segunda-feira, março 13, 2023

Cinefilias de há 50 anos

 Em 4 de Outubro de 1973 saiu esta revista dedicada a artes em geral, cinema, teatro, etc. Semanal e com um naipe de redactores capitaneados por Fernando Lopes e António-Pedro Vasconcelos, ambos cineastas e contra o regime vigente. A revista, aliás, era um cóio da oposição ao regime, com vários comunistas encapotados na redacção. 

Tal determinou que nem um mês depois do 25 de Abril de 1974 tudo acabasse à "batatada" redactorial, entre a esquerda do PCP e a extrema-esquerda que era contra o PCP.  Tal como a revista Rádio & televisão que acabou na mesma altura e pelos mesmíssimos motivos. A Cinéfilo durou 37 números. 

O primeiro e o último:



As explicações eram para fazer de conta...


Durante o tempo que durou, a revista dedicou vários números ao cinema, com destaque para o que era preferido pelos seus redactores. 
Em 3.1.1974, Bergman teve direito a vários artigos que se estenderam por outros números. Fiquei então com a impressão que Bergman seria o maior cineasta do mundo, daquele mundo:


Em 17.1.1974:



Em 17.2.1974, um estudo sobre Renoir:




E 20.4.1974, um artigo sobre Robert Bresson:


 

A revista ofereceu um visionamento do filme, em conjunto com um filme português, aos assinantes:


Tudo isto era acompanhado de artigos sobre estética, como este, de Rosselini, de 1963, extraído do livro Teroia e prasi del cinema in Italia 1950-1970, publicado na edição de 17.1.1974:



 
Em 9 de Março de 1974 a revista publicava este anúncio sobre os filmes concorrentes aos óscares desse ano:

Seja como for, os filmes que se viam eram estes. Os outros eram publicitados e passados em cine-clubes. Que eram muitos, aliás...tal como mostra um artigo da revista de 1 de Junho de 1974


Portanto, os filmes de "culto", aqueles que os realizadores gostavam, não os cheguei a ver.  A televisão por vezes passava tais filmes, particularmente quando aquele Fernando Lopes foi director do Canal 2, já nos anos oitenta.  

Julgo que vale a pena ver tais filmes, mesmo na televisão. 
Tal como já referido por aqui, aquando da morte de Godard, outro dos cineastas referidos, os filmes desses autores eram "difíceis", incluindo o mais difícil de todos, o do Bresson...




Porque é que estes filmes eram "difíceis" ? Ora, porque não eram populares e tinham veia intelectual. 

A primeira vez que tive contacto com informação a propósito deste tipo de cinematografia foi num almanaque de O Século, de 1968 que comprei em Outubro de 1969. O Século era quem editava tal publicação, bem como o Cinéfilo.  
Os almanaques eram então para mim uma fonte privilegiada de informação variada sobre muitos assuntos, incluindo cinema e lá aparecia uma pequena história do cinema que desde 1942 até 1965 era contada assim, no artigo composto por referência a bibliografia também indicada ( ao contrário de hoje que se copia desalmadamente sem dizer de onde...)










O pequeno arranjo pictórico suplementar é obra das minhas irmãs, pequenitas na altura...aliás repetido noutras revistas e que só mais tarde dei por isso. 

Quanto ao caso particular da revista R&T, vale a pena lembrar como foi. Vinha no número de 1 de Junho de 1974:


O contexto: 



E o caso...com a intervenção de Jaime Gama, um "oficial miliciano requisitado para chefiar os serviços de noticiários da E.N.": 






E assim acabou uma revista que já ia no XVIII ano de publicação...então propriedade da Radioprel e redigida na rua Luz Soriano, 67, impressa na Sociedade Industrial de Imprensa, SARL. 

Sem comentários: