terça-feira, dezembro 27, 2022

Os oitenta na música popular

 Já aqui escrevi que os anos oitenta, em música popular, ficaram aquém da década precedente. Não há um único disco da década de oitenta que seja imprescindível e ultrapasse em qualidade e interesse musical, vários da década de setenta. 

Nessa década dos setentas,  praticamente saíam todos os meses discos importantes e fundamentais, em catadupa de tal ordem que a colecção de discos mais importantes da música rock, nesse período, esgota praticamente o catálogo representativo da música popular. 

Ainda assim nos anos oitenta, assistiu-se à publicação de alguns discos interessantes de grupos que já tinham produzido música na década anterior e outros que surgiram ex-novo nessa altura. 

Como foi precisamente no início da década de oitenta que comecei a coleccionar discos de vinil, em albuns, já aqui mostrei os mais significativos para mim. No caso são da colheita de 1982:


São todos de artistas que já vinham a produzir música de décadas anteriores, até dos anos sessenta, como era o caso de Simon&Garfunkel ou os Fleetwood Mac. 
O disco que então mais me impressionou nesse ano foi porém, o de Donald Fagen, The Nightfly, além do mais porque Donald Fagen fazia parte dos Steely Dan cuja sonoridade dos discos da primeira metade dos anos setenta, acabara de descobrir.  

Tido como um dos primeiros a ser gravado em processo digital, apesar de ainda não ter sido lançado comercialmente o revolucionário cd, o disco trazia uma aura de inovação técnica que a década consagraria. 
O anúncio da Rolling Stone de 11 de Novembro de 1982 indicava que a temática, ironicamente se referia à década de...cinquenta, a do nascimento do rock, embora o ambiente fosse ainda de jazz, no caso uma cabine de estação de rádio: 



No Natal de 2018 a revista Record Collector publicou o que considerava os melhores discos de tal década: 




Sim, lembra-me de ouvir pela primeira vez o disco Closer dos Joy Division, mas ficar relativamente indiferente, apesar de o ter gravado em cassete, em 9.5.1980:


 Em 1980, Remain in Light dos Talking Heads, idem aspas no que se refere ao interesse que suscitou. Apenas o triplo Sandinista dos Clash me deixou impressionado, mas era música que poderia muito bem ter sido composta na década anterior. É um disco que ainda hoje se ouve muito bem, além do mais pela alta qualidade sonora da gravação original. 

Em 1980, já vindos do final dos anos setenta, os Dire Straits publicaram Making Movies, um bom disco; em 1982,  Love over gold , confirmou que a década seria também deles, o que se evidenciou em 1985 com Brothers in arms, lançado em  pleno boom digital do cd e cuja sonoridade teve um impacto mediático tremendo, sendo uma das maiores influências no som da década, tantas foram as vezes que apareceram nos rádios e tantos os discos que venderam, para cima de vinte milhões. Aliás, são discos que comprei e guardei, porque ainda os ouço hoje em dia. Até li recentemente a biografia de um dos músicos, o baixista John Illsley.
Rock & Folk, Junho de 1985:


Em 1986 os Dire Straits já andavam assim, numa imagem paradigmática da música da década, misturada já com o "easy listening", ou seja, a irrelevância sonora que nos anos setenta não se notava. 



No ano seguinte, 1981, nenhum disco me impressionou particularmente como dantes acontecia. Em 1982 foram aqueles acima mostrados, embora falte um, essencial, na fotografia: o disco The Lexicon of Love dos ABC que me conquistou a atenção desde as primeiras audições, sendo um dos primeiros discos que comprei, na versão nacional, produzida pela Valentim de Carvalho. O disco de Michael Jackson Thriller é de tal modo impositivo para a época que se tornou um dos discos mais vendidos de sempre, na música popular. 
 Em 1983 apareceu o disco Power Corruption & Lies dos New Order que me interessou ouvir bem como o Let´s Dance de David Bowie, pela particular sonoridade, apelativa ao ritmo da época e produzido para tal efeito de inaugurar a música de dança depois da moda disco. Parece ter sido o disco mais vendido de David Bowie...

Em 1984 nada de novo aconteceu na música popular e que me chamasse a atenção, apesar de gostar de ouvir Prince em Purple Rain. Os Smiths não me impressionavam nada nem os Echo and the Bunnymen ou os Cocteau Twins. 
Em 1985 outro disco dos New Order, Low Life, o qual me obriguei a ouvir, com algum proveito e com uma capa elaborada em papel vegetal, suplementar. Quanto a Prefab Sprout bem me esforcei por ouvir, em vão, tal como os Scritti Politti cujo disco mais interessante só sairia em 1988, com o título Provision e um dos que a par do The Lexicon of Love dos ABC definem a sonoridade dos oitenta, para mim.
Estes exemplificam na perfeição o som da década, para mim. Um deles, vinha já dos anos sessenta...e se acrescentarmos outro dos setenta, como os Roxy Music, a partir de Avalon, de 1982, temos o quadro completo. A sonoridade de Avalon e o disco anterior, Flesh and Blood de 1980, conferem com a sonoridade própria dos oitenta, tal como o disco a solo de Brian Ferry, Boys and Girls, de 1984. Não há mais nada do que More than this...


