Há quinze anos que Berlusconi, de 73 anos, ocupa a ribalta da cena política italiana.
O jornal La Repubblica de ontem, trazia uma notícia sobre suspeitas de conluio com a Mafia, na altura da formação da Forza Italia, em 1984, pouco tempo depois da morte dos dois mais célebres juizes anti-mafia, Falcone e Borselino. Depoimentos de arrependidos dão conta de estranhas coincidências de pactos entre políticos e mafiosos nesse tempo em que nasceu a Forza Italia que ganhou eleições a seguir.
Seja como for, Berlusconi, encontra-se encostado a uma parede, empurrado por alguns...jornais, com destaque para o La Repubblica.
De há vários meses a esta parte, o jornal pertença de um dos poucos grupos de media que Berlusconi não domina ( toda a rede de tv é dele, em quase 90% e os jornais, na esmagadora maioria, pertencem a grupos que o mesmo domina), tem noticiado de modo intensivo e em reportagens obstinadas que nenhum Sol, Público ou TVI se atreveram a fazer neste país em relação a um primeiro-ministro.
Mais: o jornal italiano pegou na história de vida privada do "cavaliere" primeiro ministro e fustiga-o todos os dias com notícias de arrasar sobre os seus vícios privados e fraquezas públicas que qualifica de "satyriasis" senil. A acusação repetida e repescada tem a ver com a frequência de jovenzitas e prostitutas, para satisfação das necessidades sexuais de sua emittenza. Reportagens fotográficas, das villas do cavaliere, em Roma, Porto Cervo ou Milão que conduziram a mulher de Berlusconi a pedir publicamente o divórcio e até a que uma filha vituperasse publicamente o comportamento do pai, ao mesmo tempo que admitia que os comportamentos privados de figuras públicas, evidentemente se tornam públicos. Lógico e de senso comum.
Para agravar o panorama, Berlusconi meteu-se com a Igreja Católica, através de um jornal que lhe pertence. Il Giornale publicou um relato anónimo encalacrando o director do jornal católico LAvvenire, acusando-o de homosexualidade e ao mesmo tempo traição conjugal. O director, foi obrigado a demitir-se e ficou entornado o caldo na Igreja de Roma, com possíveis reflexos eleitorais.
A cereja no topo do bolo dos escândalos foi colocada por uma jovem aspirante a actriz, Noemia Letizia que chamava Papi a Berlusconi, a quem o verdadeiro pai apresentou e que participou numa festa de aniversário dos seus 18 anos, em situação pouco recomenável e que permitiu à mulher de Berlusconi denunciar a companhia deste com menores...
Além disto, pelo menos duas "acompanhantes de luxo" já se pronunciaram sobre a participação em festas privadas com pormenores picantes. O último conhecido é a existência de uma gravação entre duas ministras de Berlusconi. Mara Carfagna, antiga miss e Maria Stella Gelmini, trocaram conselhos que ficaram gravados, sobre a melhor maneira de satisfazer Berlusconi...mas em assuntos íntimos e fora do governo. A gravação ainda não foi tornada pública mas o Nouvel Observateur ( de 3-9 Setembro 2009) escreve que poderá vir a sê-lo.
Tudo isto tem sido noticiado com fotos captadas por papparazzi ( Zappadu que tirou fotos de acompanhantes em trajes menores na villa Certosa, de Berlusconi, na Sardenha) e revelações que já correram mundo.
Em Espanha o El Pais da Prisa, pegou no assunto e tem-no glosado até à exaustão. Em Inglaterra, o Guardian idem. Em França, o Nouvel Observateur, aussi. E até a Time já se interessou pelo assunto.
Em Portugal ninguém parece ligar muito. E muito menos ao facto de Berlusconi ter já processado meio mundo da imprensa italiana hostil e , claro, o Nouvel Observateur e o El Pais da Prisa que por cá se diverte a censurar o programa da TVI de notícias desagradáveis para o primeiro-ministro local e nem sequer são de natureza privada ou íntima. Vergonha da Prisa? Nenhuma. O antigo jornalista Cebrián não tem disso para mostra a ninguém.
Por causa de tudo isto e mais outras coisas, o La Repubblica tem publicado diariamente uma série de dez perguntas dirigidas a Berlusconi.
As primeira começam assim: Quando teve oportunidade de conhecer Nomei Letizia? Quantas vezes teve oportunidade de a encontrar e onde? Frequentou ou frequenta outras menores?
E ainda outra: qual a razão que o obrigou a não dizer a verdade durante quatro meses fornecendo quatro versões diferentes para o conhecimento de Noemi?
