Sobre telefonemas de ministros a redactores de jornais,
sobre assuntos públicos e que lhes interessam há muito por onde escolher.
O Público de hoje conta na última página a sua história
sobre as “pressões” que o ministro Relvas, um governante que antes de o ser já
o era porque filtrou praticamente todas as
nomeações de gente para cargos importantes no novo governo, efectuou
sobre uma jornalista daquele diário. Maria José Oliveira cujos artigos aprecio
ler ( apesar da direcção do jornal ser o que é) foi directamente ameaçada por aquele ministro por causa de insistências
em perguntas acerca dos seu papel no caso do director do SIED, o pobre Carvalho
( o Expresso conta hoje que foi fazer queixa de lhe surripiarem informações do
seu computador, entregou-o voluntariamente ao MºPº como prova, depois de ter
apagado dados com um método que se revelou tão eficaz que um militar aposentado
recuperou quase todos os dados apagados e agora se vê na contingência de ser acusado de simular um
crime).
As ameaças recebidas assumem gravidade num aspecto:
revelação na Internet de “dados da vida privada da jornalista”. Se tal se
revelar verdadeiro, o que duvido porque a notícia do Público pode ter sido
apimentada retirando do contexto a tal ameaça que pode muito bem ter sido uma
menção a outros factos que não se contam, será grave a ameaça porque revela
duas ou três coisas inadmissíveis seja a quem for e muito menos num governante
com o poder que Relvas tem: a primeira,
no sentido de o mesmo ter dados sobre a vida privada da jornalista. Se tem deve
explicar como os obteve. Se tem da jornalista pode ter de muitas outras
pessoas.
Se os colecciona como o pobre Carvalho o faria, apenas tem
de mal o fetiche em si que é bizarro e afronta a honra de um governante com
tanto poder. Mas não sendo ilegal é apenas vergonhoso ou infantil. Se colecciona dados pessoais de outros
cidadãos para deleite pessoal é esquisito mas quem colecciona selos também o
faz com o mesmo propósito de gozo
individual.
Se os usa, então isso é fatal para o exercício de cargos
públicos. É preciso apurar tal facto mas
não vejo como.
Outra coisa é a de um governante se dar ao trabalho de
telefonar para jornalistas no sentido de tentar condicionar a informação. É
certo que a cretinice ambiente em certas redacções ( com destaque para a do
Expresso, cujos telefonemas recebidos nunca serão notícia) justificará a
irritação de quem governa ao ler coisas que atentam contra a verdade
corriqueira ou a exploração abusiva de tendências de “malhar” em certos temas e
pessoas. Mas telefonar para mandar recados que condicionam notícias é coisa que
se julgava já ultrapassada.
No tempo de José Sócrates, cujo estilo governativo assentou
em coisas destas de doutras que o jornalismo caseiro não quis investigar ( por
exemplo, o caso da ida ao bijan em Los Angeles, onde deixou a marca de água do
seu nome na montra do estabelecimento nunca foi notícia para o Público e deveria
porque resume e sinaliza o que de mais grave e abusador existiu no consulado
daquele) houve algumas situações que foram então exploradas por certos media.
Assim de repente e numa consulta rápida aos arquivos do Google pode ler-se no Diário de Notícias de 29.10.2008, isto que agora se aparenta ao assunto em questão:
Paul Rangel , líder parlamentar do PSD, fez ontem "um
apelo ao primeiro-ministro" para que este explique o relato feito pelo
Expresso do último sábado, em que se dava conta de que José Sócrates ligou ao
director do Diário Económico tentando desmentir a manchete daquele jornal que
referia as alterações das regras de financiamento partidário introduzidas pela
proposta de Orçamento para , em fase posterior, vir a admitir que o jornal
tinha razão.
