sexta-feira, janeiro 31, 2020

Oi! A PT afundou-se por causa deste grupo dos 4...

Cofina:



O Jornal Económico de hoje tem estes dois artigos em que se explicam alguns fenómenos que afectaram a PT, quando ainda era "nossa"  e deixou de ser por causa de negociatas. Assim:



O director do jornal chama "saque" ao que aconteceu na PT por causa daqueles gestores, tendo em tandem o da coisa pública, no Governo de então. Foi aí que apareceu o até então misterioso amigo Calos Santos Silva que substituiu um primo que enriqueceu subitamente.

Para entender o que se passou na PT, na década 2005-2015 é necessário saber  o que aconteceu ao BES, na década anterior porque estes assuntos e complexidades são inextricáveis e isso era visível logo em Julho de 2014, ,aquando da detenção de Ricardo Salgado. 
Na altura Vasco Pulido Valente escrevia assim, a mostrar perplexidade:



Para se entender o que era o BES é preciso ir mais atrás, ao final dos anos oitenta, para não dizer mesmo antes, à altura das nacionalizações de 1975 e o que se passou depois, com a nossa pinderiquice do costume. 

Expresso, 8.7.1988:


Como é que o BES se enfarinhou tanto na PT ao ponto de tal empresa ser uma espécie de vaca leiteira do banco? 

O Público já tentou explicar tudo isso, em tempos. E aqui, o grupo Cofina resumia o assunto, assim:

"Entre 2001 e 2015, por Ricardo Salgado ter conseguido condicionar a gestão da PT aos seus interesses, o grupo BES recebeu da PT, a título de pagamentos de serviços prestados, recebimento de dividendos e disponibilidade financeira por via da concentração no BES das aplicações de tesouraria, um valor superior a 8,4 mil milhões de euros."

Depois disso veio a grande crise de 2008. E o Público explicava:

Ainda antes do final de 2007, Henrique Granadeiro pediu ao ex-Presidente da República Mário Soares que ajudasse a PT a construir pontes com o Presidente Lula da Silva. É Mário Soares que vai sugerir a contratação de José Dirceu, o ex-ministro-chefe da Casa Civil de Lula da Silva, um posto muito poderoso. Isto foi antes de Dirceu se tornar o réu mais conhecido do caso “mensalão” (em 2016, Dirceu seria detido na Operação Pixuleco, derivada do Lava-Jato).

Tal como noticiou o PÚBLICO a 19 de Fevereiro de 2012, os nomes da LSF, chefiada por Fernando Lima, grão-mestre do Oriente Lusitano, e da JD Assessoria e Consultoria começaram a constar, a partir de 2007, da folha de avenças da PT, com remunerações mensais de 50 mil euros. As verbas eram aprovadas directamente por Granadeiro, em comissão executiva, com o fundamento de que os gabinetes apoiavam as movimentações da PT no Brasil.

Ao ir buscar o português Nuno Vasconcellos e o espanhol Rafael Mora, as caras da Ongoing, para serem pontas-de-lança do BES na luta contra a Sonae, Ricardo Salgado deu-lhes grande relevância. E tornou-os muito conhecidos junto de um certo meio, para quem ser gestor era mais do que uma profissão, era um meio de promoção.

Vasconcellos e Mora declaravam-se então irmãos siameses e iriam desempenhar um papel muito importante na ascensão do sistema GES. Hoje, são mesmo dos poucos a poderem gabar-se de terem entrado, desde o primeiro instante, nas entranhas das negociações luso-brasileiras

 E também aqui se faz o historial deste desastre gigantesco agora denunciado pelo JE.- Evolução PT/Oi:

2014

- Em 20 de março, a Autoridade da Concorrência (AdC) confirma a aprovação da fusão entre a PT e a Oi e, sete dias depois, as assembleias-gerais das operadoras aprovam o aumento de capital.

- Em 05 de maio, a PT transfere os seus ativos -- MEO, Sapo, entre outros -- para a Oi, como o previsto no processo de fusão.

- Na sequência da crise do Banco Espírito Santo (BES), acionista de referência da PT, e do Grupo Espírito Santo (GES), a operadora é envolvida no processo e vem a esclarecer, em 30 de junho, que tinha subscrito, através de duas subsidiárias, um total de 897 milhões de euros em papel comercial da Rio Forte.

- Em 03 de julho, a Oi comunica ao mercado que desconhece o investimento da PT no papel comercial e pede esclarecimentos à empresa. Entretanto, a Rio Forte não consegue reembolsar os quase 900 milhões de euros que deve à PT, pelo que o acordo de fusão com a Oi é alterado em meados de julho, fragilizando a situação da operadora.

- Em 29 de julho é anunciado que o presidente executivo e 'chairman' da PT, Henrique Granadeiro, já não faria parte do Conselho de Administração da nova empresa resultante da fusão, cujo acordo inicial previa que fosse vice-presidente e, em 07 de agosto, o gestor demite-se de todos os cargos na operadora de telecomunicações.

- Em 08 de setembro, os acionistas da PT aprovam o novo acordo com a Oi.

- Em 08 de outubro, o presidente executivo da Oi, Zeinal Bava, demite-se do cargo, ainda no rescaldo das aplicações financeiras da PT na Rio Forte. A saída de Bava coincide com as notícias sobre o interesse do grupo francês Altice em comprar à Oi a operadora portuguesa.

- Em 03 de novembro, a Altice propôs comprar à Oi os interesses da PT fora de África, excluindo a dívida da Rio Forte, no valor de 7.025 milhões de euros. Dois dias depois, a empresária angolana Isabel dos Santos manifestou disponibilidade para "integrar uma solução" para a operadora que promovesse "a defesa do interesse nacional".

- Em 09 de novembro, a Terra Peregrin -- Participações SGPS, da empresária angolana Isabel dos Santos, lança uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a totalidade das ações da PT SGPS (atual Pharol), no valor de 1,21 mil milhões de euros.

- Em 30 de novembro, a Altice sobe a oferta em 375 milhões de euros para 7.400 milhões de euros.

- A administração da Oi aprova por unanimidade a venda da PT Portugal à Altice em 05 de dezembro e quatro dias depois é assinado o acordo definitivo.

+++ 2015 +++

- Em 02 de junho, a Altice conclui a aquisição da PT Portugal.

+++ 2017 +++

- Em 30 de junho foi tornado público que a PT Portugal iria transferir 118 trabalhadores para as empresas do grupo Altice -- Tnord e Sudtel -- e ainda para a Visabeira, utilizando a figura de transmissão de estabelecimento. No início de junho, a empresa já tinha anunciado a transferência de 37 trabalhadores da área informática da PT para a Winprovit. No total, são 155 trabalhadores transferidos.

Será esta a essência do caso PT/BES? Um negócio ruinoso por causa das dificuldades do BES? Com alguns corruptos ( que receberam vantagens indevidas) à mistura? 

Talvez os "leaks" de Rui Pinto venham ajudar um pouco mais a deslindar o novelo...

Sem comentários:

Megaprocessos...quem os quer?