No outro dia citei um artigo de Alberto Gonçalves no Observador para dizer que me parecia um ataque algo torpe a um jornalista que ainda aprecio: Eduardo Dâmaso, actualmente director da revista Sábado.
Dâmaso, como todos nós, terá os seus defeitos, mas nenhum deles será o de lambe-botas do poder que está, como AG deu a entender. Os artigos de Dâmaso, na Sábado, sobre análise política são fracos e isso chega para não lhes dar importância, sem necessidade de conduzir o autor às catacumbas da indignidade.
Pelo contrário, o que conheço de Eduardo Dâmaso como jornalista, ao longo de muitos anos, é suficiente para poder dizer que precisamos de mais Dâmasos no jornalismo. Não é por estar agora a ganhar mais que um qualquer oficial superior da política de topo que deixou de sindicar o fenómeno da corrupção, ainda que tenha amolecido um pouco. António Costa faz parte do sistema corrupto que temos e isso deveria ser denunciado claramente, o que não é o caso da Sábado que se desinteressou do assunto, aparentemente. Os advogados Lacerda e Siza e outros que beneficiam de "ajustes directos" como alguns figurões casados até com ministras, mereciam outro tratamento noticioso porque a corrupção enquanto fenómeno socialmente danoso, para não dizer criminal passa por aí.
Assim, esta pequena crónica de Eduardo Dâmaso no CM de hoje pretende recolocar o problema de sempre mas soa algo a oco e de chuva num molhado já encharcado.
Os tais 20 mil milhões de euros a voar nas bancarrotas dos bancos, da responsabilidade de alguns banqueiros, não serão todos manchados pelos crimes específicos, de insolvências dolosas, burlas ou puros furtos, embora a demagogia ambiente queira fazer crer. Essa amálgama de pendor esquerdista radical ( toda a propriedade será um roubo, para certos prudhons) deixa de fora a sensatez analítica em saber o que pertencia a quem, de direito.
A responsabilidade pelo afundamento do BCP e pela descapitalização ou "imparidades" da CGD, por exemplo, ou mesmo do "universo BES" deverá ser apurada em sede criminal ou cível mas a complexidade de investigação e determinação dos vários tipos de culpa carece de ponderação e conhecimento da realidade.
Atirar para o ar em escrito que "uma mão cheia de banqueiros é responsável pelo desaparecimento de quase 20 mil milhões de euros da riqueza do país e ninguém se incomoda" é falso. Falsa notícia. Há quem se incomode, oficialmente e por tal dever mas não saberá distinguir trigo de joio e isso é problema de todos. Um problema político, de falta de meios de investigação. A responsabilidade primeira, assim é do poder político. Ou seja do primeiro-ministro que temos agora. Isso não é suficientemente denunciado, pela Sábado ou pelo grupo Cofina e Eduardo Dâmaso é réu dessa insuficiência. Nisso, Alberto Gonçalves tem razão. Mas derivará tal insuficiência de conformismo consciente e adoptado? Estamos para ver...
Sobre os "ex-ministros e ex-deputados condenados por corrupção e burla em todas as instâncias e que conseguem milagrosamente adiar a entrada na cadeia", o próprio jornal CM dá uma pista para se saber porquê:
O processo, com dezenas e dezenas de volumes está "bloqueado" na Relação do Porto. Não se explica porque está "bloqueado" e tal informação já foi colocada à disposição de leitores atentos, salvo o erro, no Observador. O processo está "bloqueado" por causa das diversas leis que temos, desde as processuais até às de organização judiciária. E nisso tem razão E. Dâmaso: o poder político não quer mexer nelas para alterar tal estado de coisas.
Prefere mexer no Estatuto dos magistrados, para conseguir outro objectivo: evitar que os tais ex-ministros ou ex-deputados sejam incomodados pelo poder judicial.
Mas isso, aliás, tem sido devidamente denunciado por Eduardo Dâmaso.
Portanto, o balanço continua a ser positivo.
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