Quem estuda música clássica sabe que houve vários períodos na sua evolução, desde o início do ano mil até à modernidade.
Com o barroco, no séc.XVII e o período clássico, no século seguinte, começou a música que se ouvia nos salões nobres e com o período romântico que se lhe seguiu até ao século XX e à música moderna, foi um longo percurso até chegar à música popular do jazz, rock e folk, de inspiração anglo-americana, com incursões na música de orquestra ligeira.
A música popular que surgiu com os blues, o jazz e a folk foi o cadinho do rock n´ roll dos anos 50 do século XX e a evolução de estilos nas décadas que se lhe seguiram, até hoje.
Quem nasceu na década de cinquenta fatalmente apanhou primeiro os sons dos sessenta e logo a seguir os dos setenta, ainda na juventude e tal marcou para sempre o ouvido interno a quem experimentou e presenciou tal palco sonoro que se ampliou com os media de massas, particularmente a evolução tecnológica da reprodução sonora.
Depois de se ouvir a sonoridade dos discos que se publicaram nos anos sessenta e setenta, em primeira mão e em directo na altura da respectiva divulgação, em vinil, torna-se difícil reconhecer que a música popular posterior, já completamente industrializada e globalmente comercializada no Ocidente, se distingue por uma originalidade que afinal fora ouvida anteriormente, uma vez que as raízes não foram reinventadas.
Tal como na música clássica, houve evolução nos instrumentos usados para produção musical. Os instrumentos de sopro, metais, cordas e percussão ou teclados, podem ser comuns a toda a música, mas na popular do rok n´roll, a guitarra, acústica ou electrificada, é preponderante, tal como a secção rítmica de baixo-bateria e estes instrumentos também foram evoluindo nas décadas de sessenta e setenta. Ritmo é dança e o rock n´roll convida a dançar.
Com a introdução de outros instrumentos, de sopro e teclados, a música popular evoluiu também para outras modalidades para além do rock n´roll e tal apareceu nessas décadas dos sessenta e setenta, com expressão popular de grande dimensão e relevo, com discos que se publicaram e tornaram êxitos de sempre.
Costuma apontar-se os Beatles como sendo os grandes precursores de toda a evolução da música popular nos sessenta, sendo certo que os mesmos se apoiaram nos que os precederam na década anterior.
Em 1990 a revista Rolling Stone dedicou uma série de números a historiar a evolução da música popular, do rock n´roll e rock/pop em geral.
Em 19 de Abril de 1990 publicou o primeiro número, sobre os anos cinquenta, com um pequeno estudo de pendor sociológico, sobre o aparecimento e evolução e alguns exemplos de discos que marcaram a década e influenciaram os vindouros:
Em 23 de Agosto desse ano foi a vez dos Sixties, com uma imagem de John Lennon, de Richard Avedon e do ano de 1967, no tempo do "psicadelismo" estilizado:
Qual a marca da década, na música? Os grandes festivais que concentraram centenas de milhar de jovens em Woodstock e Wight, na Inglaterra. E o fenómeno da ruptura com a década anterior, social mais que musical, com destacada influência de Bob Dylan nesse panorama. E dos Beatles, naturalmente:
Os discos dos anos sessenta eram reflexo de tal onda social e os dos Beatles alinhavam-se uns atrás dos outros, com Rubber Soul e depois Revolver e Sgt. Pepper´s, incluindo ainda A Hard Day´s Night, Help e Abbey Road e até os anteriores, entre os 25 mais relevantes.
Entre os americanos a dupla Simon & Garfunkel. Blood Sweat and Tears, Peter, Paul & Mary, mas também os Monkeys, Elvis Presley, Ray Charles e Janis Joplin, com Cheap Thrills.
Os anos setenta já dominados pelos Led Zeppelin na capa de 20 de Setembro de 1990:
Quanto aos discos, o destaque para os Bee Gees do disco-sound, Fleetwood Mac e Billy Joel, mas também o disco ao vivo de Peter Frampton,
Comes Alive, um mega vendas da ordem dos milhões de exemplares, tal como o Rumours dos Fleetwood Mac que atingiria a soma de várias dezenas ao longo das décadas.
Aparecem os Creedence Clearwater Revival, com
Cosmos´s Factory de 1970, um portento ainda hoje;
Songs in the key of life de Stevie Wonder; Os Eagles, os Chicago, Elton John, Santana, Supertramp, além de outros.