Em 1980 a descoberta da sonoridade New Order, herdeiros dos Joy Division, em parte influência do guru Miguel Esteves Cardoso que os incensava no Sete, com as colunas semanais das "bolas para o pinhal", foi fatal e aguentou-se até ao final da década, apesar de a sonoridade não ser das mais perenes em termos musicais. Falta sempre qualquer coisa nestas músicas electrónicas, que em 1980 começavam com um som batido e em 1983 já tinham uma melódica que me levou a comprar Power, Corruption and Lies (pedi a um amigo que mo trouxesse de França, lá das Fnacs) como se fosse uma grande inovação... mas são discos que se ouvem poucas vezes. De facto não são assim tão marcantes, como por exemplo, os Kraftwerk dos anos setenta. Àqueles falta-lhes uma alma, mesmo mecânica ou electrónica. 


Em busca dessa alma, mesmo exótica deixei-me levar por sonoridades que se aproximavam do jazz mas não eram a mesma coisa. A música de fusão que vinha dos anos setenta, com Weather Report e outros Herbie "Rock it" Hancoks mais uns Marcus Millers e Tony Willimas, deram em Larry Carltons e  Spyrogiras. Ouve-se,  mas é música de fundo de grande superfície comercial e de anúncios.


Em meados da década um programa do Rádio Comercial tinha um indicativo que começava com uma guitarra de doze cordas acústicas a tocar em ritmo acelerado, desaguando em três notas eléctricas com o som fantástico. Não sabia quem era, mas já vinha dos anos setenta. Muito mais tarde soube que era o tema de introdução do disco New Chautauqua, de Pat Metheny, aliás dos anos setenta.
Quando descobri, coleccionei os discos quase todos, desde o primeiro até aos que se lhes seguiram nos anos oitenta e noventa.
Aqui estão os dos oitenta, com destaque para o de 1980, As falls Wichita so Falls Wichita falls, um título fantástico com uma capa que sempre me pareceu fabulosa:


Em 1981 já conhecia Frank Zappa dos discos anteriores, de meados da década de setenta, com destaque para Apostrophe `, Overnite Sensation e One size fits all que acompanhei em tempo real de audição. Os discos mais antigos só com as futuras reedições em cd, nos anos noventa, os ouvi. 
Porém nesse ano de 1981 saiu You are what you is, na sequência da trilogia de Joe´s Garage de 1979 e do anterior, Sheik Yer Bouti que são uma magnífica introdução aos discos da década de oitenta.
You are what you is , disco duploteve edição nacional, da CBS local, uma inovação na época. 
A capa é muito cuidada graficamente, nada ficando a dever à original da Barking Pumpkin e a prensagem também é muito aceitável. 
Foi um dos primeiros discos que comprei e era uma edição de luxo. As letras das canções até vinham num encarte à parte, ao contrário da edição original, com elas impressas nas capas interiores.
Frank Zappa a partir de então ficou como músico preferido da casa. Até hoje. Aqui estão os discos dos oitenta: 



A par disto os anos oitenta nas publicações periódicas também espelhavam a mudança que se operou e para mim não para melhor. 

O NME britânico começou a dar destaque a grupos e músicas que simplesmente não me apetecia ouvir. Afinal tinha ainda tanto que ouvir do passado recente...



A revista Rolling Stone dos anos oitenta também foi modificando aos poucos. Em 1979 ainda tinha capas destas:


Em 1982 já era assim:


Virei-me então para alternativas que foram aparecendo, como esta americana:





E até esta, efémera que tentou revivificar o espírito musical da Rolling Stone original:


Ou esta, inglesa e que marcou graficamente o panorama da época, com um certo Neville Brody:



E até uma alemã que mostrava na capa as novas direcções musicais dos oitenta, com material editorial dos ingleses:


Não é de admirar que tenha começado a apreciar coisas destas e depois a coleccionar os discos, muito passados em programas de rádio da época como o Discoteca, de Adelino Gonçalves, um grande locutor de finais dos oitenta e com esse programa de música de dança, fantástico, no Rádio Comercial.
Um anúncio na Face de Junho de 1982, com o grande Kid Creole e as Coconuts.


As músicas dos oitentas, em resumo, são um infindável rol de musiquinhas que se ouvem bem, numa juke box. 
Foi por isso que gravei muitas dessas músicas, dos programas de rádio da época e são um roteiro desses anos oitenta:



Anos oitenta que no início se me apresentavam assim, apesar de nunca ter aprendido a tocar violino:


As pernas são de Linda Rondstadt, de uma foto dos anos...setenta, na Rolling Stone. Bonitas pernas, por sinal. Mas dos anos setenta...

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