E segue por ali fora, num requisitório que em Portugal seria entendido por uma grave ingerência na vida privada de um político e um autêntico jornalismo de "sarjeta" por entrar na intimidade irredutível de um político.
Isto faz lembrar o quê, afinal? As notícias sobre a licenciatura do primeiro-ministro? Sobre as suspeitas que incidem em seus familiares directos, no caso Freeport? No caso Cova da Beira?
Pode fazer lembrar tudo isso e ainda mais: tal como Berlusconi, em Itália, também José S. negou e negou e accionou judicialmente os que escreveram mal dele, sobre esses assuntos.
José S, aqui em Portugal, com a conivência passiva da opinião pública que não é informada, conseguiu o que Berlusconi, com o seu imenso poder, não tem conseguido em Itália: calar a voz da imprensa livre, pelo menos de alguma e evitar que falem mal dele nesses aspectos que são uma verdadeira chatice. O modo como comentou com Louçã o episódio, captado pelos microfones da TVI, é exemplar da desfaçatez de um primeiro-ministro sem ponta de vergonha.
Por cá, a conclusão é evidente: não há imprensa livre, como em Itália.
Em Itália, tal como em Portugal, o primeiro-ministro Berlusconi, tem armado em vítima de cabalas e desinformação e tem processado a imprensa que o incomoda, pedindo milhões para amedrontar. Isso apesar de deter mais de 90% da tv e de uma parte importante de toda a imprensa de grande circulação que obviamente não publicam uma linha sobre o assunto.
Seria talvez caso para aconselhar Berlusconi a perguntar a José S. como faz aqui, em Portugal para evitar essas cabalas. Pedir conselhos à Prisa pode valer a pena, mas não adianta porque a Prisa é a TVI espanhola, para o italiano, e que este aliás processou por esse motivo.
Em relação aos italianos, Umberto Eco disse num artigo no L´Espresso, repescado pelo Guardian de Londres que a culpa era mesmo dos italianos que aceitam Berlusconi e votam nele. " Se a sociedade italiana permitiu a Berlusconi governar com todos os conflitos de interesses e de todo o seu comportamento controverso, porquê atirarem-se a ele em vez de à sociedade?"
Boa pergunta, de facto.
E em Portugal como é?
O jornal La Repubblica de ontem, trazia uma notícia sobre suspeitas de conluio com a Mafia, na altura da formação da Forza Italia, em 1984, pouco tempo depois da morte dos dois mais célebres juizes anti-mafia, Falcone e Borselino. Depoimentos de arrependidos dão conta de estranhas coincidências de pactos entre políticos e mafiosos nesse tempo em que nasceu a Forza Italia que ganhou eleições a seguir.
Seja como for, Berlusconi, encontra-se encostado a uma parede, empurrado por alguns...jornais, com destaque para o La Repubblica.
De há vários meses a esta parte, o jornal pertença de um dos poucos grupos de media que Berlusconi não domina ( toda a rede de tv é dele, em quase 90% e os jornais, na esmagadora maioria, pertencem a grupos que o mesmo domina), tem noticiado de modo intensivo e em reportagens obstinadas que nenhum Sol, Público ou TVI se atreveram a fazer neste país em relação a um primeiro-ministro.
Mais: o jornal italiano pegou na história de vida privada do "cavaliere" primeiro ministro e fustiga-o todos os dias com notícias de arrasar sobre os seus vícios privados e fraquezas públicas que qualifica de "satyriasis" senil. A acusação repetida e repescada tem a ver com a frequência de jovenzitas e prostitutas, para satisfação das necessidades sexuais de sua emittenza. Reportagens fotográficas, das villas do cavaliere, em Roma, Porto Cervo ou Milão que conduziram a mulher de Berlusconi a pedir publicamente o divórcio e até a que uma filha vituperasse publicamente o comportamento do pai, ao mesmo tempo que admitia que os comportamentos privados de figuras públicas, evidentemente se tornam públicos. Lógico e de senso comum.
Para agravar o panorama, Berlusconi meteu-se com a Igreja Católica, através de um jornal que lhe pertence. Il Giornale publicou um relato anónimo encalacrando o director do jornal católico LAvvenire, acusando-o de homosexualidade e ao mesmo tempo traição conjugal. O director, foi obrigado a demitir-se e ficou entornado o caldo na Igreja de Roma, com possíveis reflexos eleitorais.
