terça-feira, dezembro 26, 2023

Como o Arquipélago de Gulag se tornou conhecido

 Há quase de dez anos publiquei aqui um postal e a seguir um outro, sobre o livro de Soljenitsine, O Arquipélago de Gulag. Escrevi então o seguinte:

"Faz agora 40 anos que o escritor russo Alexandre Soljenitsine provocou uma grande polémica, mediaticamente mundial por causa da publicação, no Ocidente, de um livro que na antiga URSS não lhe era possível publicar: O Arquipélado Gulag. A URSS, pátria.farol dos nossos comunistas de então que vituperavam o "fascismo" por não os deixar falar, reunir e publicar livremente as suas ideias, não deixava falar, reunir e publicar as ideias de Soljenitsine e muitos outros que não estivessem de acordo com os cânones da Academia das Ciências.

O livro, segundo se conta, foi escrito nos anos 50 e 60 do séc.XX, na clandestinidade ( a liberdade na URSS era assim...) e passou para o Ocidente, na clandestinidade de um micro-filme, tendo sido publicado em 1973, em França nas Éditions du Seuil, em  três volumes. Primeiro em russo e depois, em Junho de 1974, em francês; no ano seguinte, saiu o segundo volume e em 1976, o terceiro. 

 O tema do livro é muito simples: a vida no Tarrafal da URSS, chamado Gulag, no tempo de Lenine e Estaline. Qualquer semelhança com o Tarrafal português é pura coincidência e deveria ser tão semelhante como isto e isto.

Não obstante, os mesmíssimos comunistas que apoiavam os que criaram os gulags são os que depois se indignam muito com o Tarrafal. E com razão, diga-se. Mas com falta de lógica, diga-se também. A Antena Um anda a passar um programa com testemunhos dos tempos vividos no Tarrafal. Seria possível comparar com os Gulags e perguntar directamente aos que se vitimizam ( Edmundo Pedro, um deles) o que dizer dessa comparação?  E se o Tarrafal era uma imitação dos campos de concentração nazis, os gulags eram o quê? Colónias de férias para o povo?

Mais: o que fariam em Portugal, se tivessem chegado ao poder em 1974-75? À semelhança de todos os países comunistas, sem excepção, criariam os seus tarrafais. Porventura nos mesmos lugares...e com as condições psicológicas dos gulags, está bom de ver.

Em Fevereiro de 1974, após a publicação do livro de Soljenitsine, em França, começou a perseguição ao dissidente que só não terminou outra vez no Gulag ( que ainda existiam e só fecharam em 1986, ao contrário do Tarrafal que fechou décadas antes)  porque  o escritor era um premiado Nobel, ganho em 1970.

Assim, foi resolvido o assunto de modo mais expedito: expulso da sua terra. Desterrado. E foi esse facto que originou as notícias da época, como esta capa da Time de 25 de Fevereiro de 1974 que se vendia por cá, ao contrário da URSS onde era expressamente proibida esta imprensa capitalista, imperialista e reaccionária ( portanto, não era censura, era selecção para bem do povo)."


O meu interesse no livro de Soljenitsine nasceu com a publicidade que algumas revistas da época fizeram ao livro e seu autor, com destaque para a Time, a L´Express e a Paris-Match, como nesses postais se conta. 

Agora, a revista Le Point de 14 de Dezembro publicou a história rocambolesca da transmissão do manuscrito para o Ocidente e que ainda não era conhecida de todo. Uma parte de tal história faz agora 50 anos, mas a primeira ocorrera já em 1968, nos EUA, onde o micro-filme, contendo a versão do livro, se estragou.

Assim:







Alguém conta estas histórias na televisão pública ou até em publicações periódicas onde se encontram jornalistas que foram comunistas ou filhos e netos de comunistas, como alguns jornalistas do Público, por exemplo ( Bárbara Reis...)? Nem pensar! 

Portugal é como é também por causa destes fenómenos...

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