sábado, novembro 27, 2021

A última do historiador Pacheco Pereira

 A última catilinária contra a "direita" de Pacheco Pereira, o antigo alinhado no Parlamento com a maioria de Cavaco Silva, no tempo das vacas gordas dos fundos da CEE aqui apresentados como um fundo de maneio social democrata de desenvolvimento estatista. Foi a política "neofontista", como se tivesse sido apenas uma opção para as obras públicas que hoje "seriam consideradas estatistas, socializantes, esbanjadoras" para a tal direita fantasmática que o persegue imaginariamente. 

Na coluna da direita aparece a mais ignóbil catilinária contra o governo do Passos, considerado como uma traição ao ideal social-democrata que não se conhece bem qual seja, mas é tudo menos austeridade imposta por terceiros, neste caso pela "troika". A história para este historiador foi manipulada e falsificada porque havia o famigerado PEC IV; havia as medidas alternativas à austeridade e havia portante outro modo de resolver a bancarrota a que os governos do PS conduziram o país, mais uma a somar a outras duas, anteriores nos anos setenta e oitenta. Tudo medidas propostas pela esquerda do PS, como salvíficas de tal bancarrota e que evitariam a intervenção de terceiros, no caso a "troika" que em representação dos que nos emprestaram o dinheiro impuseram as suas linhas de governação, sob pena de nos deixarem cair na bancarrota mais inevitável.

A crise bancária desse tempo, o BES, o BCP, o BANIF, o BPP e o BPN foi tudo obra da "crise bancária" aparecida do nada e agora escondida nessa génese pela vontade manipuladora de quem procura branquear a história que teria sido facilmente resolvida com o tal PECIV . E assim nunca teríamos entrado no período negro da bancarrota ou da necessidade de intervenção da troika.  

É essa a opinião de Pacheco Pereira que ainda assinala a tentativa de mudança do texto constitucional -imputada ao odiado Passos- como obra da "extrema-direita" associada ao indivíduo que a propôs, Paulo Teixeira Pinto. O mesmo que contribuiu para a crise bancária com o seu papel no caso BCP. O texto a mudar era por exemplo o que continua a assegurar ser Portugal um país a caminho do socialismo.   

Este indivíduo, depois de exprimir estas ideias deve considerar-se historiador? E deve merecer algum respeito intelectual, ao adoptar as mesmíssimas opiniões de um José Sócrates?! 


Quanto às ideias de extrema-direita que inspirariam a mudança constitucional proposta por aquele Teixeira Pinto, aqui fica um documento de 1980 sobre a Constituição que Sá Carneiro- apresentado como o modelo de social-democracia que Pacheco Pereira pretende apresentar como matriz do PSD- queria nessa altura, juntamente com o CDS de Freitas do Amaral que acabou politicamente situado no socialismo à la PS. Tal como Pacheco Pereira. 


Quem é que nessa altura fazia o papel do Pacheco Pereira de agora? Precisamente quem se associava à esquerda do PS, como era o caso dos mentores de O Jornal. 

E quem mais, já agora? Pois, os mentores de uma tal ASDI, tendo à cabeça o advogado Sérvulo Correia, especialista em direito administrativo e que acabou numa sociedade de advogados contratada por governos para legislar em nome do país democrático. E legislou: o código das contratações públicas, verdadeiro alfobre de génios a sacar dinheiro ao Estado e que conduziram o país à tal bancarrota de 2011...



Tal como Pacheco Pereira agora, este Sérvulo finório da academia do Direito, rebelava-se contra o perigo da AD e pretendia frustrar o avanço da direita, que nessa altura ainda não era conhecida como neoliberalista e portanto se apresentava como guerreiro na luta contra "o golpe em marcha contra o regime democrático". 

Uma coisa parece certa: se Sá Carneiro não tivesse morrido em 1980 a revisão constitucional de "extrema-direita" já teria sido feita e provavelmente nunca teríamos um Sérvulo Correia alcandorado a legislador democrático. 

E não é preciso aparecer como historiador de pacotilha para poder alvitrar esta prognose póstuma. 

sexta-feira, novembro 26, 2021

A feira das vaidades da CNN-Portugal

Já passaram alguns dias após o "evento" de inauguração das transmissões televisivas da CNN-Portugal, uma nova estação de tv ancorada na TVI e na CNN americana. Já vi algumas emissões e não desgostei. Parece a SIC quando começou com a diferença de as caras que aparecem serem usadas e de outra época. Tal como a CNN original começou com talking heads conhecidos e experimentados, o patrão Mário Ferreira apostou nas velhas glórias de uma tv já envelhecida. Gostos não se discutem, apenas verbas. 