Sobre os anos oitenta, em 15 de Novembro de 1990, a capa era Bruce Springsteen, símbolo americano da década, juntamente com Michael Jackson e Madonna:
A história musical dos oitenta é singela pela irrelevância musical, a meu ver.
Os discos apontados como os 25 melhores são de Michael Jackson, Bruce Springsteen, Prince, Police, U2, Foreigner, Dire Straits e...Phil Collins.
De todos só tenho o dos Dire Straits e o de Michael Jackson, Thriller, aliás o disco mais vendido da história da música popular. E também tenho Tatto You, dos Rolling Stones, mas só por curiosidade e por ser um disco com gravações dos setentas.
Os outros, passo.
E passo porquê? Por um motivo também singelo: poucas ou quase nenhumas músicas dos anos oitenta me dão o mesmo prazer musical que as obras dos artistas das décadas anteriores.
Tal como refere a revista, a década foi dominada pelo robopop, a música originada com o avanço tecnológico nos sintetizadores e outros teclados informatizados, o que permitiu a gravação em digital e ao mesmo tempo a manipulação sonora para além do imaginável.
A música popular atingiu uma perfeição artificial que não me agrada por aí além, porque aprecio mais a perfeição natural dos Creedence Clearwater Revival, apesar de também apreciar Dark side of the moon, dos Pink Floyd, de 1973 e um dos precursores tecnológicos de tal sonoridade.
O disco dos Dire Straits, Brothers in Arms, foi um dos que contribuiu mais para a mudança do analógico vinil para o digital cd, porque assim foi promovido.
Porém, ainda hoje prefiro ouvi-lo em vinil, apesar de saber que foi gravado originalmente num aparelho digital da Sony. Vendeu milhões de exemplares, mas menos do que venderam os discos dos anos setenta, como os dos Eagles, dos Fleetwood Mac ou mesmo do disco-sound dos Bee Gees.
Alguns anos depois, quando se começaram a fazer balanços da música popular os resultados foram reveladores: os maiores discos da música popular pertencem às décadas de sessenta e setenta, de longe.
Assim consideraram as revistas Long Live Vinyl, de 2017 em que numa lista de 500 os primeiros 100 contém apenas 17 discos dos oitentas, sendo o primeiro o de Miachel Jackson em 3º lugar e depois o dos Dire Straits, em 15º lugar.
O primeiro da lista dos 500? Dark side of the moon, de 1973, dos Pink Floyd e o segundo Sgt. Peppers dos Beatles.
A Rolling Stone de 27 de Agosto de 1987 colocava em primeiro lugar Sgt Pepper´s dos Beatles e só em 20º lugar aparecia o disco de Prince, Dirty Mind, de 1980. Depois, em 28º Bruce Springsteen de Born to run, de 1984 e em 34º outra vez Prince de Purple Rain. O resto, tudo das décadas anteriores.
Em 9 de Dezembro de 2004 a mesma revista publicava uma lista com as melhores canções de sempre, após uma votação de especialistas na matéria:
O ganhador foi a figura dos anos sessenta, Bob Dylan, com uma canção de Julho de 1965:
Dos anos oitenta, há meia dúzia de canções, com destaque para
Smells like teen spirit dos Nirvana, de 1991, em 9º lugar; Michael Jackson, com
Billy Jean, de 1983, em 58º lugar e uma dos Police,
Every Breath you take, de 1983, em 84º lugar.
Quanto aos ingleses a Uncut de Fevereiro de 2020 elencou o que entendia como os 200 maiores discos lp de sempre.
O primeiro é Pet Sounds de 1966, dos Beach Boys, seguido de Revolver dos Beatles, do mesmo ano e Astral Weeks, de 1968 de Van Morrison.
Nos primeiros 25 lugares, os discos dos anos oitenta que aparecem são The Queen os dead, dos Smiths, de 1986, em 8º; Public Enemy, It takes a nation, de 1988, em 22º lugar e Kate Bush com Hounds of love, de 1985, em 25º lugar.
Aliás, entre os colaboradores da revista contam-se pelos dedos de uma mão, entre dezenas deles, os que escolhem discos das décadas de oitenta ou posteriores...
Dito isto, há música para além dos sessentas e setentas, claro que há. Só que é menos e inferior àquela...
Sem comentários:
Enviar um comentário