem mergulhar o país noutra idade das trevas, as autênticas.

António Barreto ao Público de 23.10.2015, antes da geringonça se alcandorar ao voo alto em que se encontra, com as asas já perto de um sol que as irá derreter.


O nosso desastre está perto mas o da geringonça virá a par.

O problema está diagnosticado. A causa é sistematicamente mistificada. Como aqui se explica, no artigo de André Azevedo Alves, sobre "é o défice, estúpido!":

 A verdade é que, no actual contexto português (resultado dos efeitos acumulados dos défices passados), o défice deixou de ser matéria exclusivamente nacional, como bem explicou Rui Ramos:
“O défice, ao contrário do que insinua a actual maioria parlamentar, não é uma simples birra estatística ou ideológica. Para uma das economias mais endividadas e estagnadas da Europa, que só o BCE separa da bancarrota, o défice é um problema de financiamento externo.”
Como até o Quantitative Easing do BCE deverá ter os seus limites, será muito difícil arranjar quem pague a reversão de medidas do governo anterior e o laxismo orçamental. Seria importante perceber de uma vez por todas – e independentemente das cores partidárias – que o que realmente constitui uma traição a Portugal é não aprender nada com os erros cometidos, empurrando alegremente o país para um desastre anunciado e um novo pedido de assistência externa.

Questuber! Mais um escândalo!