domingo, maio 18, 2014
As viagens do presidente da República e a despesa pública
Este artigo de Vasco Pulido Valente no Público de hoje coloca uma tecla numa ferida purulentamente democrática: a despesa que os nossos representantes máximos fazem a título de viagens ao estrangeiro longínquo para "promover o país", particularmente os presidentes da República.
As viagens de Mário Soares são lenda. As de Ramalho Eanes também não pecavam pelo síndroma salazarista do fastio em andar de avião em passeata pelo mundo. Salazar tinha uma ideia bem precisa do interesse nacional: senso comum, poupar, amealhar ouro e tornar Portugal um país orgulhoso dos seus feitos e realizações. Um dia muitos lhe farão a justiça que hoje lhe negam.
Sampaio presidente foi outro a tirar a barriga de misérias viajantes. Não ficou atrás de Soares, apesar de não se alardear no dorso de tartarugas das Seychelles.
E agora Cavaco. Ou, suspeita-se, Cavaco e a mulher Maria. Seria interessante saber quem define o calendário das passeatas pelo mundo fora.
O que VPV escreve é claro e de senso comum: estas viagens de Estadão são meras passeatas turísticas pagas pelo erário público e a coberto de um putativo interesse público que eventualmente pouco trazem ao país. Estes presidentes da República aproveitam a oportunidade para conhecer o mundo. Por eles mesmos nunca o poderiam fazer, com a comitiva que levam. O que é que o mundo pensará deles, realmente? Por exemplo, a Merkel alemã? Ou até os latinos da Itália e Espanha?
É demagogia falar nisto? Não: é apenas reconhecer a suprema parolice e a supina irrelevância pública destas despesas que as três bancarrotas nunca evitaram.
De Mário Soares, um pelintra antes do 25, em chegado a presidente da República, nas "presidências abertas", fazia trazer de Lisboa quadros pessoais e ambiente caseiro a que estava habituado para colocar nos sítios por onde passava e dormia. Tipo monarca antigo de uma aristocracia bastarda.
Por outro lado, no Estado há inúmeros casos destes: desde os congressos universitários para apresentar "papers" que permitem a muito professor de universidade conhecer mundos, até aos autarcas que se geminam com cidades estrangeiras para trocar galhardetes. Pelo meio, uma miríade de funcionários superiores, todos com justificadíssimas razões para onerar o orçamento do Estado em passeatas programadas.
Os governos, nos orçamentos, nunca regateiam estas prebendas em espécie e esta miséria de terceiro-mundo.
Até quando esta pouca-vergonha? Até à próxima bancarrota?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)