quinta-feira, agosto 01, 2019

O Portugal antigo de Pacheco Pereira

Na Sábado de hoje, provavelmente sem saber o que escrever, Pacheco Pereira dedica três croniquetas a um Portugal antigo, fruto da sua visão neo-realista da História.


Para contrariar a "grandeza banal e pífia que nos custou 48 anos de liberdade" Pacheco Pereira encontra lenitivo nos versos de Correia Garção, um poeta do séc. XVIII, contemporâneo do Marques de Pombal e na prosa de Aquilino e pouco mais que os clássicos da trilogia Camilo, Eça e Júlio Dinis ao descreverem cenas campestres da gastronomia rural.

Obviamente a "ditadura" não apreciava nada destes petiscos intelectuais e Salazar era apenas um provinciano ido das Beiras para Lisboa, para ser ditador e inspirador, cultor da tal "grandeza banal e pífia".

Para entender tal Portugal de "grandeza banal e pífia" o melhor que consegue é revisitar os sítios dos cinemas antigos, como o Batalha no Porto ou o Capitólio.
"O Portugal em que eles viviam, no apogeu do ´estado novo` era mesmo assim: profundamente provinciano, isolado, bairrista, culturalmente muito pobre, entre o ´Evaristo tens cá disto` e o exame do ´esternocleidomastoideu`.

Pacheco Pereira sempre me pareceu um triste com um toque de ridículo que não consigo levar a sério, minimamente.
Um indivíduo que celebra a liberdade quando lutou por uma ditadura pior do que aquela que vitupera é ridículo. Não tem qualquer credibilidade por lhe falecer a coerência de pensamento. Mais: já deu provas de que não afeiçoa a liberdade tal como a proclama. A Censura está-lhe na alma de sempre.
Mais e pior: Pacheco Pereira esteve com o cavaquismo nos piores momentos da onda cavaquista, parola e pífia, essa sim. A dos dinheiros da CEE que foram malbaratados e fonte de corrupção dos seus colegas militantes. Esteve no Parlamente e que se saiba nunca viu nada, para além da inimizade com Duarte Lima. Enfim. Nessa altura também achava que o inimigo era o MºPº que perseguia a Leonor Beleza, coitadinha...a qual tinha como advogado, Proença de Carvalho cujo percurso de ascensão pessoal ao paraíso da vidinha de rico nunca impressionou Pacheco Pereira. Como também não impressionou idêntica ascensão do companheiro de charla televisiva, Jorge Coelho, o queijeiro de Contenças. Nunca deu por nada mas dá sempre o seu óbulo para vituperar a "ditadura". Que rasquice do caralho!

PP não merecia nem mais uma linha de comentário não se desse o caso de ser mais um dos militantes da brand que está em voga de há quarenta anos a esta parte, dizer mal do antigo regime para esconder o mal que ambicionavam.

Por outro lado parece-me um inculto apesar de ter extensa bibioteca de alfarrábios e papéis velhos ( de que aliás também gosto e tal não faz de mim um expoente de cultura).

Deveria por isso conhecer estas imagens de uns livros publicados nos anos 2000 pela Bertrand, "crónicas em imagens de Portugal Século XX", com autoria de Joaquim Vieira.

Só para mostrar outro Portugal nos anos 40 e 50, o tal "apogeu da ditadura".

Os artistas da televisão, por exemplo e cujas transmissões foram inauguradas em 1957.


As realizações de Portugal no mundo ultramarino, Angola e Moçambique são a prova do contrário do que Pacheco Pereira escreve.


O rádio em Portugal tinha muito mais interesse nessa época, provavelmente, do que tem hoje. Mesmo nos meios rurais.



Os produtos publicitados eram nacionais, bons e cosmopolitas, modernos.



O cosmopolitismo nos anos 40 espelhava-se por exemplo, nisto, muito longe da imagem bisonha de Pacheco Pereira.


O cinema não era apenas o das comédias de bairro. Também já havia o cinema de autor de Manuel de Oliveira, aliás do Porto.


A Oposição não poderia ser comunista, nos anos 40, mas existia deste modo:



Resta dizer que Pacheco Pereira é um triste. Ia escrever pascácio, mas escrevo na mesma. E assina o artigo da Sábado como "professor". Professor de quê? Enfim.

Para mostrar a subtileza destas coisas da reminiscência histórica de cariz inventivo deixo aqui um artigo interessante publicado no último número de O Diabo sobre o modo como Salazar terá aceitado ser governante.

Diz-se, por influência aliás do seu biógrafo Franco Nogueira que Salazar era um "vulcão de ambições". Parece que será falso, a acreditar nesta análise que me parece mais correcta.


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