quinta-feira, agosto 23, 2018

A música de 1978

Há 40 anos a música popular que se ouvia em Portugal particularmente no rádio e discos publicados era diversificada e o espectro sonoro estendia-se de Marco Paulo, Sérgio e Madi ou António Calvário até...Roy Harper, muito por influência de quem passava discos no rádio.

A oferta discográfica mais popular  do ano de 1978 pode ser vista aqui. Entre os discos estrangeiros avulta o dos Bee Gees, com a banda sonora de Saturday Night Fever a que se juntou a de Grease, numa simbiose musical que define esse ano em termos musicais, populares.
Entre os singles destaca-se o som estridente de Kate Bush e Wuthering Heights a par da batida ritmada dos Boney M, com Rivers of Babylon ou Rasputin e outras musiquetas do disco Nightflight to Venus.

Alguns dos discos mais representativos da primeira metade do ano, para o meu gosto,  estão aqui:


Por ordem, da esquerda para a direita e de cima para baixo:

Joe Walsh- But seriously, folks.
The Tubes- What do you want from live.
Kevin Ayers de The Rainbow Takeaway
Elvis Costello- This Year´s Model.
Hot Tuna- Double Dose.
Gerry Rafferty- City to City.
Kraftwerk, de Die Mensch Maschine
Bob Marley- Kaya.
Boney M- Nightflight to Venus.
Bob Dylan- Street Legal.
Bruce Springsteen- Darkness in the Edge of Town.
Wings- London Town.
Saturday Night Fever, Bee Gees e outros.
Grease.
Santana- Moonflower. 

Esta música que gostava e ainda gosto não passava toda no rádio e alguns discos apenas eram transmitidos em programas específicos no rádio, a horas mortas ( Espaço 3P, por exemplo que incluía Banda Sonora, Boa Noite em FM, etc).

Nesta altura do ano ainda não tinham saído Comes a Time. de Neil Young; o primeiro dos Dire Straits; Before and after Science de Brian Eno, Studio Tan de Frank Zappa. Esses eram discos que ouvi e ficaram com o tempo, do ano de 1978. Ainda hoje prefiro ouvir isto a qualquer disco dos anos oitenta ou seguintes e por isso destaco estes discos.

No entanto, no dia a dia a música que passava no rádio era outra, mais apelativa às massas que determinavam os tops dos mais vendidos.

Em Abril de 1978 a revista Música&Som publicou dois artigos de João David Nunes e Jaime Fernandes, sobre a música que faltava ainda conhecer, em Portugal. A música country americana faltava de todo e Jaime Fernandes tornou-se mais ou menos por essa altura, um dos seus maiores divulgadores, no programa 2 pontos do Rádio Comercial e depois em Country, Música da América.



Em Agosto de 1978 havia uma grande probabilidade de ouvir publicamente em discotecas ou lugares privados dois ou três discos que marcaram esse tempo:

Dois deles são estes: bandas sonoras de dois filmes.


O que tem os Bee Gees foi um sucesso estrondoso devido aos vários singles tirados: Night Fever, Stayin Alive ou a melodiosa How deep is your love, um clássico do género.
Grease é incontornável com a You´re the one that i want cantada por Olivia Newton John e John Travolta.
A par desses é imprescindível recordar o disco dos Boney M, um cavalo de batalha de discotecas, de sempre, com os clássicos Rasputin e principalmente Rivers of Babylon, a seguir aos ecos de Yes sir, i can Boogie dos Baccara do ano anterior.

No rádio quando passava Kate Bush era para ouvir Wuthering Heights, em agudos de voz impossível, mas o LP tem outros temas de grande mérito como The man with a child in his eyes.

Em Portugal, nesse mês de férias e emigrantes era obrigatório ouvir a voz de Paulo Alexandre a cantar a melodia alemã ( Udo Jurgens) de Verde Vinho.  Os portugueses José Cid, com Tia Anita ou Marco Paulo, com Canção Proibida estavam então muito bem cotados no rádio da manhã.

Em brasileiro e português cantado, a telenovela O Casarão, estreada no início do ano, fixou no genérico canções como Nuvem Passageira de Hermes Aquino e Menina do Mato, de Marcio Lott para além de Gal Costa, Fascinação e mesmo Rita Lee, com Coisas da Vida.

E que músicas recordo mais, passados 40 anos?

Simples:

As dos Wings, With a Little Luck e London Town; a dos Tubes, I saw her standing there; Santana, She´s not there; Gerry Rafferty, City to City e Whatever´s written in your heart; dos Bee Gees, precisamente How deep is your love e More than a woman. 

Tenho-as gravadas em colectânea, com outras. Porém, os discos que ainda aprecio ouvir integralmente são o dos Kraftwerk , Kevin Ayers, Hot Tuna e Joe Walsh. O melhor de todos? Kevin Ayers...
 Num apontamento de final desse ano as preferências eram estas, assim ordenadas:


Não muito diferente de hoje. Kevin Ayers não aparece porque o álbum desse ano- Raibow Takeaway- só o ouvi integralmente muito mais tarde. Mas tinha ouvido os dois primeiros- Joy of a Toy e Shooting at the moon- alguns anos antes e considerava-os dos melhores discos de música popular que conhecia. Ainda hoje é assim.

Street Legal de Bob Dylan está muito sobrevalorizado porque na época andava a descobrir a obra anterior do artista. Ainda nem conhecia integralmente Blonde on Blonde, apenas algumas partes, como Just like a Woman. Nesses meses, de Março e Abril , a revista Música&Som publicou uma entrevista de Dylan na Rolling Stone, feita por Jonathan Cott e como a revista original deixou subitamente de aparecer por cá, em finais de Julho de 1977 ( só voltou a aparecer em Maio de 78 quando a entrevista era de Janeiro) fiquei com água na boca e lia tudo o que a Dylan dizia respeito. E era pouco.

A Rock&Folk de Julho desse ano pareceu atender às minhas preces e publicou uma reportagem de um concerto de Dylan em Santa Monica, em 24 de Abril desse ano. Trazia um desenho de Solé na capa que reproduzia a foto da capa da Rolling Stone.
Dylan, aos poucos que o ia descobrindo em discos antigos desaparecia no meu interesse nos discos que então publicava. Ainda esperei ouvir qualquer coisa de interessante no seguinte, Slow Train coming mas era tarde para apanhar o combóio.  Dylan ficou sempre para trás, bem lá atrás, até 1975 e Blood on the tracks.


Em 1978 a música rock, aliás, também para mim começava a fugir para o passado recente e distante.  Uma das que então descobria, aos poucos e desde Like a Old fashioned waltz, era Sandy Denny.

Suponho que foi por aqui, neste número de Julho de 1978 que soube da sua morte, infausta, em consequência de traumatismo craniano seguido a uma queda numas escadas. Tive mesmo pena do que se perdeu musicalmente.
Desde então os seus discos a solo e com os Fairport Convention são dos que colecciono.


Foi também por esta altura que o disco de Roy Harper 1970-1975, saído em Maio desse ano,  foi divulgado no rádio por Jaime Fernandes, segundo julgo. Este é que era da música que preferia na época.




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