No Diário Económico de hoje - edição oferecida- aparece mais uma "entrevista de Verão" a Carlos Santos Ferreira, jurista com notas brilhantes (parece ter sido o melhor do curso que também teve Marcelo Rebelo de Sousa) gestor público e privado durante anos, antigo banqueiro na CGD ( desde 2005 até 2008) e no BCP até há pouco.
Santos Ferreira é protagonista de um dos maiores delitos económicos das últimas décadas- a tomada de poder no BCP, pelos jacobinos e afastando a direcção de Jardim Gonçalves em proveito de certos interesses, designadamente da concorrência banqueira-que ficou impune e ficará eventualmente sem se apurar os contornos exactos da participação no esquema do antigo primeiro-ministro José Sócrates e o que ganhou com isso.
Santos Ferreira, na entrevista revela-se uma enguia inteligente e já desprovida de carga eléctrica. Um exemplo: o jornal pergunta-lhe a propósito da escolha de Armando Vara para a administração da CGD, se tal foi escolha sua ou imposição do então primeiro-ministro. Resposta: " não há escolhas, nem imposições, nem pedidos. Posso dizer-lhe que, quando fui escolhido para presidente da Caixa ( por quem?, já agora que não lhe foi perguntado...), perguntei ao ministro ( que ministro? O inenarrável Pinho dos tamancos?) quem é que ele queria como representante do accionista. E não foi apenas o dr. Armando Vara que foi sugerido."
Esta resposta é por demais elucidativa da inteligência aplicada por esta gente que se governou durante mais de meia dúzia de anos. O nome não foi imposto. Foi escolhido pelo ministro que o indicou a pedido do escolhido para presidente da Caixa. A propósito disto, Eduardo Catroga disse publicamente que estes nomes ( Armando Vara e depois Bandeira) "abandalharam" a Caixa. Quem os escolheu, particularmente o "dr. Vara" (que tirou o curso ainda mais à pressa que Miguel Relvas, na Independente e que chegou a pôr as barbas de molho no auge do caso da licenciatura de Sócrates)? É tão evidente que até dói, mas Santos Ferreira é estóico.
Depois, outro caso ainda mais dramático da chico-espertice desta gente (apetecia-me chamar-lhes outro nome pelo que fizeram ao país...): no caso BPN, Santos Ferreira diz agora que na altura achou que o banco devia ser nacionalizado, mas afinal mudou de ideias e agora pensa que não o deveria ter sido. A explicação para a mudança? Não havia risco sistémico como chegou a temer. Mas não havia outros gestores e políticos tanto ou mais conceituados que a criatura que diziam na altura que tal risco sistémico era marginal e improvável? E não o diziam com números em apoio? Então porque é que esta gente preferiu correr um risco maior do que o dos "swaps"? Ou alguém tem dúvidas que o maior descalabro do BPN surgiu após a nacionalização?
E ainda outra coisa que Santos Ferreira aponta: porque é que a SLN não foi igualmente nacionalizada? Santos Ferreira diz não perceber porque ficou de fora tal operação...mas percebe, olá se percebe! Não o diz, porém, uma vez que tal coisa seria cuspir na sopa ou coisa que o valha.
O que diz sobre a origem da nossa crise mostra bem como fomos governados durante uns anos, por uma comandita de incompetentes, irresponsáveis e a final de contas, criminosos que fizeram do país um quintal dos seus interesses e dos amigos de empresas afectas e banqueiros corruptos. Nunca no Estado Novo acontecera tal coisa.