quarta-feira, novembro 15, 2023

O mistério do hífen que separa judeus e cristãos

 Em 2015, o escritor francês Michel Onfray publicou a obra Décadence, subt-intitulado em português O declínio do Ocidente e em francês  original, "Vie et Mort du judeo-christianisme". 

O leit-motiv do livro de quase 600 página é o conceito "judaico-cristão", associado a "Ocidente", para o desconstruir e demolir, particularmente na vertente cristã. Por isso as referências a tal expressão ao longo do livro são múltiplas. 

As primeiras páginas estão repletas de alusões à expressão, incluindo a da "civilização judaico-cristã" e a aversão do autor ao cristianismo encontra o cume no desprezo que nutre pela figura do apóstolo Saulo-Paulo, o judeu convertido,  co-criador de uma Igreja que o autor inventa como sendo essencialmente nevrótica. 










Em Abril de 2017 a revista francesa Le Magazine Littéraire, em número especial analisou o assunto, particularmente o livro de Onfray, demolindo-o completamente e apodando o autor de nevropata e de alguém que escreveu um livro em que pouco ou nada se aproveita, com uma erudição de bazar à la sub-wikipedia... 



Não obstante, a capa tem a expressão maldita e alguns artigos assinados colocam os pontos nos ii sobre o significado e importância da mesma, enfatizando particularmente o seu aspecto incoerente e as suas contradições, apontando um significado mais político que cultural, nascido no seio do protestantismo alemão, no séc. XIX, através do teólogo e biblista Ferdinand Christian Baur e desenvolvendo-se ao longo do séc. XX por razões políticas e não só. Nos anos sessenta é a Igreja Católica quem repescou o conceito, procurando encontrar na declaração Nostra Aetate, "o grande património espiritual comum aos cristãos e judeus". 
Tudo isto se pode ler nos recortes seguintes que permitem uma síntese que me interessa, nesse aspecto: a expressão tem um sentido que também congrega uma visão do ser humano e da condição humana, como escreve François Taillandier porque consigna um dos grandes pensamentos da aurora da humanidade,  através do mito de Adão e Eva e da Queda, contado na Bíblia. 
E isso sem prejuízo do resto- que é muito- acerca da polémica expressão, inventada, segundo alguns, contra a própria história e que seria mais adequada se a expressão contivesse outros hifens, incluindo palavras como "árabe" ou "greco" e "latina". 
Portanto, as razíes europeias e do Ocidente são múltiplas e não se confinam ao universo judaico-cristão, isso parece certo. 
Mas, particularmente subsiste a importância daquelas duas, separadas pelo hífen...porque assim se apresentou nos últimos cem anos e não é desprovida de todo e qualquer senso. 



















Sem comentários:

O Público activista e relapso