quinta-feira, fevereiro 23, 2023

Jornalismo: a técnica de engolir Sapos

 No SAPO24, com assinatura de uma jornalista- Alexandra Nunes, jovem licenciada pela certa, em Comunicação Social ou similar-  continua-se uma cruzada contra os "sectores conservadores da Igreja" que questionam alguns métodos e conclusões do Relatório da Comissão Independente que investigou os abusos sexuais de menores nas instituições da Igreja Católica.

  No sítio escreve-se "abusos sexuais contra as crianças na Igreja Católica", o que é equívoco e devia ser mudado tal título, sob pena de o relatório ser muito, muito incompleto e parcial. Igreja Católica o que é, afinal? Diz na wikipedia que é a maior igreja cristã e que em Portugal tem mais de 7 milhões de fiéis. Foram todos investigados, mesmo potencialmente? Aprendi em jovem que Igreja, neste sentido somos todos os que a ela pertencem. 

Mais não fora, poderia ter pedido opinião a quem deve saber um pouco mais e assim definiu:

Igreja é a tradução de uma palavra grega – ekklesia – que significa assembleia convocada. A Igreja, portanto, é a assembleia dos povos de todo o mundo, convocada por Deus, como tinha sido convocado o primeiro Israel.
(...)
A Igreja, como povo de Deus é um organismo, constituído por homens e vivificado por um princípio vital, como acontece com os demais seres vivos que conhecemos, princípio que é o Espírito divino. Por isso, também se diz que a Igreja é o corpo místico de Cristo, de que Ele é a cabeço e nós os seus membros.

O tom e o som deste jornalismo é o mesmo, sempre redigido em modo manhoso e de forma a imputar em modo implícito a ilegitimidade de qualquer crítica ao aludido relatório que estes jornalistas tomam como a suprema expressão de uma verdade indiscutível, negando-se a si mesmos o papel primordial de um jornalista: procurar a verdade dos factos, percebendo o assunto em causa e escrevendo em modo isento, deixando as conclusões para o leitor. 

Para tal é essencial ouvir pessoas que possam ter opiniões diversas e racionalizar as questões que se podem colocar. 

Tal como referido por Daniel Sampaio, o método de investigação foi este, essencialmente:

"A divulgação pública de relatos das vítimas foi muito bem ponderada pela Comissão Independente (CI)", começa por dizer o psiquiatra Daniel Sampaio ao SAPO24. "Desde o início do nosso trabalho, e de acordo com o nosso lema Dar voz ao silêncio, pretendemos ouvir as vítimas de abuso sexual na Igreja Católica portuguesa. Para isso construímos um questionário online e uma linha telefónica, disponíveis para quem quisesse testemunhar o seu abuso. Assim se obtiveram centenas de testemunhos no inquérito, para além da escuta das vítimas que o quiseram fazer presencialmente, mas a quem nunca foi pedida a identificação", explica.

Neste caso concreto não há qualquer trabalho nesse sentido, de perceber a especial delicadeza da análise da verdade dos depoimentos, e nem se questiona sequer o método. 

Desde logo a partir dos títulos dos artigos, passando pelo conteúdo manhoso que procura sempre verter uma opinião de sentido único, a ideia é que foi um método perfeito e adequado aos resultados obtidos, sem mais. E a opinião que pode não coincidir com a do jornalista é obliterada, amarfanhada na confusão de argumentos e manipulada contra quem a emite, tendo subjacente uma censura objectiva e uma hostilidade latente a quem pensa de modo diverso. O contrário do jornalismo e uma ofensa à deontologia e ética profissionais que passa impune porque quem manda cala, consente e promove. Caso contrário, deixaria de mandar. 


Este caso traz à colação inevitavelmente o da Casa Pia em que os métodos jornalísticos foram outros, as manipulações foram demasiado evidentes, as obliterações e notícias de outro teor e o jornalismo mostrou para que serve: servir o dono, acima de tudo, mesmo que seja apenas ideológico. 

No processo Casa Pia o depoimento das testemunhas, "alegadas vítimas", como então se escrevia,  foi imediata e permanentemente desvalorizado, sempre questionado e destacaram-se neste processo de algum modo kafkiano, alguns órgãos de informação, como o nefando 24H do famigerado Pedro Tadeu, comunista reciclado na manipulação mediática e ideológica. 