"Acho descabido e disfuncional que numa democracia um
primeiro-ministro ligue ao director de um jornal num caso deste tipo",
frisou Paulo Rangel , adiantando que existem sintomas "de diminuição da
própria liberdade de imprensa". O líder dos deputados laranja considerou
que o facto do caso ter passado sem qualquer reacção "demonstra como este
tipo de comportamentos do PM está entranhado na sociedade portuguesa".
Paulo Rangel questiona mesmo "em que país da Europa um primeiro-ministro
telefona para um director directamente quando sai uma notícia
desagradável?".
Sobre o mesmo indivíduo que governou o país durante seis anos, exauriu as finanças públicas com políticas desastrosas e provavelmente criminosas em alguns assuntos e se ausentou para Paris estudar algo que não existia no sítio para onde foi ( Filosofia, na Sciences Po) ainda em 4.3.2010, o mesmo D.N. dava conta de que o mesmo indivíduo que está a viver de rendimentos e o Público nunca se importou com tal, se fartou de pressionar gente através do telefone para conseguir alterar a linha editorial da TVI com a jornalista Manuela Moura Guedes. Segundo a mesma, até o rei de Espanha pressionou por causa da Prisa. E o Público fez orelhas moucas a tais pressões denunciadas.
José Sócrates era o governante que o Público preferia. Passos Coelho não é. É simples de entender isto e o que vale um jornal em termos de isenção, independência e rigor objectivo nas notícias que publica. É essa. aliás, a verdadeira questão de fundo que tem agora Miguel Relvas como alvo. Tudo chega para lhe "chegar". Ao outro nada chegava porque tudo lhe era permitido. Porca miseria, como dizem os italianos...
Sobre outras pressões, ainda mais inadmissíveis, rebuscadas e vergonhosas, o historial dos dirigentes partidários, mormente no caso, os do PS e na altura mesmo de um governante ( António Costa) é muito fértil.
Este exemplo que na altura ficou em águas de bacalhau, tal como o jornalismo que por cá se pratica, é muito revelador:
Lisboa, manhã do dia 21 de Maio de 2003, dia da Prisão do
deputado Paulo Pedroso.
Já fiz o contacto.
Vou falar imediatamente com o procurador, o Guerra. O único receio que tenho é
que a coisa já esteja na mão do juiz. Talvez seja altura do teu irmão procurar
o Guerra
Dr. António Costa
(Ministro da Administração Interna) em conversa com o deputado Paulo Pedroso
[TSF]
Ainda bem que o Google não é controlado por esta gente. Se o fosse há muito que estes registos tinham sido apagados, porque como dizia outro notável , Jorge Coelho, que nunca fez telefonemas destes enquanto foi governante e depois de sair integrou os quadros de aministração de uma empresa de regime privado, " a memórias das pessoas é muito curta".
Tal como a vergonha desta gente.
Tal como diz um comentador no postal que antecede, nenhum jornal de hoje se refere ao escândalo que envolve a sonegação de dados essenciais, ao tribunal de Contas, pelo anterior governo a propósito das PPP.
Nem essa sonegação nem muito menos a outra que ocorreu no interior do próprio tribunal de Contas, da responsabilidade do seu presidente que impediu a publicação desse relatório antes das eleições.
Isto é uma pouca- vergonha e um escândalo e andam agora a ampliar o telefonema do Relvas que assumindo importância cobre aquela por ser mais conveniente...
Tal como a vergonha desta gente.
Tal como diz um comentador no postal que antecede, nenhum jornal de hoje se refere ao escândalo que envolve a sonegação de dados essenciais, ao tribunal de Contas, pelo anterior governo a propósito das PPP.
Nem essa sonegação nem muito menos a outra que ocorreu no interior do próprio tribunal de Contas, da responsabilidade do seu presidente que impediu a publicação desse relatório antes das eleições.
Isto é uma pouca- vergonha e um escândalo e andam agora a ampliar o telefonema do Relvas que assumindo importância cobre aquela por ser mais conveniente...