Artigo de Luís Reis, no Observador:
O índice de Volume de Negócios na Indústria apresentou uma variação homóloga nominal de -2,2% em Novembro passado, reflectindo o abrandamento da procura por parte do mercado externo.
Em Novembro de 2018, as exportações de bens registaram uma variação homóloga nominal de -8,7%, enquanto as importações aumentaram 11,5%, razão pela qual o défice da balança comercial aumentou 1.157 milhões de euros por comparação com o mês de Novembro de 2017, registando um saldo negativo superior a 2.000 milhões de euros.
Portugal atingiu em Outubro de 2018 o valor mais alto de sempre da sua dívida pública líquida em termos absolutos: 251,1 mil milhões de euros (para os mais desatentos, regista-se que o aumento da dívida não pode apenas ser explicado pela vontade do Governo em contrair dívida para antecipar pagamentos ao FMI e brilhar nas aberturas dos telejornais).
O indicador de confiança dos consumidores diminuiu em Novembro e Dezembro, retomando o caminho descendente iniciado em Junho e reflectindo o contributo negativo aportado pelas perspectivas relativas à evolução da situação económica do país, pela situação financeira dos agregados familiares e pela poupança.
Todos estes dados mostram que o país real existe e que é bem diferente do país cor-de-rosa que a propaganda do Governo faz circular todos os dias com a eficaz e feliz colaboração da maioria esmagadora dos media – que não mediam, apenas transmitem.
Agora, alguns factos.
O investimento público praticamente acabou em Portugal. Qualquer riqueza criada tem sido utilizada para “repor rendimentos” (leia-se: despejar dinheiro em qualquer grupo de pressão que ameace a serenidade do país, com incidência quase exclusiva na função pública) e isso não é compaginável com investimento. Mas parece que agora – em ano eleitoral – o Governo tem um plano de investimentos em obras públicas pronto para avançar, de cerca de 20.000 milhões de euros até 2030 (e quem vier a seguir que feche a porta). Este plano, aliás, sucede a um “Plano Estratégico de Transportes e Infraestruturas”, cujos projectos estão por realizar em 80%.
A carga fiscal em Portugal é a mais elevada de sempre, consumindo quase 35% do PIB nacional e situando-se cerca de 5 pontos percentuais acima da média da OCDE. Isto, apesar da degradação diária e visível de tudo quanto são serviços públicos e da inexpressividade do investimento já explicada.
O PIB per capita de Portugal coloca-nos em 15º entre os 19 estados-membros da zona euro (em 2016 o nosso lugar era o 13º e era o 14º em 2017) — em 3 anos de “fim de austeridade” descemos três posições. O nosso PIB per capita baixou para cerca de 77% da média da União Europeia e vem cimentando a sua trajectória de divergência com ela – basta-nos agora destronar a teimosa persistência da Lituânia para descermos abaixo da linha de água e entrarmos oficialmente na zona de despromoção. Num assunto bem mais sério e importante do que o bem-estar dos portugueses, medido pelas horas que lhe são dedicadas pelos debates televisivos — o futebol –, qualquer treinador já teria há muito sido despedido, após o conveniente linchamento público.
Muito simplesmente, eu chamo a isto tudo um desastre — um país super endividado, a produzir menos riqueza relativa que todos os seus pares europeus, com exportações em queda, importações em alta e carga fiscal asfixiante. É um Estado gigante nos custos e cada vez mais anão nas infraestruturas.
Ano Novo, Vida Velha!
Se nas tv´s e jornais a informação fosse certeira, correcta e objectiva, este malabarista ambidextro seria corrido em próximas eleições. Assim...tudo continuará na mesma até nova bancarrota aparecer e a culpa ser atirada para a "direita".
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