Praticamente até à condenação dos acusados, alegadamente em número e espécie muito abaixo do real entrevisto nas declarações das "alegadas vítimas", por força das regras processuais penais, todo o esforço dos imputados e putativos suspeitos, assentou numa estratégia de sentido único: desvalorizar e desacreditar as testemunhas "alegadas vítimas". 
Tal foi notório numa declaração famosa aqui citada em 12.6.2018, a propósito dos casos de abuso sexual de menores:

Uma coisa é certa: há inúmeros casos, actualmente, de condenações por abuso sexual de menores cuja prova assenta exclusivamente no depoimento das vítimas  e na credibilidade que merecem pela ausência de obstáculos relevantes a tal credibilidade, incluindo por isso perícia psicológica que também a possa atestar.
Não por acaso, o antigo presidente da AR e sombra do regime, Almeida Santos dizia na altura que " as crianças podem mentir". Pois podem...e deu muito jeito  supor tal facto, não aceitando o contrário que é o de as crianças poderem mesmo estar a dizer a verdade.


No caso concreto dos abusos sexuais de menores nas instituições da Igreja Católica não se colocou sequer a dúvida sobre os depoimentos das vítimas, nem se qualificaram estas como "alegadas", nem sequer houve tergiversação da parte de quem investigou, mormente o psiquiatra Danial Sampaio que diga-se em abono da verdade, acredita sempre nos depoimentos de tais vítimas, principalmente os iniciais, como disse aqui, em Fevereiro de 2013:

"Existem sempre contradições em situações complexas. Eu acredito totalmente nos primeiros testemunhos. E não esquecerei que houve muitas crianças abusadas em local da responsabilidade do Estado e onde deveriam estar em segurança.".

Ora quem esteve sempre em cargos de especial melindre em que estas situações podem ocorrer, tem o dever de agir, até de denunciar, ao contrários dos clérigos da Igreja Católica em muitas dessas situações 
Por exemplo, o presidente da CI ( Coordenador, pronto, que agora é só coordenadores...), Pedro Strecht, médico, prestou serviço durante muitos anos em instituições nas quais de certeza se falou nestes casos, até porque os mesmos não eram mistério desconhecido para tais pessoas. 
Pedro Strecht, sendo presidente da CI tem obrigação de saber isto, tanto mais que não se coibiu de apontar o dedo aos clérigos que ocultaram, alguns durante anos, os abusos ocorridos, não os denunciando.

Então talvez seja altura de questionar o próprio Pedro Strecht se de facto, durante os anos em que esteve em instituições ligadas a criancas, nunca ouviu falar nestes problemas e se alguma vez denunciou algum caso de que tivesse conhecimento e já agora porquê.
Segundo se lê, esteve desde os anos noventa, como médito, no Centro de Estudos Dr. João dos Santos - "Casa da Praia" e da Cooperativa "A Torre". Também aí se escreve que o Pedopsiquiatra nascido em 1966, Pedro Strecht é médico especializado de Psiquiatria da Infância e da Adolescência e tem como preocupações primordiais a criança e suas perturbações.

Então deve ter lido isto ou até sabido disto e muito mais que foi notícia nos anos oitenta: 


A questão não é despicienda de todo uma vez que na altura do processo Casa Pia, alguns meios de (des)informação acerca do caso , mormente um famigerado Repórter X, questionaram abertamente o profissionalismo do pedopsiquiatra que, diga-se em abono da verdade, numa tergiversou nesse caso concreto e por isso foi alvo da atenção daqueloutros, deste modo:


Em relação a Pedro Strecht a questão tem a ver simplesmente com o seguinte: como compagina um eventual comportamento seu, no sentido indicado, com a crítica aos bispos da Igreja Católica, actualmente? 
É simples de responder e talvez ajude a perceber o essencial: quem questiona os métodos da CI tem toda a legitimidade para o fazer porque a verdade não é apenas o que interessa em determinado momento proclamar, mas sim toda a verdade que se pode perceber, com o seu contexto e explicação cabal. 





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