A cereja no topo do bolo dos escândalos foi colocada por uma jovem aspirante a actriz, Noemia Letizia que chamava Papi a Berlusconi, a quem o verdadeiro pai apresentou e que participou numa festa de aniversário dos seus 18 anos, em situação pouco recomenável e que permitiu à mulher de Berlusconi denunciar a companhia deste com menores...
Além disto, pelo menos duas "acompanhantes de luxo" já se pronunciaram sobre a participação em festas privadas com pormenores picantes. O último conhecido é a existência de uma gravação entre duas ministras de Berlusconi. Mara Carfagna, antiga miss e Maria Stella Gelmini, trocaram conselhos que ficaram gravados, sobre a melhor maneira de satisfazer Berlusconi...mas em assuntos íntimos e fora do governo. A gravação ainda não foi tornada pública mas o Nouvel Observateur ( de 3-9 Setembro 2009) escreve que poderá vir a sê-lo.
Tudo isto tem sido noticiado com fotos captadas por papparazzi ( Zappadu que tirou fotos de acompanhantes em trajes menores na villa Certosa, de Berlusconi, na Sardenha) e revelações que já correram mundo.
Em Espanha o El Pais da Prisa, pegou no assunto e tem-no glosado até à exaustão. Em Inglaterra, o Guardian idem. Em França, o Nouvel Observateur, aussi. E até a Time já se interessou pelo assunto.
Em Portugal ninguém parece ligar muito. E muito menos ao facto de Berlusconi ter já processado meio mundo da imprensa italiana hostil e , claro, o Nouvel Observateur e o El Pais da Prisa que por cá se diverte a censurar o programa da TVI de notícias desagradáveis para o primeiro-ministro local e nem sequer são de natureza privada ou íntima. Vergonha da Prisa? Nenhuma. O antigo jornalista Cebrián não tem disso para mostra a ninguém.
Por causa de tudo isto e mais outras coisas, o La Repubblica tem publicado diariamente uma série de dez perguntas dirigidas a Berlusconi.
As primeira começam assim: Quando teve oportunidade de conhecer Nomei Letizia? Quantas vezes teve oportunidade de a encontrar e onde? Frequentou ou frequenta outras menores?
E ainda outra: qual a razão que o obrigou a não dizer a verdade durante quatro meses fornecendo quatro versões diferentes para o conhecimento de Noemi?
E segue por ali fora, num requisitório que em Portugal seria entendido por uma grave ingerência na vida privada de um político e um autêntico jornalismo de "sarjeta" por entrar na intimidade irredutível de um político.
Isto faz lembrar o quê, afinal? As notícias sobre a licenciatura do primeiro-ministro? Sobre as suspeitas que incidem em seus familiares directos, no caso Freeport? No caso Cova da Beira?
Pode fazer lembrar tudo isso e ainda mais: tal como Berlusconi, em Itália, também José S. negou e negou e accionou judicialmente os que escreveram mal dele, sobre esses assuntos.
José S, aqui em Portugal, com a conivência passiva da opinião pública que não é informada, conseguiu o que Berlusconi, com o seu imenso poder, não tem conseguido em Itália: calar a voz da imprensa livre, pelo menos de alguma e evitar que falem mal dele nesses aspectos que são uma verdadeira chatice. O modo como comentou com Louçã o episódio, captado pelos microfones da TVI, é exemplar da desfaçatez de um primeiro-ministro sem ponta de vergonha.
Por cá, a conclusão é evidente: não há imprensa livre, como em Itália.
Em Itália, tal como em Portugal, o primeiro-ministro Berlusconi, tem armado em vítima de cabalas e desinformação e tem processado a imprensa que o incomoda, pedindo milhões para amedrontar. Isso apesar de deter mais de 90% da tv e de uma parte importante de toda a imprensa de grande circulação que obviamente não publicam uma linha sobre o assunto.
Seria talvez caso para aconselhar Berlusconi a perguntar a José S. como faz aqui, em Portugal para evitar essas cabalas. Pedir conselhos à Prisa pode valer a pena, mas não adianta porque a Prisa é a TVI espanhola, para o italiano, e que este aliás processou por esse motivo.
Em relação aos italianos, Umberto Eco disse num artigo no L´Espresso, repescado pelo Guardian de Londres que a culpa era mesmo dos italianos que aceitam Berlusconi e votam nele. " Se a sociedade italiana permitiu a Berlusconi governar com todos os conflitos de interesses e de todo o seu comportamento controverso, porquê atirarem-se a ele em vez de à sociedade?"
Boa pergunta, de facto.
E em Portugal como é?