Procurei durante a semana  notícias e ilustrações da festa realizada e para já vi duas menções mediáticas. A Cofina e os seus órgãos de comunicação fizeram silêncio total sobre o evento, censurando objectivamente o assunto. Os demais acompanharam a tendência e ocultaram mediaticamente o que os colegas estão a fazer. Triste. 

O Tal&Qual desta semana traz uma crónica de Carlos Cruz, sem dúvida um dos indivíduos com mais passado televisivo e mediático, no presente: 


A revista Lux, muito divulgada em barbeiros e cabeleireiros, da empresa Masemba (?) , com accionistas identificados com nomes tão sugestivos como Erigo VII ( fundo de capital de risco...) ou Tito Z. de Mendonça e com menção à Visapress, publicou estas páginas de antologia do evento de vaidades singulares. A maior delas? A que ostenta vestido com botões, de veraneio cerimonial ( estava um tempo caloroso) e botox a condizer. 

A artista de variedades avulsas, uma tal Rita Pereira que desdenhou e se escondeu para não aparecer nas imagens junto de André Ventura, com quem não se queria "misturar", ajunta-se aqui na imagem ao prestigiado almirante ainda em vice, muito mais misturável e sem a farda de função, mas com um fatinho de três botões. O presidente da República portuguesa apadrinhou isto. Enfim.












terça-feira, novembro 23, 2021

A CNN dos parolos

 Ontem à noite realizou-se um espectáculo de gala, montado numa tenda, nos claustros dos Jerónimos, para celebrar a inauguração de uma nova estação de tv, dependente da Media Capital de Mário Ferreira e da CNN americana.

O Observador dá conta assim, do evento que concitou a presença de muitos notáveis dos media nacionais, a começar pelos políticos da actualidade governante e até do presidente da República (!) que ficou até ao fim e até jantou na companhia do grande Mário Ferreira, a sua mulher, juíza em licença e outros. Até o pobre Pacheco Pereira por lá deambulou a sua sina. Pelos vistos é um fã do Mário Ferreira e do seu neoliberalismo de pacotilha, apoiado pelo PS de sempre. 

O "scoop" do momento foi uma entrevista pífia a um foragido à justiça nacional, o banqueiro Rendeiro, tornado bode expiatório das malfeitorias na banca. Queixou-se em directo de ter sido vítima de um processo "não equitativo" (!), ou seja em que não teve defesa à altura do que esperava e sentença ainda mais inesperada e nisso terá alguma razão. O presidente da República, presente, anuiu logo em comentar um eventual indulto, dizendo que estava fora do prazo! Enfim, Portugal no seu melhor com as elites do costume. Até uma pindérica atriz se ocultou das câmaras quando percebeu que iria ser apanhada a entrar no momento em que André Ventura também chegava. Disse que não se queria misturar com tal figura. A pindérica aparece muitas vezes no suplemento inenarrável do CM onde se mostram as estrelas nacionais das telenovelas e afins em poses e enredos pessoais que fariam envergonhar os actores da série que passa actualmente na RTP2. Não se quer misturar...enfim. O bravo Mário Ferreira, impante na empáfia dos simples, declarou que aquilo era para se ver que dava voz a todos...ou seja, foi ele quem convidou. E pagou, claro. Quanto a pagamentos provavelmente vai descobrir rapidamente o buraco onde se meteu, com o investimento. Daqui a um ano ou menos, os milhões vão começar a escassear e os notáveis que lá estiveram nem o irão conhecer. 











Quanto à "casa-mãe", a CNN americana já dei para o peditório desta madrassa da nova esquerda dos bidés de sempre. Aqui. 

A estação começou em Junho de 1980, com o velejador Ted Turner ao leme, assim noticiada pela Newsweek ( a imagem foi picada na net em sítios de leilões):





Em 30.4.1981 a revista Rolling Stone trazia uma página com publicidade a um whisky, com a figura do dito então em voga. A imagem vale o recorte que então guardei, com a revista que então comprava e estava numa boa fase, quase a terminar, aliás.



