sábado, setembro 25, 2021

Anos setenta, a imprensa musical

 A imprensa musical em Portugal começou praticamente no início dos anos setenta. Nos anos sessenta praticamente não havia jornal ou revista dedicado em exclusividade à música popular de alguma qualidade, nacional ou estrangeira. 

No rádio, o programa Em Órbita  era uma referência nesse tempo remoto da segunda metade dos sessenta e no panorama da música popular, mas havia falta de imprensa dedicada. 

Havia revistas de espectáculos e televisão, como a Nova Antena, a Plateia, a Rádio & Televisão e poucas mais. 

Em 1968, surgiu a revista Cine-Disco, depois transformada em Mundo Moderno e que veio colmatar a falta de informação sobre assuntos destinados a um público jovem, mas a primeira publicação a impor-se nessa área específica, foi o Mundo da Canção, surgido em finais de 1969 e que durou até aos anos oitenta, em publicação mais ou menos regular.

A Mundo Moderno era um pequeno mundo, na época e prenunciava mudanças nos costumes:

Logo início de 1971, nascia o jornal quinzenal, sem variações de cor, Disco, música e moda. O modelo, graficamente e por assuntos, era o inglês Disc, and music echo

Havia nessa altura, no dealbar dos setenta, uma apetência pela novidade "lá de fora", de onde sopravam os ventos. Em 4 de Dezembro de 1970 a Flama publicou um anúncio que me impressionou pelo "modernismo" do design e também pelos temas:

Referia-se a este disco então  publicado e lá estavam dois esquerdistas, um comunista e outro socialista bem notórios...



Substancialmente eram estas as publicações nacionais, nos anos setenta, sobre música popular: 



E estas eram algumas de espectáculos:

E do estrangeiro tínhamos pelo menos estas, regularmente, nos quiosques:


Portanto, os escribas nacionais tinham muito por onde ler, copiar e transcrever, nas recensões críticas e artigos que escreviam para os jornais e revistas da especialidade, o que aliás faziam sem grande prurido. 

Por exemplo, no Disco de 1 de Outubro de 1971, um artigo sobre Jethro Tull era assim traduzido da Rolling Stone, sem sequer indicar a fonte, para além do autor, identificado: 




O original vinha daqui, da edição de 22 de Julho desse ano, o que denota que a revista foi lida na altura e o artigo devidamente traduzido ( eventualmente à socapa da mesma):







Assim, a imprensa nacional alimentava-se muito de "estrangeiro". Curiosamente, numa edição da revista de R&T de 5 de Dezembro de 1971 aparecia um artigo notável de uma "crítica" cuja qualidade ultrapassava a de todos os que escreviam na Mundo da Canção ou no Disco, música & moda. 
Não sei o que é feito desta Teresa Botelho ( afinal parece ser esta...o que é ainda mais curioso)  mas tiro-lhe o meu chapéu à distância de 50 anos. E tem outros artigos noutros números igualmente dignos de nota alta. 

Escreve sobre Bob Dylan e música popular norte-americana, designadamente da costa oeste,  num estilo que aprecio e que está aliás adaptado em termos politicamente correctos, aos tempos que correm,  referindo um single publicado na época, sobre George Jackson e um assunto que se assemelha ao Floyd dos dias de hoje. Foi com esse single que despertei para a música de Bob Dylan, nessa altura de 1971.

Obviamente, Teresa Botelho lia muito bem na época a...Rolling Stone, mas nem por isso deixava de escrever em modo original e interessante. Muito mais que os daquelas publicações mencionadas. 



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