Vai por aí uma indignação política muito curiosa sobre a circunstâncias de uma antiga ministra das Finanças, saída há quatro meses de um governo, ter aceite integrar quadros técnicos de uma empresa estrangeiro de "gestão de dívidas públicas" e que esteve envolvida em negociações com o Estado português, a propósito de um banco privado, durante o consulado da tal ministra, Maria Luís Albuquerque.
Não há suspeita de qualquer conluio prejudicial para o Estado, nem sequer qualquer indício de corrupção funcional. Há apenas o reconhecimento por essa empresa da qualidade profissional da tal ministra e por isso a sua contratação.
Nada que um Jorge Coelho não tenha feito ( Mota-Engil, com outros contornos ainda mais questionáveis). Nada que um José Sócrates também não tenha feito ( Octapharma, a empresa que lhe deu "um bom tacho" segundo afirmou António Guterres.
Nada que uma ressabiada Manuela Ferreira Leite não tenha feito ( foi trabalhar para o Santander).
A questão parece ser o período de nojo. Se for mais de seis meses talvez se aceite. Menos que isso é anti-ético...vergonhoso e talvez criminoso.
Portanto, o assunto tem muito mais que se lhe diga e estes hipócritas que agora rasgam vestes nada disseram disto que agora se relembra:
Este autor- Gustavo Sampaio - publicou em 2014 o livro Os Facilitadores, sobre as sociedades de advogados que negociaram com o Estado português e também do lado privado, contra o Estado português e são provavelmente os responsáveis pelas PPP´s que negociaram, pelo modo como ocorreram certas privatizações, concessões e sub-concessões. São um poder relativamente oculto, sem fiscalização democrática de espécie alguma. Um dos seus principais mentores, Proença de Carvalho anda sempre a falar de democracia e a exigir transparência e responsabilização do MºPº, mas o conceito falha-lhe a essência nestas questões. Assim, a suspeita sobre a razão por que o faz é maior que os ganhos que acrescenta na sociedade que partilha com espanhóis e que acabou por escorraçar um agora arrependido Nuno Godinho de Matos. Espero que este advogado fale e volte a falar, para que se conheça melhor o "perfil democrático" deste pomba branca do regime.
Portanto, o melhor exemplo destas sociedades "jurídico-empresariais" é a Uria Menendez, de Proença de Carvalho, como explica o autor:
Pois segundo o Correio da Manhã de hoje, o grande vencedor na derrota do Estado português, na acção que envolveu discussão sobre swaps, foi o advogado de José Sócrates...Proença de Carvalho. Está em todas e ganha em todos os tabuleiros. Até quando?
Sobre isto não há e nunca houve da parte dos tais indignados postiços nenhuma questão pública a colocar.
A propósito disto e muito mais vale a pena ler este pequeno artigo do director do C.M. edição de hoje.