Dali a pouco estava à rasca de dinheiro mas os acontecimentos do início dos noventa trouxeram a bonança e uma capa na Time de 1992:






Em 2000 o velejador Turner abandonou o barco. Veremos até onde e até quando Mário Ferreira continuará a velejar no seu "Douro azul" à conta dos milhões da América. 

segunda-feira, novembro 22, 2021

As reedições dos discos Orfeu de Zeca Afonso começaram mal

 Há uns meses foi notícia o interesse de algumas pessoas da família de José Afonso em reeditar o catálogo musical de 11 álbuns do artista, gravados entre 1968 e 1981 para a etiqueta Orfeu, de Arnaldo Trindade. As vicissitudes do negócio, em 1983, tinham  deixado tal catálogo Orfeu ao cuidado de outra editora, a Movieplay, de um tal José Serafim que se tinha tornado sócio daquele enquanto detentor de lojas de discos ( uma na Rua do Carmo, em Lisboa) e fábrica, para além de estúdios. 

Esta Movieplay portuguesa faliu e entre os seus "activos" encontrava-se o acervo original das gravações em fita, os "masters" que serviriam para reeditar com a máxima qualidade possível, as obras em disco do cantor e poeta. Sobre os méritos deste já escrevi em tempos algo que me parece definitivo, sobre o "prego e a fruteira" e nada mais tenho a acrescentar de relevante, para além do que vai no final.   

Quanto à reedição da obra do artista devo dizer que é algo difícil traçar o percurso exacto desde a publicação das edições originais dos discos, em lp, saídos entre o final dos anos sessenta até meados dos oitenta, passando pelas reedições dos lp´s. algumas delas a cargo de editoras marginais e as reedições em formato cd, ocorridas em 1987, 1996 e 2012.  Desde logo porque a informação é escassa e nem sequer o sítio oficial dedicado ao artista é fonte segura desse tipo de informação. 

Aliás o assunto destas reedições já é conturbado e embrulhado em querelas sobre os direitos de autor e talvez tal explique a estranha e manifesta escassez de informações nos discos respectivos que se teme venha a repetir-se na reedições que se seguirão, incluindo as do formato em lp. 

O projecto destas reedições assume assim um carácter pouco transparente e nem sequer as declarações do responsável pela nova editora- Lusitanian music, dedicada a obras de calibre completamente oposto e bizarro- esclarecem seja o que for, mormente o modo como se fez o trabalho de digitalização para produção dos cd´s e novos vinis. Nem sequer publicitam os discos na secção dos "news"...

O Discogs traça um roteiro interessante e informativo acerca das edições originais e sucessivas reedições, que não foram muitas, aliás. 

Assim, em 12 de Junho do ano passado o jornal i anunciava uma intenção para o "projecto" agora em curso, da reedição da obra discográfica, em cd e lp, ou seja em formato digital e analógico e também noticiava os desenvolvimentos do processo de classificação como sendo de interesse público e portanto "governamental" de tal obra de José Afonso. O processo de classificação parou no tempo, como é habitual nestas coisas que metem governos. E talvez afinal haja razões para isso, atendendo a que os interesses da Associação José Afonso não são necessariamente os mesmos de alguns membros da família do artista. 

Portanto há actualmente em curso uma "guerra" acerca dos direitos ( e rendimentos respectivos) atinentes a tal obra e o habitual non sequitur da entidade governamental, no caso o ministério da Cultura. O "processo está parado"





Para se perceber melhor como isto sucedeu, vale a pena ler a entrevista de Arnaldo Trindade à mesma edição do i em que explica em tom diplomático o habitual em Portugal...



 No artigo dava-se conta de um problema de monta: o paradeiro das fitas originais dos "masters" era desconhecido, depois da falência da Movieplay portuguesa. E o projecto tinha em vista recuperar a discografia através dos registos existentes em colecções privadas, mormente os discos propriamente ditos...em cd e lp. Como? Certamente em suporte digital, através de conversão informática, mas nada foi explicado quanto ao procedimento. 

O mesmo tinha acontecido há uns anos atrás com o disco da Banda do Casaco, Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos, publicado originalmente em 1977 na editora Imavox, cuja falência e desaparecimento dos masters originais impossibilitaram a reedição por essa via e obrigou a recuperação do som do vinilo directamente para o formato digital, o que alias aconteceu em 2006 através do empenho dos seus autores ( Nuno Rodrigues e António Pinho) e colaboração pericial do engenheiro de som José Fortes. Neste caso, pelo menos tal intervenção pautou-se pelo cuidado dos autores que explicaram na edição do cd, em 2006 o que fizeram e como fizeram. Ou seja, que na impossibilidade de gravarem o novo "master" para a reedição a partir do original tiveram que gravar a partir de um simples disco de vinilo, com as limitações que tal implica. Uma delas, notória é a inversão dos canais de reprodução dos sons: no disco em vinilo o que aparece a soar à esquerda, como o do instrumento inicial, surge a soar à direita no cd e sem vantagem aparente. O mesmo se diga da gravação em geral, mais cansativa no cd do que no vinilo original porque geralmente com volume sonoro mais "puxado", mais estridente,  o que é defeito geral deste tipo de medium e gravações respectivas ( o mesmo acontece com as reedições recentes dos discos dos Beatles). No caso do disco da Banda do Casaco, no primeiro tema, Acalanto, logo que surgem as vozes em coro e os pífaros mais a percussão e cordas em uníssono, o equilíbrio é mais perfeito, detalhado  e audível no vinil do que no cd. Mais repousante e tranquilo. Em suma, melhor. 

