Artigo de Fátima Bonifácio no Público de hoje.
A democracia instituída em 1974 como regime salvífico e cura para todos os males nacionais deu nisto que é denunciado no escrito acima mostrado e que peca por defeito em apontar males maiores.
A autora pergunta se a democracia oferece aos eleitores, ou seja ao povo que escolhe os representantes de todos, "o mérito, o patriotismo, a honestidade e a decência". E responde que afinal lhes oferece a "mediocridade ( técnica e política) a subserviência, a falta de escrúpulos, o seguidismo acrítico, e tantas vezes- demasiadas vezes- a ganância pessoal".
A pergunta que tem de ser colocada é sobre a comparação entre a democracia que foi instaurada em 1974 e o regime que foi substituído e que efectivamente não era de democracia idêntica, embora escolhesse pessoas para governar em nome de todos, de um modo que não admitia participação na escolha, de forças políticas que pretendiam subverter completamente tal regime e substituí-lo por outro ainda mais anti-democrático, totalitário até, como era o regime que o PCP e até o PS, no campo económico defendiam politicamente.
Essa realidade é sistematicamente escamoteada pelos defensores da nova democracia instaurada em 1974, como se o PCP e o tal PS que entretanto se moderou e admitiu o sistema capitalista associado a uma democracia dita burguesa, fossem adeptos de uma democracia aperfeiçoada e não da que é denunciada no escrito, ou seja o domínio oligárquico de alguns grupos sobre todo um povo que vota, sempre nos mesmos, por lhe faltar alternativa que se considere verdadeiramente como tal.
A comparação com o regime deposto em 1974 impõe-se com tal ressalva, ou seja, deve comparar-se o sistema de governo e as qualidades inerentes, bem como o sistema económico e as mesmas qualidades, independentemente dos motivos políticos inquinados pela manipulação ideológica que tal esquerda do PCP , incluindo a extrema-esquerda do BE e similares e ainda a ala esquerda do PC, fazem sempre para confundir a discussão.
Para mostrar o que é a oligarquia que manda em Portugal há muitos exemplos. Aqui ficam dois recolhidos de órgãos de informação actuais e recentes.
O primeiro é do CM de há dias e refere-se a uns indivíduos que controlam o poder político que está e pretendem um órgão de informação consentâneo com tal oligarquia e que os proteja de críticas ou indagações que entendem impertinentes.
Este é um sinal inequívoco de corrupção oligárquica, embora de pindéricos como é apanágio em Portugal, por falta de capital e neste caso concreto. Mas é com estes pindéricos que depois de fazem as manobras que conduzem à tranquilidade oligárquica dos escritórios de certa advocacia de meia dúzia de trutas e de empresas ligadas a esquemas de financiamentos em que o Estado é levado a comparticipar.
O advogado e também governante que se apresenta na imagem ( lavando suspeitas apenas pela circunstância de ter pago do seu bolso o preço do cruzeiro pindérico) é um exemplo acabado de todo este funcionamento de regime.
Outro exemplo é esta análise de uma economista que pelos vistos não percebe determinadas coisas que deveria perceber, técnicas e próprias da profissão: o modo como funcionam as sociedades, incluindo bancárias, em Portugal. O modo concreto e os instrumentos jurídicos que permitem o funcionamento de sociedades paralelas em que os responsáveis de umas transitam para outras e fazem circular os "activos" dando-lhes nomes técnicos que os economistas depois traduzem em inglês para português ver como boys a olhar para tais palácios ilusórios.
O modo como se avaliam "activos" pelos avaliadores que os bancos pagam e depois fazem verter em relatórios cristalizados que passam para os relatórios das auditorias e que um simplório dessas coisas, mas finório de outras, disse muito claramente ser responsabilidade de quem deveria ter sido enforcado por isso.
Às vezes estas analistas de economia que até ensinam, parecem membros ilustres da mesma oligarquia que se sustenta a si própria.
Apontar o dedo a um capitalismo mirífico e responsável por todos os males é esconder o que antes da intervenção de tais instituições esteve na base de tal acção: as ineficiência do direito português em resolver tais questões, como por exemplo a ausência de uma penalização efectiva do "abuso de bens sociais" que os franceses conhecem.
E por outro lado não quer dar os nomes aos boys porque...tem medo de tal oligarquia e da cama que lhe possam fazer. Não há outra explicação possível para tal omissão gritante...
A explicação de todos estes processos é relativamente simples e nem sequer tributária de teorias de conspiração arrevezadas porque os factos conhecidos já são mais estranhos que a própria ficção que os poderia alimentar. Um comentador do Observador, no artigo em questão disse assim relativamente ao que sucedeu aos bancos, envolvendo o BES e o BCP, no tempo do corrupto José Sócrates em que era vice-primeiro responsável o actual primeiro-ministro António Costa e que por isso mesmo só por grande manhosice se pode declarar inocente desta tramóia explícita:
Onde está o inquérito criminal em que Vítor Constância ou Santos Ferreira, co-artífices deste crime contra a economia do país, sejam arguidos?
Não existe, nunca foi instaurado e por isso a oligarquia ganhou. Mais uma vez.
Para se entender como é que determinados especialistas, economistas e mesmo certas celebradas parlamentares que integraram a comissão ao BES, têm dificuldade em entender os aspectos técnicos dos problemas do BES e do Novo Banco basta ler este artigo de outro economista, professor que diz claramente o seguinte:
Como é possível que este pequeno oligarca do sistema, retratado acima, tenha saído incólume da sessão no inquérito parlamentar e ninguém lhe tenha dito o que aqui se escreve?
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