sexta-feira, março 31, 2023

José Duarte, um jazo antifassista

 Público de hoje, o obituário de José Duarte, um "divulgador" da música jazz desde os anos sessenta, no rádio e noutros sítios. 



No Público é apresentado como um dos maiores divulgadores do género musical, a par de um Luiz Villas-Boas e tal é verdadeiro. Contudo nem por isso o universo nacional dos apreciadores de jazz se alargou tanto assim, apesar do proselitismo radiofónico do dito, durante décadas. 

Quem ouviu rádio nos anos setenta e depois disso, ouviu certamente um pequeno programa que começava com umas saxofonadas breves e um ritmo bop para se anunciar como "5 minutos de jazz" e durante esse breve período de tempo eram apresentados pequenos apontamentos jazzísticos escolhidos pelo autor do programa, um certo José Duarte, agora falecido. 

Por mim, passei por lá muitas vezes, sem me seduzir por aí além, pelas sonoridades sopradas em instrumentos metálicos ou marteladas nas teclas pianísticas, acompanhadas pelo som profundo dos baixos acústicos, tocados em pé. 

Ao contrário de muitos apreciadores de música vindos dos anos cinquenta, o jazz nunca foi música prioritária, para mim e nenhum José Duarte ou Villas Boas conseguiram desviar-me do gosto principal pelo rock e música clássica. 

Não obstante, no início dos anos setenta, sob o impulso de outros divulgadores, como o tal Villas-Boas começaram a realizar-se festivais da modalidade, em Cascais, como se explicava num número de 20 de Novembro de 1973 na revista Cinéfilo, numa entrevista àquele. 

Tais festivais atraíam muito público jovem que apreciava o rock e poucas oportunidades tinham para ouvir grupos estrangeiros ao vivo, uma vez que os cachets eram caríssimos para o tempo de então e o público nacional relativamente reduzido. Por esse razão os Beatles nunca puseram cá os pés e os jazzmen eram mais em conta, apesar de alguns serem músicos de eleição. 

Como se conta aqui, no primeiro festival de jazz de Cascais, em Novembro de 1971, o mesmo ano do festival de Vilar de Mouros, compareceu um naipe de músicos excepcional:

O quarteto de Ornette Coleman (com Charlie Haden, Ed Blackwell e Dewey Redman), o Jazz eléctrico de Miles Davis (em septeto com Keith Jarrett e Gary Bartz), Joe Turner e Dexter Gordon, Phil Woods And His European Rhythm Machine (Gordon Beck, Ron Mathewson e Daniel Humair), os Giants Of Jazz (com Dizzy Gillespie, Thelonious Monk, Sonny Stitt, Kai Winding, Al Mckibbon e Art Blakey) e ainda um quarteto nacional, “The Bridge”, composto da vedeta Kevin Hoidale nos teclados, o contrabaixista Jean Sarbib, um tal de Adrien Ransy na bateria e um saxofonista que dava pelo nome de João Ramos Jorge, que mais tarde adoptaria o nome por que ainda hoje é conhecido, Rão Kyao.

Claro que um critpo-comunista como Charlie Haden tinha que dar um ar de sua graça totalitária e dedicou algo, numa canção de louvor ao grande herói Che Guevara, um assassino notório,  aos "movimentos de libertação", em Angola, Guiné e Moçambique, quando tais movimentos eram pura e simplesmente apodados de terroristas, por cá. Foi recambiado, claro, depois de passar uma noite abrigado e a reflectir no infortúnio da propaganda política em prol do comunismo, numa terra que não o queria por cá.   

Aliás, se algum artista de variedades mesmo jazzísticas, hoje em dia, se atrevesse a dar loas ao fascismo puro e duro, o resultado seria o mesmo. Hoje em dia...não em 1971. E como se sabe agora o fascismo e o comunismo foram considerados pela União Europeia, como irmãos siameses, mais que gémeos! Eppure, continua a ser muito chique alguém se proclame comunista. Como era o tal José Duarte, segundo se presume. 

Os divulgadores de jazz em Portugal, incluindo o tal José Duarte eram "de esquerda", como diz o Público. Ou seja, comunistas porque José Duarte até apareceu alguns dias depois de 25 de Abril de 1974 a fazer as honras da casa ( TAP, já nessa altura), quando chegou a Portugal um dos seus heróis. A foto comprova-o e mostra-o a indicar o caminho para o socialismo ao mentor do programa: para a frente e sempre a descer em direcção a abismo económico! Tal como aconteceu. 

A foto foi copiada de um sítio cuja origem não anotei e não me lembro de onde. 

Não obstante, na revista Cinéfilo dava-se conta do que fora o panorama do jazz em Portugal nas décadas que antecederam aquela. 










Como se lê, fala-se nos dois clubes de jazz de Lisboa, um deles o Hot Clube, um sítio para associados e de elite jazzística que vinha dos anos quarenta e cinquenta:



Quanto ao falecido José Duarte, não se ficava só pelos trinados bop, bebop e lulas a acompanhar.  Nos anos oitenta, em parceria com um grupo selecto de intelectuais mediáticos lisboetas, dirigiu uma revista que dava forma gráfica a outro programa de rádio, chamado Pão com Manteiga, onde abundavam e predominavam as piadas com trocadalhos do carilho. 
Esta:

 


Este grupo de intelectualóides mediáticos dominou o panorama televisivo e radiofónico durante décadas, vindos de um tempo anterior a 25 de Abril de 1974, com personagens emblemáticas como o conhecido Carlos Cruz.
Todos de esquerda, antifassistas de sempre, como convinha e assim se impuseram, mediaticamente durante os tempos que se seguiram ao 25 de Abril. 
A eles se deve em boa parte o panorama actual dos media nacionais e do jornalismo que há, formado nas madrassas existentes, ocupadas por tais aiatolas.  
Basta ler os nomes para o perceber. Porém, a história destas pessoas e da influência determinante que tiveram no panorama cultural e popular em Portugal está por fazer. 
E merecia um estudo avançado...o que aliás tenho tentado por aqui, ao longo dos postais deste blog contribuir, para que todos saibam como foi para se ficar a saber como é. 

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O Público activista e relapso