Nas actuais reedições da obra de Zeca Afonso, no entanto, a audição do exemplo que é possível e disponível online, no caso o primeiro tema do primeiro disco, Natal dos Simples, a comparação é mais subtil. Na versão em vinil, original, comparando a versão digital, o tema em causa aparece bem equilibrado, sem troca de canais ou degradação sonora evidente. O único defeito que lhe aponto é aquele já indicado: o som geral é mais "puxado" no ficheiro digital, mais projectado ao ouvido de quem escuta do que o vinil, mais relaxado e mais repousante a meu ver e até mais definido. De resto é pormenor a que só alguns darão importância, como é o meu caso particular. Tirando isso, a gravação parece-me excelente, mesmo em formato digital necessariamente comprimido na resolução, pelo meio usado ( computador, internet e portanto com o som a sair a uma resolução aparentemente baixa, inferior à de um cd). O mesmo se passa no tema O Cavaleiro e o Anjo, igualmente excelente na nova gravação digital, para alguns superior ao do vinil original. 

Veremos como será o caso do disco Traz Outro Amigo também que sairá em vinil e cd no próximo dia 26 de Novembro e aí poderá comparar-se a qualidade sonora do vinil original de 1970 com aquela do vinilo agora republicado. 

Quanto ao resto, ou seja à apresentação dos artefactos, vendo pelos dois cd´s já publicados, dos primeiros discos, há uma ausência completa de informação acerca do modo como foram produzidos.  Os cd´s pouco mais têm que o objecto em si e a capa, com a indicação de terem sido "masterizados" no estrangeiro por um tal Florian Siller. 

A editora Movieplay tinha publicado logo em 1987, com o advento e desenvolvimento do formato cd, a discografia do artista, com um pormenor: as capas dos dois primeiros discos- Cantares do Andarilho e Contos Velhos Rumos Novos- foram modificadas relativamente às originais que apareceram em 1968 e 1969, respectivamente e tal como se pode ver na imagem acima. 

Não se conhece reedição em formato de lp, dos discos, pela Movieplay portuguesa, sendo que os lp´s que apareceram depois dos originais foram em alguns casos publicados pela editora Riso e Ritmo e num caso, o Cantigas do Maio, pela Círculo de Leitores, aliás a prensagem que tenho de tal disco. 

A Movieplay reeditou tal obra discográfica em 1987e cerca de dez anos depois, em 1996, sempre em formato cd. 

Assim, as capas originais dos dois primeiros lp´s em causa, publicados em 1968 e 1969,  são estas. tal como mostrado aqui:




As capas agora publicadas em reedição, desses dois primeiros discos não são por isso as originais mas as correspondentes às reedições da Movieplay, em cd, de 1987 e também no caso do segundo disco, em lp, publicado em data incerta algures no final dos anos setenta, início dos oitenta, pela Orfeu, eventualmente já com intervenção do tal José Serafim, associado de Arnaldo Trindade até a etiqueta Movieplay dar o estouro da falência, acarretando consigo a Orfeu de tão boa memória e espólio fantástico. 
Esta é a capa do lp então reeditado e a do cd actual é idêntica e da autoria de artista differente do que organizou a capa original. A original é da autoria de Fernando Aroso e a que agora se mostra em reedição é da autoria de José Santa-Bárbara. Confesso que não sei qual aprecio mais, mas a original é sempre a original, mesmo em fotografia. 


É por isso que este artigo no Público de 29.10.2021 a assinalar estas reedições peca por grande defeito ao não evidenciar estes pormenores que são essenciais, a meu ver.

Esta reedição da obra de José Afonso não só não é "definitiva" como nem sequer reproduz os originais, ao contrário do afirmado no artigo. E quanto ao som não se explica como foi obtido o som digital que se pode ouvir nos aliás excelentes exemplos apresentados. 

