sexta-feira, abril 29, 2022

As realidades de há 50 anos e os carteiristas que "trabalhavam na praça"

 Tentando encontrar um vislumbre da realidade de há 50 anos, com vista a mostrar o que é geralmente ocultado nas narrativas de esquerda acerca do nosso tempo de então, vou colocar mais recortes de jornais diários que contêm notícias de casos do dia e pequenos artigos sobre a vida dessa época em Portugal.

Na A Capital de 1 de Fevereiro de 1972, um certo Vítor Constâncio, da SEDES, tentava explicar o fenómeno da emigração para países europeus.


Este fenómeno percebia-se melhor com o artigo de Eugénio Rosa, outro esquerdista, no Diário de Lisboa de 10 de Julho de 1973. 
Os nossos salários eram muito inferiores aos europeus. No caso de Espanha eram cerca de metade. O que compensava era o índice do custo de vida. E hoje?
 

No mesmo número do D.L. um artigo de um certo Carlos Carvalhas mostrava que nem sequer tínhamos estatísticas. Nem fiáveis nem sem o serem...


E quanto a capitalismo até tínhamos Bolsa, mas era assim, à nossa dimensão, em 1973:

Apesar disso lá íamos cantando e rindo. Alguns, porém, sofriam como se dava notícia e se escrevia em modo realista.

Por exemplo, este artigo de António Alçada Baptista, na A Capital de 1 de Fevereiro de 1972.  Alçada Baptista chegou a entrevistar Marcello Caetano e publicou as conversas num livro que já foi por aqui mencionado e sê-lo-á novamente, em breve. Advogado, contava as suas experiências profissionais com um realismo que hoje seria difícil de encontrar, na franqueza e exposição da realidade vivida. 

Os pequenos casos que conta são resumos de alguns modos de vida, desse tempo e em certos meios. A advocacia de então não era bem a de certos escritórios de hoje, como os contratados pelo Estado e suas dependências,  para certas questões a custo inacreditável para o erário público.
Tal como a história do carteirista, contada por Alçada Baptista, também "trabalham na praça":

Na mesma edição e na página 5 dava-se conta dos julgamentos "no Plenário" de comunistas apanhados a prevaricar contras as leis existentes. Assim:


No Diário de Lisboa de 16 de Outubro de 1972 mostra-se uma explicação para o cartaz de João Abel Manta já aqui mostrado sobre o "nacional-cançonetismo" que nada mais era do que uma fronda dos escribas social-comunistas contra os artistas que não alinhavam com a "oposição" e preferiam cantar para ganhar a vida, sem compromissos políticos. Assim, os mais populares e artisticamente menos exigentes eram fustigados com o epíteto enquanto os demais que compunham e publicavam música de alguma qualidade eram simplesmente ignorados. A revistinha Mundo da Canção que se publicava no Porto e era um cóio de comunistas, era também o barómetro de tal movimento cultural.

O crítico de televisão, o comunista Mário Castrim que aproveitava as crónicas para se manifestar politicamente em tom encriptado para iludir a Censura, fustigava a RTP e o cantor Gabriel Cardoso por isto que revela a tendência para tomar conta do Portugal cultural, como até hoje acontece:


Na última página dava-se notícia do funeral de Ribeiro dos Santos, o estudante do então MRPP, morto por um agente da PSP [ da DGS, fica corrigido o lapso].

A notícia foi objecto de censura, pela certa, mas dá-se conta do essencial:



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Megaprocessos...quem os quer?