No pós II guerra mundial nenhum país da Europa ocidental foi sujeito a experiências político-sociais sequer parecidas.
Nenhum país teve a sua economia nacionalizada em mais de dois terços, com a banca e os seguros nacionalizados e os seus principais capitalistas e empresários escorraçados do país como fascistas e reaccionários, sendo obrigados a refugiarem-se noutro país, para escapar à prisão por crimes fora do catálogo penal e portanto fruto do puro arbítrio da época.
Isto que deveria fazer soar todas as campainhas de alarme teve apenas um efeito deletério, sendo tais fenómenos integrados socialmente como muito naturais e quiçá inevitáveis.
Pior: nos meses e anos que se seguiram a tais barbaridades politico-sociais que nos destruiram como país, tal como éramos, muitos que tinham responsabilidades políticas por via eleitoral e representativa, não só integraram tais mudanças como se recusaram a mudar fosse o que fosse, a não ser passados mais de dez anos, em modo imperfeito e que nunca possibilitou a recuperação do modo de funcionamento da Economia que tínhamos.
As privatizações dos anos noventa foram um remendo sofrível num tecido dilacerado para sempre pela Esquerda comunista e socialista.
É preciso recordar que o partido Socialista se formou enquanto partido, no ano de 1973, algures na clandestinidade de um país estrangeiro e aí concitou um acordo político com o PCP, também clandestino, em Setembro de 1973, no sentido de envidarem esforços conjuntos para "derrubar o fascismo" que entendiam existir em Portugal, com Marcello Caetano. Nas páginas da revista Observador, abaixo publicadas é explicito o sentido dessa propaganda.
Nas eleições de 1973 a Oposição era formada também por pessoas dessa Esquerda e que tiveram liberdade, embora limitada, de propaganda política.
De repente, em 1974 tudo mudou radicalmente e parece que aqueles que estavam nessa altura na ribalta política condescenderam com os propósitos da Esquerda em conduzir os destinos do país para onde acabaram: bancarrota atrás de bancarrota.
Expresso 16.11.1974:
Expresso de 12.4.1975:
Expresso 18.10.1975:
Dir-se-á que houve a Fonte Luminosa e Mário Soares que se opôs ao avanço comunista e é verdade.
Porém, as razões têm a ver essencialmente com isto: preservação do partido Socialista que corria o risco de também ele ser devorado pela Revolução. A primeira tentativa séria foi esta e por aqui se vê que Mário Soares percebeu o que iria acontecer:
Jornal Novo 22.5.1975.
Porém, passado o 25 de Novembro Mário Soares e o PS não se demarcaram economicamente do que o PCP tinha realizado e em Julho de 1978 o O Jornal organizou uma série de conferências acerca do nosso futuro. Mário Soares alvitrava assim: a Economia continuou de rastos e sem remédio, até dali a dez anos, altura em que as grandes empresas nacionalizadas já se tinham transformado em "elefantes brancos" sem que tivesse sido devidamente apurada a responsabilidade do descalabro. O PCP diz que foi a má gestão de quem foi nomeado pelos governos socialistas e social-democratas...
O que é verdade, em parte, como já se fazia notar no O Jornal de 11.3.1977:
Para se entender e contextualizar o que ocorrem em menos de dois anos, entre o final de 1973 e 1975 talvez seja necessário ler outras opiniões que não as de Esquerda que tem elaborado uma narrativa derivativa que ainda hoje tem curso livre.
Como é que uma figura agora na berlinda explicava ao Semanário de 18.4.1984, dez anos depois do golpe de Estado, o que tinha sido o "fassismo" economicamente?
Assim, e este é o relato oficioso ainda hoje:
Porém, havia quem pensasse e escrevesse de outro modo e com outra perspectiva:
A questão que hoje ainda se coloca é determinar com precisão possível quem são os responsáveis por sermos, ainda hoje o país mais atrasado da Europa? E quem nos conduziu a este local infecto?
Para mim foi esta Esquerda que nunca saiu de cá e continua a infectar-nos periodicamente com ideias erradas sobre a Economia e a vida social.
E conseguiu algo notável: convencer uma boa parte do eleitorado que tem razão no que diz. Em nome de uma solidariedade com os mais fracos e desprotegidos. Este discurso tem pegado quase sempre, ao longo destas décadas.