Será mesmo uma cópia digital e melhorada, já dos anos de 2012, altura em que se efectuaram reedições cuidadas das obras em causa? 

Dei-me ao cuidado de comparar o som do primeiro tema do disco Traz Outro Amigo Também, escutando e gravando o do vinil original de 1970, gravado em Londres, na Pye Records e cujo disco que possuo tem estampado no rótulo, "made in England", original,  portanto diverso da versão prensada em vinil, na Rádio Triunfo, estampada como "made in Portugal",  em 1973, eventualmente retocada. 

Ouvi e gravei a versão em cd de 1996, da Movieplay, apresentada numa caixinha de cartão com um livrinho catita no qual se explicam algumas coisas menos os pormenores da reedição. E ouvi também e gravei, comparando, a de 2012, da Orfeu, retocada novamente por António Pinheiro da Silva, que é autor da "masterização" para o cd, em "24 bits" e provinda dos "masters originais" o que provará que nessa altura ainda existiam e aliás foi reedição patrocinada pela RTP-Antena1. 

O resultado? Simples: o som do vinilo original conserva todas aqueles características acima apontadas: mais relaxado, tranquilo, eventualmente melhor definido e preferível a meu ver, ao som mais empurrado para os ouvidos, de ambos os cd´s. Quanto à "masterização" de 2012, eleva o som um pouco mais no patamar da qualidade digital, mas não suplanta o lp, a meu ver.  



  Assim, não espero para ouvir a versão agora publicada, em vinil e cd, porque suspeito que a conclusão irá ser a mesma: o original é  sempre preferível, embora as actuais versões sejam excelentes e adequadas a quem queira ouvir os discos intemporais de Zeca Afonso, mesmo com todos os caveat já aqui apontados na história da fruteira empenhada e na pobre transportadora que a carregava, a vários títulos. 

Para se complementar algo sobre a personalidade de José Afonso e o que representou para a música popular portuguesa vale a pena ler uma entrevista que o mesmo proporcionou a repórteres da revista Cinéfilo, tirada daqui, no contexto de um concerto realizado em 1973 e publicada no dia em que saiu o disco Venham mais cinco, ou seja em 22 de Novembro de 1973. Faz hoje 48 anos. Tantos como durou o fassismo...ahahah.









Os temas conversados, as ideias sobre a linguagem e costumes tradicionais, o gosto musical etc. etc. são absolutamente extraordinários e revelam alguém que pensava fora da caixa do comunismo e que ao mesmo tempo vivia na ilusão do "poder popular", o que aliás não resulta na entrevista porque na época ainda não estava na "ordem do dia". Só dali a meia dúzia de meses...

Num livro de Joaquim Vieira sobre a figura de José Afonso mostra-se a capa da revista e ainda de outras em que o artista foi figura de capa, o que aliás desmente a teoria de conspiração de que o mesmo foi alvo de censura feroz durante o fassismo, para além dos cortes de que foi vítima naquilo que consistia propaganda do comunismo.


Em relação aos seus amigos está aqui uma foto, tirada do mesmo livro com alguns deles, todos da extrema-esquerda comunista e do "poder popular". 




domingo, novembro 21, 2021

Diários de Salazar segundo o Público

 Uma senhora arquivista chamada Madalena Garcia passou nove anos da sua vida a transcrever em letra de forma e perceptível em formato e-book, agora disponível na Porto Editora, os diários que Salazar escreveu durante 35 anos. 

O Público conta a história no suplemento P2, de hoje, em artigo redigido pela suspeita Bárbara Reis. Suspeita de antizalazarismo primitivo e provindo dos ascendentes. 

Ainda assim, não consegue omitir algo que pode ser lido, designadamente retratando os "20 nomes com mais ocorrência nos diários de Salazar". É ver quem são e se encontram pessoas com perfil idêntico nos últimos 40 anos de democracia. E outra coisa: a jornalista antisalazarista podia informar-se sobre o que deixaram de seu para os seus, os indivíduos elencados. O que ganharam e como ganharam a vida durante o tempo em que viveram. E comparar com outros da democracia...





Nalgumas passagens pode notar-se que a História tal como tem sido contada pelos Rosas & Flunsers deixa muito a desejar ao rigor e à verdade. Afinal Salazar não era tão chegado a Cerejeira como o pintavam e as pessoas com quem mais se encontrava eram ministros dos governos e políticos do regime. 

Por outro lado, durante a II Guerra mostrava-se mais próximo dos ingleses que dos alemães e lia muitos livros relacionados com "ditadores e déspotas". 

 




O Público activista e relapso