sábado, maio 08, 2021

Os dedos pegajosos dos Rolling Stones

 Há 50 anos por esta altura foi publicado um single de uma música que se tornou pegajosa para quem começava a gostar de música popular, com nomes e grupos de artistas do género. 

O single Brown Sugar, dos Rolling Stones anunciava nesta altura o album Sticky Fingers acabado de sair no estrangeiro anglo-saxónico e que por cá também chegou pouco depois. 

O single tinha esta capa e tocava-se nas juke box dos cafés que as tinham, como era o caso de um que então frequentava e que a troco de uma moedinha soava com uma altíssima fidelidade para a época de então. 

( imagem tirada do livro de Abel Rosa, os singles dos RS em Portugal)

A música era mesmo pegajosa para os ouvidos mas a imagem era já um programa que se tornou ainda mais esquisita com a publicação do LP, com capa algo escandalosa mas que para nós era apenas curiosa devido ao fecho éclair que vinha incluído e inserido no cartão e funcionava como tal embora sem utilidade alguma. 

Tal capa, ainda o não sabia, mas era da autoria de um artista americano dado a tais escândalos, Andy Warhol.   

Em Julho desse ano a revista Mundo da Canção mostrava na capa a capa do disco e no interior trazia todas as letras do LP, coisa que aliás o mesmo nem tinha. 

 




O artigo continha uma apreciação crítica, sumária, de todos os trechos musicais do disco, bem como um "apanhado" da música dos Rolling Stones até então. Num panorama editorial escasso e exíguo em publicações do género ( o jornal Disco, música e moda, também já tinha começado a publicar-se) estes textos eram um maná embora fossem inspirados pelo que vinha lá de fora, particularmente da França da Rock&Folk e da Inglaterra do Melody Maker e do New Musical Express ou Disc.

A Rock&Folk francesa, aliás, pouca importância deu ao disco e no número de Maio de 1971 apenas teve esta crónica de página, de um dos seus directores da época e que dizia que cada disco dos Stones se parecia com o anterior mas funcionava sempre, achando que este era dos melhores e até alvitrava que Sticky Fingers seria um grande sucesso ( e foi, nos EUA atingiu o primeiro lugar). Imagens do disco, neste número e seguintes, só esta:


Tenho uma ideia vaga de ter visto o disco no escaparate da discoteca local e julgo que seria a edição britânica. Devido à feitura do disco, com o fecho éclair, por cá foi publicado anos depois e sem fecho algum a não ser a imagem estampada do mesmo. 

As edições britânica e americana eram diferentes, como se mostra nestas edições originais e de primeira prensagem de ambos os países. A britânica é da esquerda, mais clássica nos carimbos e que me lembro de ver. 



Foi neste disco que apareceu pela primeira vez o símbolo da língua esticada, tornado logotipo do grupo. 

Em 1994 foram publicados cd´s dos Stones em versão "collector´s edition" e "digitally remastered". Este tinha esta apresentação, incluindo o fecho zip, real e funcional.



Quanto à história do disco e respectiva música, de facto é um dos melhores do grupo, senão mesmo o melhor, para mim. 

Num livro de Bill Wyman publicado em 2002, conta-se quase tudo, até a história de em Espanha a capa do disco ter sido censurada ( por cá não foi porque nem foi publicado em edição nacional, na época, segundo julgo, mas também não seria se tivesse edição nacional):




Noutro livro de Margotin e Guesdon, sobre todas as canções dos Stones, de 2016, conta-se ainda mais: 





Quanto ao som dos LP´s e à música do disco devo dizer que o lp original de prensagem americana é melhor que o original inglês, ao contrário do que costuma suceder com as edições de origem. Tem mais dinâmica e é mais agradável de ouvir. 
A música do disco é toda interessante de ouvir mas a preferida actualmente é Dead Flowes. Houve tempo em que foi Wild Horses
Tempos revolvidos...porque este, mais que os discos dos Beatles, entretanto já extintos,  é provavelmente o disco de entrada na adolescência em modo inicial e primitivo, a medo e depois de ter gostado de ouvir Beethoven. 
A partir daqui foi só rock n´roll... and i liked. E 50 anos já lá vão!

Na imprensa inglesa da época ( que chegava cá) a apreciação crítica era boa, como mostram as compilações de artigos do NME e do MM da época e republicadas há uns anos: 



E na imprensa americana da época, na Rolling Stone de 13 de Maio de 1971 já se anunciava o disco:



Em  10 de Junho voltavam à carga:


Nesse número de 10 de Junho lá vinha a crónica da crítica, pelo afamado Jon Landau:


Contudo, a melhor crónica sobre o disco que me foi dado ler é do crítico francês Philippe Manoeuvre que geralmente maneja muito bem a escrita para dar a entender ideias sobre músicas que por vezes são superiores aos sons das mesmas. 

Em Julho de 2015, por ocasião da publicação da reedição "deluxe" do disco escrevia o artigo na Rock&Folk. 
Para o crítico da revista que está lá desde Julho de 1974 e a dirigiu alguns anos depois, a expressão "brown sugar" significa algo  perigoso que na sua biografia encantadora, publicada em 1985 ( "L´enfant du rock") explica como sendo algo que se partilha como o "grande segredo dos criadores dissociados", traduzido numa frase misteriosa: "não é o que fazes; é a maneira como o fazes".  A frase é o epílogo do livrinho e dita a propósito de uma decisão drástica da época: largar o álcool. Diz que naquele instante escolheu: a vida. E diz que aprendeu a frase numa letra de um disco de rock, do início dos setentas, um disco dos J. Geils Band.
Nesta crónica de 2015, Manoeuvre escrevia sobre o tema do disco dos Stones, as drogas, sem as conhecer verdadeiramente porque nunca foi adepto das cocas e outras heroínas, como alguns membros dos Stones, particularmente o guitarrista Richards que também escreveu há uns anos,  a sua biografia celerada chamada "Life". 

É por isso que gosto desta escrita. É só forma, sem fumo ou inalação,  mas em tonalidade rock n roll e mais uma vez, i like it. Por causa do som. O resto é apenas folclore.







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