domingo, abril 03, 2022

Em 1972, caquéctico era o marxismo de Mário Soares...

 Sérgio Sousa Pinto, militante do PS, nasceu em 1972, ano em que Mário Soares publicou a sua magnum opus da política rasqueira, Le Portugal Baillonné, cuja tradução é uma ignomínia ao Estado que precedeu o actual e por isso só foi publicado posteriormente ao derrube do mesmo, em 1974. Afinal Sérgio Sousa Pinto alguma vez leu outra obra proibida, actualmente e de facto, pelos poderes que estão? Refiro-me ao livrinho de quem conheceu muito bem Mário Soares, um tal Rui Mateus...

Para comemorar a efeméride de tal publicação original, deu ontem à estampa no Público um artiguito de duas páginas a louvaminhar o seu herói, confessadamente  devido a "teimosia de Manuel Carvalho" que insistiu na comemoração de tal efeméride. Similis cum similibus...

O que diz o artigo de substancial? Mais ignomínias sobre o regime que precedeu o actual. Leiam-se:



Para além de classificar o regime anterior, in totum, de 1926 a 1974, com a amálgama habitual de Salazar e Marcello Caetano, uma flagrante  desonestidade, com frases deste calibre retórico: " triste realidade de país atrasado e oprimido, sob uma ditadura anacrónica, resíduo de outra era, e um fascismo paroquial e decrépito que aliava brutalidade e senilidade" elabora depois considerações que desligam a realidade portuguesa do que foi e passou a ser. Falsifica a história, optando por uma versão sectária, voilà! 

Porém, a frase que mais me tocou foi esta: "Ao contrário das incontáveis seitas de pensamento que atraíam as elites de esquerda, cheias de certezas e doutrina livresca, Soares não sabia bem o que queria. Era o preço que pagava pela sua superioridade intelectual e política"

Escreveu isto sem se rir, suponho. Mas devia. Um indivíduo que desenha -e desenha muito bem- devia rir-se destas coisas sem sentido. 

Mário Soares nem sequer pode ser um mito porque nunca teve estaleca para tal, malgrado as tentativas de o alcandorar a salvador da pátria e libertador do comunismo- de que aliás fez parte, tal como Sérgio Sousa Pinto quis fazer, segundo a sua biografia em modo de entrevista acima linkada. 

Por isso talvez seja necessário voltar ao "tempo em que você nasceu", ou seja a 1972 e mostrar o tal país onde vigorava a tal ditadura caquéctica, tenebrosa e anacrónica. Sérgio Sousa Pinto não o viveu porque nasceu precisamente nessa altura e como bebé só percebeu sombras e suspiros. Nada mais. Infelizmente depois disso aprendeu de cor o que lhe ensinaram, incluindo o panegiricado Soares, de quem foi valete durante o período em que usufruiu de estadia em Bruxelas como eurodeputado, na habitual sinecura que contemplou alguns apaniguados do poder político que está. Talvez lhe tenha dado ensejo de completar a coleção de revistas e álbuns de bd, disponíveis nas ruas de Bruxelas a preços convidativos e por isso o proveito é dele. Seja. Passemos por isso a 1972 como o deveria conhecer e aparentemente não conhece.

A mordaça que poderia afectar  o país em 1972 era esta, mostrada pela revista Observador de 31.12.1971:

 







E no ano seguinte, em 11 de Maio de 1973 a mesma revista, num número especial mostrava as "linhas de força" de algo que Sérgio Sousa Pinto, como jurista ignora:



PNB a preços de mercado, em 1972: 7%!

E como é que Mário Soares entendia estas coisas, como jurista exilado em Paris, vivendo numa "habitação modesta e exposta, do temor permanente pela segurança de Mário Soares e família", o que deixa muitas interrogações a propósito da fortuna posteriormente amealhada?    

Sobre isto vale a pena recordar factos históricos olvidados por quem se calhar nunca os conheceu, uma vez que a História é para quem a estuda e em Direito não se lêem destas coisas, publicadas em Abril de 1973 na mesma revista Observador, em modo de divulgação sem grande propaganda: 




Saberá Sérgio Sousa Pinto quem é a figura que discursa na imagem abaixo, sob a menção "oposição democrática"? Sabe, mas não quer saber. E sabe que se Mário Soares quisesse estar presente, poderia ter estado. Afinal não tinha mandado de detenção pendente que pudesse ser executado sem mais e Portugal era um Estado de Direito. Até foi a figura da direita, em baixo, que o libertou do exílio horroroso de S. Tomé, onde se encontrava aliás com plena liberdade de movimentos, embora impedido de regressar a Portugal. Ficou lá uma eternidade: oito meses.


"E agora"?  Mário Soares o que pensava do país, da economia e de tudo isso em 1972? Podemos saber porque o disse numa entrevista à revista L´Express ( numa das célebres entrevistas L´Express va plus loin avec...), de 10 de Julho de 1972, de resto já aqui publicada e comentada.

Mário Soares conta que começou a conspirar contra o regime, como comunista, em 1942 e foi preso uma dúzia de vezes por ir à missa duas vezes, segundo se pode depreender. Felizmente nunca foi torturado, nem lhe bateram sequer, segundo confessa. Vá lá. 

Quando lhe perguntam se foi comunista responde que se calhar foi sempre socialista. Mas só nos anos cinquenta descobriu tal coisa e continuou marxista, entenda-se. 
Quando lhe perguntaram como se poderia resolver o "problema colonial" que entende como o mais premente de todos, não hesita: novo regime. E como derrubar o antigo? Simples: vale tudo, incluindo luta armada. "Violência sob todas as suas formas", disse. Está-se mesmo a ver como é que um regime poderia tolerar tais ideias. Do mesmo modo que o próprio Mário Soares tolerou depois as FP25...

Quando lhe perguntam o que pretende para o país, revelava a sua verdadeira faceta de diletante marxista: mudar tudo, numa "transformação profunda das estruturas económicas e sociais". 
Este propósito era tão claro apesar de Mário Soares "não saber bem o que queria" que só poderia dar no que deu: uma tragédia colectiva, com duas bancarrotas sucessivas, em 1976 e passados dez anos em 1986, já tínhamos outra a contabilizar, de que só nos livramos com a intervenção do FMI e a entrada dos fundos da CEE. O antigo e hediondo regime alguma vez passou por tais vergonhas nacionais?  

Ao longo dos anos tenho vindo aqui a elencar as razões e documentar os motivos para tal tragédia, imputável em boa medida a Mário Soares e ao PS de sempre. 

Fica apenas para memória uma parte do programa do PS desse tempo, ainda marxista e apoiante activo e militante das nacionalizações ocorridas em 1975 e que destruíram por completo e durante décadas as estruturas essenciais em que assentava a economia nacional em 1972 e que poderia ter evoluído para uma economia muito mais próspera e sadia do que jamais foi. 
Mário Soares sufragou até aos anos oitenta as ideias peregrinas da esquerda comunista sobre o capitalismo e por isso embarcou e apoiou as iniciativas e soluções legislativas, agora democráticas que se impuseram ao país, após 1975, com as nacionalizações e a estratégia anti-capitalista promovida pela esquerda comunista, consagrada constitucionalmente como um "caminho para o socialismo". 

A única coisa que se lhe pode creditar com mérito é a coragem de ter lutado no Verão Quente de 1975 contra a implantação de um regime comunista em Portugal, o que seria uma grande tragédia colectiva mas ainda assim improvável mesmo que não tivesse sido um dos grandes opositores a tal desiderato da esquerda comunista. Mário Soares lutou pela sua própria sobrevivência, eventualmente física, mas havia outros, havia todo um povo que se oporia a tal aberração em pleno século XX, na Europa. 

As sequelas do marxismo do PS, particularmente na Economia, porém, essas ficaram e permanecem até hoje e isso é legado de Mário Soares. 






A política económica subsequente às nacionalizações e ao desmantelamento do sistema económico que tínhamos em 1972, por motivos totalmente ideológicos e marxistas, foi sempre, até meados dos anos oitenta, com a nossa entrada na CEE, uma desgraça colectiva que só nos trouxe pobreza, por vezes no limiar da bancarrota, como sucedeu nos anos setenta e oitenta. 

Mário Soares esteve sempre no epicentro desta desgraça, apoiando politicamente as soluções desastradas e trágicas para a economia que desfizeram o que tínhamos em 1972,  altura em que crescíamos a taxas nunca vistas depois em democracia. 
Não será isso suficiente para fazer pensar Sérgio Sousa Pinto e moderar a hagiografia de alguém que absolutamente não merece tais elogios? 

Então aqui vai uma sucessão de artigos e recortes, em modo cronológico e a partir de 1976: 

O Jornal de 28.5.1976, tinha Sérgio Sousa Pinto quatro aninhos e por muito precoce que fosse aposto que ainda não saberia descodificar esta informação. Terá aprendido, entretanto? Duvido.


16.7.1976:


9.7.1976:


9.5.1977:
Manobras no estrangeiro, junto de amigos da Internacional Socialista para resolver os apertos económicos derivados das políticas sufragadas pelo PS e Mário Soares. Aqui figura um personagem que foi afastado, censurado e olvidado pelo partido. Não foi apenas o regime hediondo de Salazar que o fez, com a censura à figura, de resto então anódina, de Mário Soares...


E a situação trágica voltou a repetir-se nos anos oitenta porque as razões para tal permaneciam as mesmas, com o apoio de Mário Soares, sempre. Descobriram então que afinal o capitalista Mello, espoliado em 1975 até poderia dar uma ajuda...


Infelizmente o retrato de Mário Soares nessa época, quatro anos depois de 1972,  não é nada lisonjeiro, porque a extrema-esquerda a quem deu a mão, objectivamente, o repudiava, tal como hoje ainda o fazem os próceres do BE, herdeiros disto: "o movimento de massas tem de vencer"! Então não tem?!


Esta é a verdadeira obra do indivíduo que "não sabia o que queria" e resumia tudo a uma palavra: "liberdade", como se tal fosse uma palavra mágica para tudo resolver. Estudar, saber, trabalhar e decidir ao modo de um verdadeiro estadista é que não era com ele. Pois sim...sempre preferiu estas figuras e hedonismos:



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